REMENISCÊNCIAS "Livro"

Reminiscências

Alci Santos Vivas Amado

Agradeço a Deus

À minha família

Aos amigos e

Às pessoas que

Edificaram a história

de nossa região.

Sumário

Prefácio........................................................

Aparência Enganosa......................................

Emancipação política .....................................

Heroína São Pedrense ....................................

São Pedro do Itabapoana ...............................

Mimoso do Sul ................................................

Mimoso contemporâneo .................................

Conceição de Muqui .........................................

Dona América .................................................

Ponte do Itabapoana .........................................

São José das Torres .........................................

Santo Antônio do Muqui ...................................

Fazenda Santa Cruz,

Santo Antônio do Muqui ...................................

Os Gêmeos ...................................................

É preciso dizer adeus .....................................

Solidão a dois ...............................................

Vidas paralelas .............................................

Vou te dizer adeus ...........................................

O velho e o idoso ...........................................

Independência X comemoração ......................

Amaré humano ...............................................

Por quê? .......................................................

Quinto mandamento ........................................

Volte para mim ..............................................

Que panos são esses? .....................................

Natal diferente ..............................................

Biografia ....................................................

Prefácio

"Eu sou eu e minha circustância,

e se não salvo a ela, não me salvo a mim."

Ortega Y Gasset

"Reminiscências" é um legado histórico-poético,

Nesta obra, em prosa e poesia, o autor nos con-

templa com uma aprazível jornada através da história

de sua região, contada por pessoas que vivenciaram os

importantes movimentos políticos, sociais e culturais. Em

seguida, compartilha momentos de lirismo, através de

seus inspirados versos.

Além de escritor, poeta, historiador. Alci é um cidadão que tem congênita ligação com toda narrativa. Ele

é filho da terra, comprometido com a sociedade, trabalha em prol do bem e do melhor. Entende que viver é também se importar com o entorno, o mundo, a circunstância.

Naturalidade, realismo e clareza comunicativa são

Caracteristíca da poesia do autor, que habilmente des-

perta a curiosidade e o interesse do leitor ao conteúdo

apresentado, bem como ao local onde se desenrolam os

fatos.

Alci Santos Vivas Amado com "Reminiscências" de-

dica uma nobre homenagem à história e seus personagens,

ao passado e ao presente de Mimoso do Sul e seus Distritos.

A poesia envolve a história, com beleza e originalidade,

Parabéns, Alci, pela genial iniciativa e relevante obra literária.

Sucesso!

Denise Barros

Teóloga, professora e escritora

Aparência Enganosa

Ao narramos alguns fatos sobre a história, de

tantas contradições, da nossa terra natal - Mimoso do

Sul, ES - é necessário buscarmos o protagonista Getúlio

Vargas, que no desfecho dos acontecimentos locais só

serviu de bode expiatório, pois não sabia das intrigas en-

tre "O ninho das corujas" (São Pedro do Itabapoana) e

"O curral dos cabritos" (Mimoso do Sul), onde aconteceu

o "roubo da comarca".

Relembrando a história... Conta-se que Getúlio foi um homem de grande ressentimento, rancores e frustrações. Foi um dos lideres revolucionários e futuro presidente. Em 3 de outubro de 1930, no período da tarde, em Porto Alegre, iniciou-se a Revolução de 1930, com a tomada do quartel general da 3ª Região Militar. Ataque esse comandando por Osvaldo Aranha e Flores da Cunha.

As tropas revolucionárias avançavam por todo o país e Getúlio aguardava os acontecimentos, instalado em Curitiba. Em 24 de outubro, antes que ocorresse a Batalha de Itararé, Washington Luiz foi deposto através de um golpe militar e foi formada uma junta Militar Provisória. No mesmo dia, um revolucionário foi enviado ao Rio de Janeiro para negociar a entrega do poder a Getúlio Vargas. A Junta Militar Provisória governou o Brasil até passar o governo a Getúlio, em 3 de novembro de 1930, no Palácio do Catete-RJ, encerrando a chamada República Velha. Washington Luiz foi deposto apenas 22 dias Antes do término do mandato presidencial, que se encerraria em 15 de novembro de 1930, quando passaria o cargo para Julio Prestes (o que não aconteceu). Getúlio tornou-se Chefe do Governo Provisório com amplos poderes e governou atravéss de decretos, que tinham força de lei. No dia 11 de novembro de 1930 foi baixado o decreto nº 19.398 que instituiu e regulamentou o funcionamento do Governo Provisório. Dentre os atos, a dissolução do Congresso Nacional do Brasil, dos Congressos Estaduais e das Câmaras Municipais. E a autorização para Getúlio nomear e exonerar, a seu livre critério, interventores para os Governos Estaduais, na maioria tenentes que participaram da Revolução de 1930.*

Retornando à nossa história... A primeira reflexão: Se Getúlio assumiu verdadeiramente o poder no dia 11 de novembro, como pode ter seu nome relacionado à derrubada da cidade de São Pedro? Que se deu em 02 de novembro de 1930, segundo conta-se, com uma caravana constituída por treze caminhões e soldados que traziam consigo um lenço vermelho no pescoço, demonstrando a Era Getulista.

Havia uma crise financeira desde 1929. Os fazendeiros enfrentavam problemas, sentiam-se lesados com a queda do preço do café, estavam endividados pelas hipotecas das plantações e, além disso, havia o custo da manutenção dos estoques de grãos, nos armazéns governamentais. Durante o Governo Provisório, foram intensas as disputas políticas e houve em São Paulo a Revolução Constitucionalista de 32. Getúlio se manteve, e no dia seguinte à promulgação da nova constituição, em 17 de julho de 1934, ocorreu uma eleição indireta para a presidência; o Congresso Nacional elegeu Getúlio Vargas como Presidente da República. Em 10 de novembro de 1937, através de um golpe de estado, Getúlio instituiu o Estado Novo e uma nova constituição. Vários autores citam o cerceamento dos direitos e garantias individuais durante o Estado Novo, questão exposta assim por Getúlio, em São Paulo, em 23 de julho de 1938; "O Estado Novo não reconhece direitos de indivíduos contra a coletividade. Os indivíduos não têm direitos, têm deveres! Os direitos pertencem à coletividade! O Estado, sobrepondo-se à luta de interesses, garante os direitos da coletividade e faz cumprir os deveres para com ela".*"

O site "Opinião e Noticia", na ssérie A Era Vargas, também cita "A perseguição implacável do regime de Vargas a seus opositores (reais e imaginários), cujos métodos envolviam fartaamente o emprego da tortura, violência, deportação e assassinato, foi apenas uma das facetas, talvez a mais conhecida, desse período".

A partir desse momento, os comunistas e socialistas passaram a ser tratados como inimigos da nação, dos Estados, Municípios e Distritos. Inimigo do povo, e das liberdades públicas. As perseguições, prisões e o medo imperavam. Os antes amigos, agora se esquivavam, evitando encontros e diálogos. É nesse meio que surge a força da Fazenda Mimozo, com avanços em construções, estradas, armazéns de compra e venda de café e serrarias.

Vivia-se uma forte expansão na economia, que contava comum moderno transporte ferroviário, à época.

