ARQUIVO PÚBLICO DO PIAUÍ, QUEM SE IMPORTA?

Na esquina da rua Rui Barbosa com Coelho Rodrigues um casarão antigo guarda preciosidades da história do Piauí e do Brasil. A casa Anísio Brito ou Arquivo Público do Piauí, como é mais conhecido, é o manancial onde bebem pesquisadores e estudiosos de nossa história, sendo, que parte significativa dessas pesquisas são transformadas em livros. A real importância desse templo sagrado de nossa cultura, poucos são os que conseguem aquilatar. Somente alguns devotados funcionários que se dedicaram e se dedicam de forma amorosa àquela casa, sabem da extraordinária extensão dessa jazida de ouro que Teresina guarda ali pelas imediações da praça da Bandeira.

Umas das raras edificações em estilo art-déco, -que teve seu auge nos anos 20 e 30 do século XX-, A casa Anísio Brito foi uma das poucas que resistiu ao assomo avassalador do crescimento da cidade e recebeu esse nome em homenagem ao pesquisador que organizou o Arquivo, o Museu e a Biblioteca do Estado.

Embora aparentemente intacta e conservada, mantendo-se imperturbável ao burburinho do mundo contemporâneo, a casa Anísio Brito sofre em suas entranhas a ação do tempo, materializada em goteiras, infiltrações, e comprometimento severo das instalações elétricas e hidráulicas. Além de tudo isso, o fato de está situada em um local cuja vizinhança é formada por outros imóveis antigos e mal conservados, torna a situação da casa muito mais delicada, uma vez que parte considerável de seu acervo é formada por documentos, livros e jornais antigos, sendo que a mesma não dispõe de um sistema contra incêndios e sequer tem extintores em suas dependências, o que significa dizer que parte desse acervo ou a sua totalidade corre um grande perigo.

Já faz tempo que os meios de comunicação do estado, alimentados por informações emanadas da imprensa oficial, dão conta da reforma do Arquivo Público e da digitalização de parte de seu acervo, sem que tenha acontecido, ou sequer iniciado uma coisa ou outra. Os apreciadores da arte da simulação chegaram ao cúmulo de organizar no pátio interno daquela casa um pomposo evento que contou com a presença do Governador do Estado, à época, senhor Wellington Dias, tendo como convidado especial o então prefeito da capital, Silvio Mendes, oportunidade em que a presidente da Fundação Cultural do Estado, Senhora Sônia Terra, bradou aos quatro ventos o início da digitalização do acervo do Arquivo, assegurando também, que a verba para sua reforma já estava garantida. Hoje, o que há de concreto mesmo no Arquivo Público do Estado do Piauí é a situação deplorável em que ele se encontra. Muitos dos documentos estão se perdendo, e até a integridade física dos funcionários que ali trabalham corre perigo, prova disso, é que recentemente uma pesada placa de gesso se desprendeu do teto da sala de pesquisas, felizmente, em um final de semana quando o prédio se achava fechado. O assunto mereceu destaque em uma TV local, que na oportunidade entrevistou um pesquisador do Estado do Rio Grande do Sul que se achava na cidade. O entrevistado lamentou o descaso das autoridades do Estado com esse rico e importante patrimônio cultural. Diante do ocorrido, alguns chegaram a pensar que algo seria feito, e foi. Fecharam a sala, e deslocaram os pesquisadores para uma outra, com pouco espaço, onde os poucos atendentes têm que se esgueirarem entre cadeiras, mesas e estantes de aço para cumprirem o ofício de bem atender.

Enquanto tudo isso vai acontecendo e os problemas do Arquivo Público vão se avolumando, não se ouve nenhuma voz de trovão emanada do meio acadêmico, dos círculos literários, pedindo providências. Tudo é silêncio. E o velho casarão, como um animal antigo e resignado vai atravessando os dias, mas eu sei, e como sei, que ele está ferido de morte.

P.S – Depois de ter escrito este texto, em meados de maio de 2011, um jornal de Teresina tratou do assunto em uma página inteira do seu caderno de cultura. Resolvi não publicar o escrito e aguardar, mas tudo se transformou em um grande silêncio até que na terça-feira (21/07) um senhor, que atende pelo nome de Luter Gonçalves espontaneamente se apresentou a alguns funcionários da casa informando que era o novo diretor. Pesquisando, descobri que Luter Gonçalves que na verdade se chama Luterwalzio Lima Gonçalves é filiado ao partido dos trabalhadores e ex-vereador da cidade de Matias Olimpio. Reside em Teresina e tem apenas o ensino médio. A indicação para o cargo, em matéria estampada no portal “omatiense” foi dos Deputados Jesus Rodrigues e Merlong Solano, tendo o aval do Senador Wellington Dias e do Dep. Fabio Novo. Triste Piauí, Triste Teresina, Triste Arquivo público. Esta talvez seja a pá de cal derradeira.