* fonte:http://pt.wiklpedia.org/wikl/Getúlio_Vargas

"VARGAS, Getúlio, A Nova politica do Brasil, volume 5, p.311. Livraria José Olímpio Editora, Rio de Janeiro, 1938

2ª Parte

Esta pesquisa teve a contribuição do Sr. Orestes Correia da Silva (Chochim), que cordialmente me concedeu uma entrevista. Fui recebido na residência de sua filha que com muita atenção e simpatia me levou até o quarto de seu pai e acompanhou nossa conversa. Após os cumprimentos, sentei-me na cadeira já a mim reservada e iniciei perguntando nome e local de nascimento. Chochim também sentou-se, na cama, me olhou fixamente e com uma voz fraca, mas convincente, disse,

- Temos cada um a nossa história. - E de imediato me ofereceu um suco ou água, ao que agradeci e aceitei para depois da entrevista. E ele respondeu, - Nasci em Conceição de Muqui, terra muito fria. No papel eu nasci em 1930, mas na realidade tenho 104 anos.

- Mas como? - perguntei-lhe, curioso.

Chochim ajeitou o corpo, numa posição mais confortável e continuou. - Naquela época os pais não se preocupavam com os documentos e só providenciavam se fosse preciso. No início do ano de 1930, eu fui à cidade de São Pedro do Itabapoana. Não sei o porquê, mas o dono do cartório colocou como a data de meu nascimento o dia em que eu estive no cartório, isto é 24/03/1930. Só fui conferir o documento quando todo alegre cheguei em casa dizendo, agora já posso casar. Eu tinha talvez uns 18 anos na época. E o tempo foi passando. Nunca fui questionado sobre o fato e deixei correr.

Confesso que fiquei surpreso com a data e informação. A filha delicadamente confirmou sua história. Chochim não aparentava 104 anos de idade, estava muito lúcido. Perguntei-lhe quando havia chegado e se estabelecido em Mimoso. Ele pediu à filha que fosse pegar alguns documentos num outro cômodo e relatou.

- Cheguei a Mimoso com quase 20 anos, não havia muitos caminhos. Logo comecei a trabalhar nas serrarias. Naquela época, Mimoso já registrava 12 grandes cortadoras de madeiras, e também armazéns de compra e venda de café. Fui trabalhar na madeireira por que o salário era melhor, posso citar: Da família Motta. O meu segundo emprego foi numa firma do Rio de Janeiro, que prestava serviços, aqui em Mimoso, na manutenção das linhas férreas. Após anos é que fui para o armazém de compradores de café, Teodoro Calil. Onde trabalhei por seis anos e cinco meses. O café vinha da zona rural em tropas de burros, ou carros de boi.Quando chegava, a sacaria era carregada por nós, sacos de 60 quilos cada, nas costas. Os empregados às vezes levavam para o armazém, outras vezes já iam direto para os vagões do trem. Recordo-me de três compradores de café: família Rocha, Marcelino Martins, e se a memoria não me falha, os irmãos Achas. O meu último trabalho foi na Prefeitura Municipal de Mimoso do Sul. Iniciei no dia 01/12/1966.

Aproveitei a pausa e fiz uma pergunta a Chochim, para sanar uma dúvida. - O senhor disse que haviam 12 serrarias em Mimoso, para onde ia tanta madeira?

- Eram agrupadas e transportadas para o Rio de Janeiro nos trens de cargas.

Continuei a entrevista. - Quando ainda morava em Conceição de Muqui, houve algum fato interessante que queira relatar?

- Eu estava com oito anos, e meu pai contou-nos que o Sr. Prudêncio Arrabal Fernandes havia comprado de Honório Lopes da Rocha um sítio de 12 alqueires de terra, próximo à Vila de Santo Antonio do Muqui, denominado sítio "Água Limpa". Estávamos em 1916, e nessa mesma data nasceu um menino robusto que recebeu o nome de José Arrabal Fernandes, que bem mais tarde tornaria-se Médico.

Chochim tinha uma memória fantástica e 104 anos de vida, admirável! Juntos, recordamos o inicio da história... Em 1852 por iniciativa de Manoel Joaquim Pereira, surgiu o povoado de São Pedro de Itabapoana localizado no município de Cachoeiro de Itapemirim. E uns 6 anos depois pelo Capitão Ferreira da Silva o povoado de Mimoso na Fazenda Mimozo (João Pessoa).* Elevados à categoria de distritos, o crescimento da região motivou mudanças administrativas. E desde 1926 já havia rumores de políticos mimosenses da transferência da Sede do município de São Pedro do Itabapoana para a fazenda Mimozo; que ia desenvolvendo todo o seu potencial.

*fonte; http://.cltybrazil.combr/es/mimososul/ história-da-cidade

3ª Parte

São Pedro tem um relevo acidentado e poucas terras planas, no início seu crescimento econômico foi lento, e os fatos decorrentes das desavenças políticas foram acontecendo. Principalmente os assaltos, que aliás marcaram a história da região,

marcaram a história da região, planejados por homens da alta administração de Mimoso. Podemos citar vários nomes que tiveram a coragem de armar emboscadas políticas, e existem evidências que foi ele que mandou invadir São Pedro e furtar toda a sua história para João Pessoa: Ele era um homem inteligente, nasceu em 20 de fevereiro de l888, em São Lucas, município de São Fidélis, Estado do Rio. Desde que assumiu cargo em poder construiu várias obras de caridade, pelas suas iniciativas granjeou amizade entre todas as classes sociais mimosenses: Coronel Gamboa. Quem poderá esquecê-lo? Era um autêntico politico, e quando falava "tava falado". Ele era uma bússola, através da qual todos se guiavam, principalmente submissos eleitores. Coronel Gamboa, dono de uma linda fazenda na periferia da cidade. Voz tonitruante. Entrava pela casa de Dona Joana: "Vim tomar seu café"! E a ama dizia: "Pués ne, Corone, ahora mismo".

- E quando trouxeram para Mimoso os documentos e todos os arquivos, onde foram colocados?

Chochim passou a mão direita sobre a cabeça e respondeu. - Havia um prédio velho, que foi o grande Hotel Amorim. Deram-lhe um retoque e foi vendido para a municipalidade com preço superfaturado. Nascia assim a comarca de João Pessoa e mais tarde, Mimoso do Sul.

- Para finalizar nossa entrevista, conta-me sobre as personalidades mimosenses que conheceu - pedi a Chochim, que de pronto me atendeu.

- Coronel Natinho, usava uma barbicha que lhe dava uma aparência mefistofélica. Prudêncio Arrabal, pai do grande médico e insigne escritor José Arrabal Fernandes que, com o seu livro "Gonçalo pé de mesa", ficou registrado entre os maiores escritores regionalistas brasileiros. Capitão Ascânio Fernandes, era um cidadão respeitável e que não dispensava o uso do colarinho de ponta virada, normalmente nos dias de festas cívicas da cidade.

Valdemar Garcia de Freitas, grande amigo inseparável do Coronel Gamboa.Grande Professor, Luiz Carlos Pires... Estou me esquecendo, eu era criança, morava ainda em Conceição, Meu pai falou que havia um Dr, das terras, o Barão, ele tinha mais do que 45 propriedades rurais registradas em seu nome, era o rei do café, Dr. José Ribeiro Monteiro da Silva, registro outros: Kafuri, amigos de todos! Proprietário de uma grande loja, que até os nossos dias é apresentada à cidade, trazida pela tradicionalidade. Ainda posso citar nomes que foram grandes amigos de seu pai: Antonio Gabriel Minassa, Alvaro Nassur, Elias Assad, Michel Cheibub, José Nicolau, Waldir Pires, Dr. Lincoln Martins, um prefeito que a morte levou tão prematuramente. "Casas Franklem" e "Arca de Noé' que faziam parceria com Alcebíades Lopes Amado, seu pai, levava para Santo Antonio do Muqui o cinema. Os filmes eram passados no casarão de cultura, onde estão guardadas as figuras folclóricas das Pastorinhas e da Folia do Boi. São dezenas e dezenas de armações do maior celeiro folclórico de Mimoso do Sul. Há ainda o Dr. José Nicodemos Cysne. Contavam-se coisas pitorescas a seu respeito. Guardo bem nítido, na memória, tê-lo visto certa vez, num dia de bastante chuva, descalço e calça arregaçadas puxando um boi por uma corda, pelas ruas da cidade. Como médico era um grande e incompreendido filósofo. Ao vê-lo ainda perguntei:"Quer ajuda Doutor?" e ele respondeu: "Esse boi Mimozo só me da dor de cabeça, pula a cerca e vai lá para o lado do garimpo. Só não acabo com ele porque é um boi jeitoso e seu nome vai ser respeitado para sempre". Não entendi, falei comigo mesmo, será que o doutor tá ficando louco? E as ruas continuavam a encher com as águas da chuva. É, como chovia... E o doutor seguiu puxando o boi Mimozo, que nessas alturas já estava desatolado. e por último o Evaldo Ribeiro de Castro, íntegro alfaiate, ele que confeccionava as calças de seu pai, com bocas muito largas a pedido do próprio.

4ª Parte

Todos esses ilustres citados e outros nomes que poderão aparecer no decorrer desta história, foram contados por outros amigos.

No final de outubro chegaram em Mimoso do Sul três caminhões pequenos. A cidade sabia que eles iam chegar, vindos do Tiro de Guerra de Cachoeiro de Itapemirim. Descreveu o escritor José Arrabal Fernandes, em seu livro "Mãos de Médico'.

Os três caminhões passaram por mim, a minha mãe que havia visto pela janela, soldados deitados no assoalho da carroceria, apontando fuzis; apavorada e aflita, começou a gritar: - José, Nego, Joaquim Sete arrobas (eram meus amigos de primário), façam favor, vem para dentro! - Éramos adolescentes e brincávamos na Rua da Serra. Curiosos, saímos observando o que poeria acontecer.

Os três caminhões pararam junto à estação da Leopoldina, onde também foram instaladas as barracas, tipo quartel general. O Agente de Correios e Telégrafos, Sr. Antonio Batista Correia (casado, cinco filhos), que ali trabalhava, pensou: "Detesto confusão". Antonio Felipe, o padeiro, foi na casa comercial do Sr. Antonio Acha, e lá chegando ouviu de Arnaldo Boca de Gamela que discursava sem parar, a seguinte conversa: "Na casa Luiz XV, fiquei sabendo que estavam planejando uma visita á cidade de São Pedro. Quem dava a ordem juntamente com um tenente do Tiro de Guerra de Cachoeiro de Itapemirim era o Coronel Gamboa". Eles iam aproveitar a instrução de guerra e invadir São Pedro, para trazer à Mimoso (João Pessoa), toda a documentação e arquivos do então distrito.

João Pessoa deveria se tornar a cidade sede, pois já se apresentava mais desenvolvida. Contudo, havia poucos soldados e somente três caminhões. Dando prosseguimento, o filho do comerciante Antão Ferreira, que desejava o crescimento numerário para Mimoso (João Pessoa), recrutou os empregados das lavouras. Em quatro dias formou um batalhão, recrutas rudes e simplórios, que sequer conseguiam marchar. Todos atrapalhados e envergonhados, foi uma encrenca danada. Um empregado da loja "Antonio Acha", teve uma ideia brilhante. Amarrou embira no pé esquerdo dos recrutas e dava as ordens da marcha gritando: "Pé amarrado! Pé sem amarrar! Pé com embira! Pé sem embira"" Com dois dias conseguiu treinar o pelotão. Os recrutas estavam prontos.Restava aguardar os dez caminhões que viriam das fazendas adjacentes de Mimoso (João Pessoa).

5ª Parte No dia 02 de novembro de 1930, às 6 horas chegaram à praça os dez carros que se juntaram aos outros três. Os novos recrutas se misturaram aos soldados. Todos tinham adornado o pescoço, um quadrado de pano vermelho dobrado ao meio, feito lenço. Se estavam todos fardados, não temos registro, pois a situação era muito tensa para se notar tamanha barbaridade emocional. O comboio partiu ao destino.

Os treze caminhões invadiram São Pedro do Itabapoana, parecia a revolução, os soldados entraram na Sede Administrativa do Distrito e roubaram todos os arquivos com documentos. Era Finados, dia de reverenciar os mortos, e os São Pedrenses já se preparavam para ir à Missa às 9 horas e ao cemitério.

- Fomos pegos de surpresa, parece que tudo foi planejado - Onde estavam os soldados do 390, Tiro de Guerra de São Pedro? - disse o Senhor José Calil.

- Até o livro de tombo foi levado, arrancado das mãos de uma São Pedrense, uma mulher! Uma covardia. - exclamou o Senhor Manoel Pires.

Os soldados armados até os dentes, pura guerra, não de sangue, mas para colocar medo! O material que não podia ser levado foi quebrado. Destruíram as salas administrativas. O povo assistia a tudo, hipnotizado, sem nenhuma reação. Uma mulher corajosa, Rosinha Caroli, que de suas mãos foram arrancados os livros que ela ia tentar esconder.

- Disse Nilza Caroli: - Minha irmã! Subiu até a torre da Igreja e começou a tocar o sino; em sinal de socorro. Na missa era o momento do ato penitencial, mas o sino como resposta ficou mudo.Seu som não era mais vibrante, parece que havia rachado.

Nenhuma explicação, nem mesmo qualquer autoridade para informar o porquê da vinda dos soldados e caminhões, que pareciam ser do exército. Após o saque, os "Cabritos" foram embora.

A professora Rosinha, que tocara o sino na Igreja, inconformada com a invasão, iniciou um movimento para neutralizar a atitude dos vizinhos revolucionários. Enviou mensagens para os conhecidos marcando data e hora para uma reunião, na qual discutiriam o ocorrido.

Depoimento de Nilza Caroli.

"Rosa Caroli, querida e admirada na cidade. Eu sendo sua irmã, mais nova, fui ajudá-la, subscritando os envelopes, lembro de alguns nomes: Dr. Cabral e Virginia sua esposa; Dr. Gilberto, do Rio de Janeiro, radicado e amigo de São Pedro; Sr. Temistocles Francisco; Mario Figueira e esposa; Senhor Constante Vivas, coletor e esposa; Sr. Marcio Braga de Cachoeiro de Itapemirim e sua esposa, radicada em São Pedro e que adoravam a cidade (tinham seis filhos, que haviam sido alunos de José Santinho Batista), professor Elpidio; fazendeiro, Breno Castanheiro; farmacêutico, João Mauricio; Padre José, muito brigão em favor do bem comum, Juninho Silveira; Constantino Vivas e tantas outras pessoas, que não me recordo mais. Mamãe também estava lá nos apoiando. Fomos para a municipalidade ver os estragos feitos, o edifício tão bonito estava todo danificado. Dias após, houve a reunião dirigida por Rosa Caroli. Foi formada uma comissão composta por Grinalso Medina, (escreveu o livro São Pedro do Itabapoana), Mario Caroli, Jamil Mileipe que iria para a cidade de Vitória tratar do desmembramento de São Pedro e do recém-criado município de João Pessoa (Mimoso do Sul), que nós chamávamos de "Curral dos Cabritos" e éramos chamados por eles de "Ninho das Corujas". Mario Caroli elaborou o recurso para ser entregue ao interventor e a resposta que recebeu do "infeliz" foi: "O que está feito, está feito".

Não desistiram e continuaram a reivindicar o restabelecimento do Município de São Pedro do Itabapoana. Em 1945 um projeto de Lei foi aprovado pela Assembleia Federativa do Estado, mas o maldito interventor, já agora governador não sancionou. Notou-se que devido à pressa dos "cabritos" quando do saque, foram deixados na Câmara de São Pedro, no Clube nobre da Câmara Municipal os lindos lustres de cristais, importados da França, que eram um orgulho para o povo São Pedrense.Rosa Caroli novamente convocou todos os moradores de São Pedro e falou-lhes da necessidade de reagir. Disse ela: "Se nos armarmos para enfrentar os jagunços de Mimoso do Sul..." Mas os homens de São Pedro se a acovardaram e não quiseram tomar parte. Rosa Caroli se voltou para as mulheres, e muitas brigas houve entre maridos e esposas. Mas a professora não desistiu e lançou o grito: "Mulheres de São Pedro se nossos maridos são covardes e se escondem em baixo das camas, vamos nós tomarmos a defesa de nossa cidade. Vamos nos armar com as armas que encontrarmos e defender a nossa terra!" Então as mulheres juntaram armas, nessas alturas já possuíam em suas casas: bazucas, espingardas, revólveres, facão, machado, porrete, enfim todo o tipo de objeto que pudesse causar contusão. Os maridos ficaram assustados, mas nunca haviam visto mulheres tão valentes. A mãe que viera da Itália ainda não naturalizada, estremecia, mas ajudava, apoiava e incentivava o movimento. Certo dia, não demorou muito, o movimento soube que os "cabritos" voltariam para buscar os lustres de cristais; comentou Rosa: "Para que eles querem aquela rara beleza?" Pois o povo de Mimoso era considerado burro, sem sensibilidade, não tinha capacidade intelectual, nem cultural para saber apreciar os belos e imponentes lustres de cristais franceses. Rosa Caroli colocou olheiros, espiões na estrada de São Pedro, havia somente uma entrada para a cidade. Quando avistaram a tropa dos "cabritos" informaram-na, imediatamente. E as crianças, que admiraram e se divertiam com o movimento, foram de casa em casa chamar a mulherada. Os homens não apareceram, exceto alguns realmente interessados:

Padre José, João Mamão, Antonio e João Silveira. Da ladeira desciam as "bravas e valentes mulheres", Anita Garibaldi, cada uma empunhando uma arma. Rosa Caroli estava esperando, com a sua mãe e mais algumas mulheres. Caminhavam ladeira abaixo até a entrada da cidade. estrada, somente uma pista de largura. Mulheres, crianças e pouquíssimos homens, todos coordenados por Rosa, formaram uma barreira deitando-se no chão.

Chegaram! Pararam! Um caminhão e um Jipe. O capitão desceu e ordenou que os carros passassem, pois tinha com ele uma ordem para retirar de São Pedro os objetos que haviam ficado. Rosa levantou, deu um passo à frente, dirigiu-se ao oficial e questionou sobre a ordem de apreensão, - Onde está tal ordem? - O Capitão respondeu que trazia a ordem verbal, e ela lhe disse.

- O Senhor deverá retornar porque não vamos deixar entrar na cidade, e hoje não levará nada daqui.

O Capitão mais uma vez, com o intuito de intimidar aquelas mulheres fez um sinal aos soldados para que eles descessem da viatura. Rosa percebeu o sinal, e também fez outro para as mulheres e as crianças, fecharem o cerco; e dirigiu-se ao capitão, - - Se o senhor quiser avançar, poderá fazê-lo, passando por cima de nossos corpos. Vamos capitão, dê ordem aos seus capangas.

O capitão ficou nervoso e ainda tentou convencer Rosa. - Mas Dona, eu preciso cumprir ordens.

- Cumpra-as, mas daqui não arredaremos.

Houve um minuto de silêncio! O que aconteceria?

Rosa observou que suas amigas estavam com medo, com expressão

de fugir do local; foi então mais audaciosa, encarou o capitão, empunhando um revólver que era de seu pai. Sua estratégia deu certo. Todos se animaram e se mantiveram firmes. O Capitão bateu continência, e deu as ordens aos recrutas.

- Vamos retornar! - Deu meia volta entrou no Jipe e partiram de volta para Mimoso.

Ficamos pasmas, as crianças pulavam de alegria,os poucos homens nos olharam com a cara de tacho e um deles disse: "Vocês não tem jeito mesmo". As mulheres comemoravam a vitória fazendo uma festa.

Depois desse episódio Rosa Caroli continuou sua batalha pela via diplomática. Enviou um telegrama ao interventor do Estado, pedindo reconsideração e atenção para aquela cidade que fora construída com os esforços de filhos fiéis à terra onde nasceram, e citou nomes de ilustres famílias; Tatajiba, Medina, Vivas, Caroli, Tavares, Balbino e muitos que lutavam com garra e ética para renascer uma cidade intelectual, São Pedro de Alcântara. Escreveu duas cartas para o Presidente Getúlio Vargas, as quais ele delicadamente respondeu, mas sem querer entrar em problema tão insignificante, aliás ele nada sabia sobre os acontecimentos locais. Escreveu também ao Sr. Oswaldo Aranha, companheiro de Getúlio, mas foi inútil, ele respondeu quase com as mesmas palavras. Para acalmar os ânimos, o interventor do Estado visitou São Pedro do Itabapoana, mas já veio com uma resposta, a recusa em atender as reivindicações dos habitantes de São Pedro.

Rosa voltou ao episódio dos belos lustres de cristais, para ela seria uma questão de honra impedir, pelo menos o furto daqueles objetos que representavam o esplendor de uma cidade decadente.

Teve uma ideia e só contou aos seus pais e ao Sr. Mario Braga, grande amigo seu, o plano secreto. Numa noite a cidade já adormecida, Rosa em companhia do amigo retiraram os lustres da Câmara, os embrulharam em jornais, acondicionaram em caixotes, e os levaram para a sua casa. Uma construção tipo enxaimel (madeira) comum no século XIX. eram lares de famílias tímidas, luzeiro de paz, "Sendo a terra amada e mais gentil" escreveu um poeta; Grinalson Francisco Medina.

A casa da família Caroli era muito comprida, tomava uma boa parte da rua, de um lado apresentava uma pequena elevação e do outro um belo jardim em toda sua extensão. A construção era apoiada sobre enormes vigas de madeira, e em baixo havia uma espécie de porão onde se armazenava a lenha para o fogão. Rosa e o amigo retiraram a lenha, colocaram os caixotes ee guardaram a lenha novamente. A execução do plano durou toda a madrugada, no entanto, os lustres estavam a salvo, bem escondidos.

Passaram-se alguns dias, enquanto isso Rosa continuava a se corresponder com pessoas de prestígio na cidade e no Estado, o Juiz de Direito, Advogados, a Secretária de Justiça, o Bispo de Vitória e a Madre superiora do colégio do Carmo, onde ela estudara; a Irmã tinha um carinho especial por Rosa e também pediu ajuda ao Sr. Punario Bley, o interventor do Estado. Contudo, o que não sabiam é que o caso das mulheres que impediram a entrada dos soldados já havia chegado ao conhecimento do interventor, e mais grave era o fato de serem lideradas por uma professora nomeada pelo Estado e a seu serviço. Isso era um caso de indisciplina. Punaro Bley enviou um oficio a Rosa, lembrando-lhe da ocorrência e ordenou-lhe que entregasse o seu cargo na municipalidade de Mimoso, e também que desse conta dos lustres que haviam sumido da Câmara. Se eles não fossem devolvidos ela seria castigada, perdendo a "cadeira", isto é, sendo demitida.

O sangue de Rosa ferveu diante de tamanha armação política, na qual ela fora envolvida. Imediatamente, sem pensar escreveu uma carta malcriada ao interventor, colocando em suas mãos a Escola e a nomeação, já que ela reprovava a grande armadilha praticada contra a cidade de São Pedro de Alcântara, por capatazes de Mimoso, e que não morreria de fome perdendo a escola. Ainda, que eles poderiam ter usado uma fórmula civilizada, ética, no assalto contra o povo de São Pedro.

Dois dias depois, ás 6 horas da manhã papai bateu na porta do quarto de Rosa, estava muito agitado.

- Levanta menina, venha ver o que você me arranjou, nossa casa está cercada de policiais.

Rosa levantou calmamente, lavou-se. Enquanto seu pai andava de um lado para outro, ia até o corredor, voltava arrancando os cabelos e falando, - Você não vê minha filha, eu sou italiano, ainda não sou erradicado, posso ser expulso agora mesmo.

Rosa apelava pela calma, não deixando sua apreensão transparecer, estava mais assustada pelos seus pais, e tentava acalmá-los, - Pai, Mãe, não vai acontecer nada, essas pessoas querem nos intimidar.

Foi até a porta da sala, abriu-a, e lá estava a tropa ao redor da casa e ela foi falar com o capitão. Ele bateu continência,

cumprimentando-a, logo percebeu que não estava na frente de uma frágil mulher, retirou do bolso um papel que trazia e lhe entregou. Rosa abriu e leu. Era uma autorização para que os soldados revistassem qualquer casa, com o objetivo de recolherem o que ficou para trás, e outros locais que também considerassem suspeitos, na antiga cidade. Enfim o que fosse necessário.

Voltando um pouco atrás! Logo que o pai disse que a casa estava cercada, Rosa pediu a irmã Nilza, que fosse correndo à casa do Sr. Marcio para contar-lhe o que está acontecendo. A menina saiu depressa pelos fundos, atravessou o jardim, pulou a cerca de arame farpado, passou na pinguela do riacho nos fundos da casa, lá não havia ainda policiais. Nilza, apesar de ser um pouco mais nova, fez tudo direitinho, e em poucos minutos o Sr. Marcio Braga estava na porta da casa. Rosa foi ao seu encontro, entregou-lhe o documento, virou-se para o oficial e disse. - A casa é toda tua, pode revistar.

O pai continuava nervoso e mordendo os lábios, a mãe corajosa não se intimidou perante os soldados, que se espalhavam por toda a casa... Revistaram tudo, chegando até a espécie de porão, no baldrame. Talvez por preguiça não remexeram o monte de lenha. Ainda bem! Por fim nada encontraram e retornaram para a Fazenda Mimoso. Mas os "cabritos" não desanimaram e começaram a ser mais agressivos. Funaro Bley, o interventor, enviou um outro ofício para Rosa, através de um Juiz, que por coincidência era bastante seu amigo e ele a convenceu entregar tudo que estivesse em seu poder. Acrescentando: "Essa gente é um trator". Ela concordou, mas pediu ao amigo Juiz que fosse portador de uma missiva para o interventor Bley. Nesse dossiê, Rosa manifestou sua revolta e desencanto com as justiças pregadas por um Governo que se intitulava libertador e democrático. Anexo, também devolvia ao Governador o cargo na escola, na qual fora nomeada pelos seus bons méritos, colocando-o à disposição para que ele o desse a quem se submetesse a tal política, suja e opressora. E terminava: "Vou, sim, sair de São Pedro de Alcântara, minha terra natal, com o propósito de aqui nunca mais voltar. Vou sair de cabeça erguida, tenho certeza, fechou-se esta porta, mas outras janelas para mim se abrirão".

A carta foi entregue e em resposta o senhor interventor tentou removê-la de sua decisão, sugerindo-lhe que continuasse na escola, pois ela tinha um bom nome na Secretaria de Educação, pelo número de aprovações de alunos todos os anos, o Estado não poderia perdê-la. Bem, Rosa nem respondeu. Arrumou as malas e foi para o Estado da Guanabara-RJ."

Um desabafo de sua irmã. - Eu era fã incondicional da mana, preferida por toda comunidade, inteligente, quando estudava era sempre a primeira aluna da classe, no colégio do Carmo em Vitória, era ela que escrevia e discursava com brilhantismo; falava o francês,

Italiano e o inglês, além de ótima professora bordava muito bem, pintava e tocava violino. São Pedro era uma cidade que cultivava a boa música, as letras, os textos poéticos, vários poetas e poetisas de nome: Maria Antonieta Tatajiba que foi a primeira mulher mimosense, do Espírito Santo a escrever um livro. A cidade apresentava bons ginásios, escolas particulares, além de três escolas da rede pública.As crianças tinham nas escolas as invenções de Rosa, os torneios de história do Brasil, de português, de matemática. Essas matérias despertavam nos alunos o desejo de estudar e receber boas notas.

Sua vizinha também comentou. - Eu me lembro que na escola de Rosa haviam dois grupos que se rivalizavam no estudo: Os tamoios e os Tupiniquins. A professora também era produtora de teatro, eu mesma cantei, declamei muito no palco, que era o único prédio que oferecia cinema e teatro grátis para o povo. Além disso, éramos conhecidos como uma cidade intelectual havia muitos jornalistas bons e jornais com matérias confiáveis: A Revolução, O Progresso, O Rebate, A Reforma, A Semana, A Luz, A Gaita, A Língua e outros muito interessantes também.

Rosa Caroli foi para o Rio, lutou valentemente e venceu em tudo que desejou e se relacionou. Foi brilhante e recebeu justas recompensas. Uma pena que ela não tenha escrito suas memórias e os "cabritos" tenham destruído toda a documentação histórica de São Pedro de Alcântara do Itabapoana.

O tempo passou, numa festividade da cidade na década de 80, mês de julho, o Prefeito a convidou para vir receber uma homenagem, como filha ausente da cidade e por tantos trabalhos dedicados ao povo mimosense. Não teve quem a animasse e a amparasse. Ela não veio. Houve a festa e quem recebeu em seu nome o referido certificado? E os lustres de cristais que ela cuidadosamente devolveu, onde estão?

6ª Parte

Cópia transcrita do Jornal da época. "Lendo o "Globo" de 24 de novembro de 1930 deparei-me com um oficio assinado pelo Sr. Octavio Gonçalves, interventor do Município de São Pedro do Itabapoana, no qual este senhor comunica ao referido jornal, pedindo a publicação, a mudança da Sede do Município, que é São Pedro do Itabapoana para Mimoso. Indignada com o editorial de mentiras, que servem de base ao tal oício, resolvi, com a necessária vênia do aludido diário, lançar o meu protesto, aliás, de todo o povo de minha terra, o desmentido formal após dizeres capciosos de quem o aciona. De uma vez para sempre repito bem alto: É mentira, é falso, que a Sede do Município tenha sido mudada por inspiração do valente major, Serôa da Matta, e ainda mais pela vontade do povo, como proclama o Sr. Octavio Ferreira!

Vejamos: Diz o comunicado que o major Serôa da Matta confraternizando com o povo teve a inspiração patriótica de mudar a Sede do Município, etc. etc... Mas poderá o Sr. Octavio informar a esse mesmo povo, quando, como e onde se deu essa confraternização? De que maneira, se o Major, nem esteve na Sede, que é São Pedro, nem se entendeu com representantes do Município, o qual se compõem de cinco distritos, e não apenas de Mimoso? Esse povo, de cuja vontade o Senhor interventor dispõe ao seu bel prazer, não foi informado disso. O que houve foi uma vendeta baixa poluída, da parte de Mimoso contra São Pedro, e nada mais. Nas mãos de meia dúzia de habitantes de Mimoso, não foi o Senhor interventor mais que um boneco de molas, um manequim sem ação, sem energia, prestando-se, portanto a tudo que ordenassem os seus verdadeiros Senhores, até o ponto de como vimos, servir-se do nome do brioso oficial que é Serôa da Matta, para espalhar aos quatro ventos esta formidável e bem forjada mentira.

Nossos "amáveis" vizinhos não poderiam escolher melhor ocasião para se entregarem à rapinagem, que o momento atual. Cobertos com a capa da revolução, esse movimento regenerado e cheio do mais acendrado patriotismo, que acaba de quebrar os grilhões de uma política baixa, imoral. Lançaram-se, esses abutres esfaimados e incoerentes, sobre a pacifica, terra São Pedrense, espoliando-lhe até o fundo numa sede mesquinha de desforra injusta. E a tudo se prestou o ilustre Senhor Octavio Ferreira. Não venha agora dizer que essa forma de ordem de Serôa da Matta, pois este nem disso sabia, e, quando um dos nossos lhe falou sobre o que estava passando, esse oficial admirou-se grandemente de tais medidas. A ordem que o Major dera isto é sabida por todos, foi centralizar o serviço de Mimoso, para que mais facilmente estivessem em comunicação com as tropas revoltadas. Mas para isso não era necessário virem buscar, furtar, roubar, assaltar todo o material pertencente à Prefeitura e a Câmara de São Pedro do Itabapoana. Isto é, do jeito que os leitores quiserem interpretar. E ainda mais se fosse a vontade da população que se fizesse a mudança, como diz o nosso "amigo" para que então se aproveitasse da confusão lançada pelo movimento revolucionário e vieram aqui justamente quando o povo São Pedrense estava em oração na Igreja reverenciando seus mortos, e os recrutas vieram de armas embaladas, quando poderiam aguardar calmamente que tudo se fizesse entre risos e festas? Se fosse essa a vontade da população, digo que razão havia para impingirem às nossas autoridades a série de humilhações por que passaram? Para que todo aquele aparato com que se revestiram? Bem definida, portanto, está a ação exercida contra São Pedro do Itabapoana mercê da incomunicabilidade em que nos nos encontrávamos, em consequência de que nos era completamente desconhecida a verdadeira situação dos nossos administradores políticos de Mimoso do Sul - ES.

o assalto à mão armada não constava do programa do Sr. Getúlio Vargas, cujo ideal, grandemente conhecido por todo Brasil, era dos mais nobres, dos mais belos e grandiosos, o de levantar uma Nação prestes a sucumbir, pela má política de seus dirigentes, que sofrem agora a consequência de suas mãos e atos. Por isso é que venho, novamente, clamar bem alto contra atos que desabonam, e muito, os verdadeiros chefes, os nossos pioneiros da Liberdade! São Pedro do Itabapoana, que por sua natureza mesmo já estava em poder dos revoltosos, não deveria sofrer o que sofreu contra suas autoridades, seu poder, sua autonomia! Que caíssem os dirigentes, aqueles que não souberam administrar, mas ela deveria ser respeitada. Basta, portanto, basta de humilhações. Urge que se faça chegar ao conhecimento dos futuros filhos dessa terra, nosso berço natal, não tendo vergonha de nossa história. Pois no passado, o homem responsável por essa transferência, o que ele falava "Tava falado" ao ponto de como vimos, servir-se do nome do brioso oficial que é Serôa da Matta, e hoje sua estátua ganha destaque no centro do jardim da nossa cidade. Verdadeiramente talhado para o belo e justo, ponha um dique à onda avassaladora que pretendeu de uma vez para sempre destruir São Pedro do Itabapoana".

7ª Parte

Este capítulo é uma coletânea, são cópias dos telegramas, ofícios e trechos de matérias escritas por Rosa Caroli, uma cidadã de força cristã, naquele período conturbado da história regional. Em face da insistência, as autoridades começaram a responder suas cartas. E anos mais tarde foi decretado pelo Legislativo: "Devolva-se, portanto, ao remetente as correspondências que endereçou ao Chefe da Nação; juntamente com as cartas anexas, também no envelope um telegrama que enviei ao 1º aniversário da tomada de São Pedro, felicitando pelos objetivos alcançados. Agradecidos aos cumprimentos enviados pelo transcurso da gloriosa data comemorativa do primeiro aniversário da vitória da revolução, apresento cordiais saudares. - Vitória - ES, 25/10/1931. João Punaro Bley/Interventor Federal no Estado".

"Para Chefe Governo/Getúlio Vargas/provisório-Rio, - Despojado este pedaço terra, faz parte integrante Pátria, direitos cidadãos com mudança Sede Comarca e Município para Mimoso, mão armada, sem outro fim senão destruição desta terra S. Pedrense, gesto perfeito feito hoje, mandando despir antigo edifício Fórum desta cidade toda instalação elétrica motivo familiar divertiam horas amargas passamos.

Como protesto veemente tomou mãos fiscal prefeitura, troféus pertencentes nosso distrito. Pedimos nome, nova Republica, Justiça. - 17/07/1931 - saudações, família Caroli"

"Ilma. Senhora Rosa Caroli - 6/7/1931 - Tenho a honra de comunicar-lhe que fostes eleita paraninfa da turma de reservista de 1930, do Tiro de Guerra nº 390 com sede nesta cidade e que no dia 12 do corrente realizará a entrega das cadernetas dos referidos reservistas. Tenho a acrescentar que, em reunião que se realizou ontem, o nome da Exma. Senhorita foi escolhido para tal fim, com geral apatia. Saudações, Temistocles Azevedo/Presidente".

"Diretor Jornal Correio Manhã/Rio - 18/07/1931 - Ontem noite aconteceu fato virgem história povo São Pedrense cansado humilhações político de Mimoso do Sul Insatisfeito com nossos direitos despojados, prejuízos coletividade maioria distritos municípios. Prefeito, conforme transcrevo telegrama mandou retirar toda instalação elétrica antiga edifício Fórum. Levar Mimoso. Os homens entregues filosofia, braços cruzados, aguardando ainda reivindicação direita postergados, assistiam destruição final seus direitos, haveres distrito, enquanto número incalculável senhores elite social, fazendo lembrar Benta Pereira e Maria Ortiz, auge indignação brios povo invadem casa fiscal arrebentando nossos troféus, telegrafando fato Interventor e Chefe politico. Rosa Caroli".

"Exmo. Sr. Pedro José Vieira/Prefeito Municipal - 21/07/1931 - De posse de nº Ofício 18/31, cumpre-me, respondendo ao comunicado de V. Excia., a respeito dos lustres de cristais e outros objetos, pertencente à Câmara desta cidade, repete em meu nome e de todas as sintonias o que já deixamos dito em nosso telegrama. Não consentiremos na saída de móveis do nosso Distrito, inclusive os lustres de cristais, ou sejam eles quais forem. Quanto a V. Exa. alegar o motivo de economia referindo-se ter lançado mãos nos objetos encravados no importante imóvel deste Distrito, achamos estar equivocado, pois V. Exa. vem gastando somas vultuosas nessa localidade com a mudança, como foi feita desa Sede da Comarca do Município. Hoje vista compra dos edifícios velhos e reformados recentemente para o funcionamento do Fórum e cadeia. Quanto aqui os há. Não entregaremos os objetos acima, pertencente ao aludido imóvel, senão depois de ser resolvido o recurso interposto ao Chefe da Nação, pelos povos deste Distrito: Antonio Caetano, Barra Alegre, Conceição de Muqui, Santo Antonio de Muqui e depois que seja autorizado pelo Chefe da Nação a quem telegrafamos. Saiba V. Exa. que o impoluto Oswaldo Aranha, até aqui era o governo quem mandava no povo; doravante é o povo quem manda no governo e na V. Exa. - Rosa Caroli".

"Para Rosa Caroli - 25/07/1931 - Felicito a minha amiguinha e as demais pelo gesto nobre e honroso e fico solidário com esse povo, que no futuro vão a mim agradecer, pois o que fizemos, de mim muito merecem. - Abraço do amigo Gamboa".

"Gabinete do Ministro da Justiça e Negócios Interiores, Rio 03 de agosto de 1931. - Exma. Senhora Rosa Caroli, de ordem do Sr. Ministro da Justiça, tenho a satisfação de comunicar-vos e às demais signatárias do abaixo assinado de 29 de julho que S. Exa., tomado em consideração o vosso apelo, o recomendou à atenção do Sr. Interventor Federal nesse Estado. Com respeitoso cumprimentos".

"Excelentíssima Senhora Darci Vargas - 06 de agosto de 1931 - Saudações. Apelando para os sentimentos altamente patrióticos que se aninham em vosso coração, viemos hoje depois de ter o povo dessa terra recorrido ao Vosso Digníssimo esposo, pedir-vos que interceda junta à sua Excelência e do grande Ministro Oswaldo Aranha, a fim de que sejamos reintegrados em nossos direitos, com a volta da Comarca e Município para a sua antiga Sede, que é São Pedro do Itabapoana e cuja usurpação devemos à meia dúzia de homens indignos que ontem arrastavam pelas ruas os nomes dos candidatos da Aliança Liberal e hoje servem-se da bandeira que esses mesmos vultos hastearam para cometerem atos revoltantes como esses que sofremos agora. É a mulher São Pedrense que vos pede pela felicidade de seus lares, pelo progresso do Município, pelo interesse de um povo pacífico e amante do bem, que só quer viver na comunhão dos parentes e amigos, formando uma só família nesta terra pequenina onde a ambição única é a da paz e do direito! O nosso pedido é justo, Senhora Darci Vargas, pois é só pela justiça que clamamos, estamos certas que a vossa alma, de patriota e católica bem intencionada, não ficará indiferente e saberá valer junto de vosso esposo essa nossa rogativa. Não é legítimo, convenha, que para satisfação de um só Distrito, animado aliás do espírito de vingança, sejam sacrificados outros cinco, que formam o Município, como acontece em nosso caso. È portanto pela felicidade e tranquilidade desse todo que imploramos a Vossa valiosa intercessão e pedimos que nos auxilies, convictas que nos compreendereis, pois também sois mulher e sabeis que como mulheres, não iriamos nos imiscuir em questões políticas se para isso não tivéssemos sido prejudicadas em nosso Patrimônio moral. Confessando a nossa eterna gratidão vos apresentamos os nossos mais sinceros e efusivos cumprimentos, - Rosa Caroli".

"Exmo. Sr. Oswaldo Aranha - 10/08/1931 - Eminentíssimo Ministro Justiça - Rio - Tomamos dizer Ofício a V. Excelência como um decreto jubiloso fatos deliberamos dar nome Oswaldo Aranha principal rua da cidade São Pedro em homenagem justiça. Saudações - Rosa Caroli".

"Para Rosa Caroli - 25 de agosto de 1931 - Sensibilidade agradece imerecida homenagem. Acabou prestar-me. Forte tão significativa. Saudação Cordial - Oswaldo Aranha".

"Secretaria de Instrução - 25/09/1931 - Snra. Professora Rosa Caroli- São Pedro do Itabapoana - A propósito incidente provocado por senhoras dessa localidade, a cuja frente imprudentemente vós colocastes devido a retirada dos lustros de cristais do prédio onde funcionou a Cãmara Municipal de São Pedro do Itabapoana, venho censurar-vos pela atitude de rebeldia que então assumistes em desacato à autoridade do Prefeito do Município de Mimoso do Sul "João Pessoa", o qual achando-se investido da função de delegado do Governo, deve como tal ser respeitado pelos que se encontram sob sua jurisdição, sobre tudo por aqueles que, como vós ocupam cargos que pela sua natureza, impõem aos que os exercem o dever de cooperar para a manutenção da ordem e tranquilidade pública. Saudações - Secretário da Instrução".

"Para Exmo. Ministro Osvaldo Aranha - 26 de setembro de 1931 -

Caro Ministro - Minha casa amanheceu cercada forças mando do poder politico de Mimoso do Sul, motivo, apreender lustros de cristais, moças, senhoras impedimos fossem retirados defendendo direitos distritais. Julho último, confiante Ofício Vossa Exa. de 3 de agosto pedimos justiça. Pela família São Pedrense - Rosa Caroli".

"Excelentíssimo Senhor Ministro Oswaldo Aranha - 30/09/1931 - Respeito dos lustres sem resposta, voltamos ter nossas casas vigiadas por policia. Custa ver Delegado. Há inquieto! Preferindo enganar Estado e cidade vizinha, ser humilhados. Esperamos justiça, Saudações - Rosa Caroli".

"Exmo. Sr. Getúlio Vargas - Chefe Governo Provisório - 24/10/1931 - Estamos quase fazendo um ano que fomos assaltados, e os nossos resultados ainda nada definidos. Vossa Excelência motivou fatos e recurso interposto, cujos frutos medram abrigados sombra bandeira discricionária, contra direitos postergados ainda. Entretanto, felicitamos V. Excelência e Oswaldo Aranha momento todo Brasil exulta, enquanto este pedaço Pátria continua luto. Saudações - Rosa Caroli".

"Catete - Rio - 30/10/1931 - Para Rosa Caroli - Apraz-me agradecer Vossas congratulações. - Getúlio Vargas".

EMANCIPAÇÃO POLÍTICA

Para digitar nossa história,

Nos tempos da rota do café,

Com bastante gente conversei,

Você vai começar ler agora,

O que o poder administrativo faz,

E ao brincar com o cordel... Pouco a pouco...

Tomando consciência, do resgate que se refaz.

O poder político da época, forças multiplicam,

Administração fechada e nenhum senso de justiça,

Regras diferenciais ao povo aplicam...

Os eleitores encabrestados davam-lhe carta branca,

E, interina autoridade... O troco de pão com linguiça,

Eles chegavam ao poder usando essa alavanca...

Não havia TV e nem a zona franca.

Pesquisei literaturas e a tradicionalidade,

“Ruminei” sentimentos, sofridos e humanos,

Parece que senti protagonista com os fatos da cidade,

Com os causos, reais e ficções soberanos,

Onde se visitavam... A depressão não existia,

Poderia até faltar numerário, mas não havia tédio,

Oxigênio era puro! Era um santo remédio.

Assim nasceu São Pedro de Alcântara,

Vila tranquila, construída por inteira,

Por iniciativa de um barão do café,

Senhor Manoel Joaquim Pereira,

Cidadão firme e trabalhador,

Com o lema e o ideal para servir

Num projeto e desafio ao cumprir.

A povoação de São Pedro progredia,

No emprego, no amor e confiança,

Também a educação, o comercio, dia após dia,

Tudo multiplicava em clima de esperança,

Eram frutos do otimismo, da paz...

Resultado da região...

Onde os contribuintes davam-se as mãos.

A vila crescia tanto... Tanto!

Que perdeu os seus encantos,

Sua identidade chega ao fim,

Desliga-se de Cachoeiro de Itapemirim,

Denomina como Sede, Câmara municipal,

Cidade de São Pedro de Itabapoana,

Pela Lei Provincial.

A cidade com o tempo estagnou!

Não oferecia projeção para crescimento,

Devido aos relevos e falta de áreas planas

Outra Sede já vinha sendo estudada,

Pelos barões, que “ajuntavam ouro com o rodo”,

João Pessoa ou Fazenda Mimozo,

Entre vales férteis, caminhos firmes... Sem lodo.

Já recebia os primeiros trilhos,

Era realidade a linha ferrovia,

Com certeza era grande impulso

O sustento dessa economia,

Os São Pedrenses comentavam: - Isso é arapuca armada!

Para ver os barões contentes

Será que vamos embarcar nessa canoa furada?

Inauguram a estação tão esperada,

Perspectiva e vontade de embarcação,

O trem que já apita... Chega e parte!

Leva passageiro! Boa sensação...

Uns com medo... Rezam até o pai nosso...

O bilheteiro pergunta: - E esse menino?

Pegam na mão da criança e diz: "Esse guri é nosso".

Ao correr dos fatos, pode até se afirmar,

Fica em cada cabeça, o sim ou o não acreditar,

Na inauguração da ferrovia

Muitos causos podem narrar,

O trem que ainda vinha ao longe,

Os corações das pessoas já batiam forte

Ficavam apavorados, pareciam ver a morte.

Seu Mané Sete e Zé Linguiça corriam,

Arnaldo Boca de Gamela e seu Ezequiel:

- Isso não é possível! Será que somos cachaceiros?

Um deles montou num burrico do Sr. Alipio,

Homem trabalhador... O carroceiro.

Foi contar a novidade para o seu patrão,

Dono de gado, café, rei do barão.

O meu chefe não vai acreditar...

Na estória que vou lhe contar

Na hora que esse trem passar...

Fazia tanto castelo no ar...

E ai que, foi se lembrar,

Que o seu empregador

Estava a viajar.

Além de ser meu amigo, ele é meu patrão,

Gosta e aprova tudo que eu faço,

Não sou parado e nem bobão,

Mas tem gente que pensa mal de mim,

Falam que sou puxa saco,

Eu nem ligo, eu sei que sou ligeiro,

É o meu semblante que parece pacato.

Imagine quando o trem passar,

A manada do patrão vai se espantar,

Podem estourar... E ao encontro com a máquina,

Se atropelar...

É por isso que eu devo ir á frente,

Tocar toda a boiada...

E nenhum animal se machucar.

Cinco horas depois...

De muito tentar...

Alguém comunicou com o dono da fazenda,

Contando todo o fato...

Daquele empregado otário

Que lhe prestava serviço

A troca de meio salário.

Do outro lado da linha

O chefe com dor no saco

Devido tal empregado

Ser chato, como carrapato,

Mas disse a esposa do fazendeiro:

Meu Deus que destino ingrato,

Perdoa esse empregado que vive em ti grudado.

Pede a ele explicação,

Como tudo isso aconteceu?

Na hora em que o trem passou,

E como foi que as cinco reses

A máquina de ferro os a matou?

A mulher falava... O fazendeiro suava...

Devido ao forte calor.

Liga o ventilador...

A esposa ainda lhe diz:

Calma homem! Vou buscar o rezador,

No telefone a manivela,

O patrão a ironizar:

"Fala meu funcionário querido",

E o dito começou a bajular.

"Eu gosto muito do senhor!"

E tudo vou lhe informar,

Graças ao meu bom Deus

O trem não matou mais,

Por que amigos eu chamei para me ajudar,

"Ajudar como?" Conte-me depressa,

Pare de me enredar.

Não patrãozinho, sem rodeio e sem babar,

Vou tudo lhe contar...

Só cinco cabeças, aquele trem matou,

Já pensou meu patrão, se aquela coisa viesse de lado...

Ainda bem que veio de frente,

Se não mataria mais bois... Cavalos...

E também mataria muito mais gente.

A parteira, Dona Maria Feliciana,

Quase fica sem dentes,

Ela foi à casa de João Pelanca,

Para o café cortava a cana,

Foi isso ai mesmo meu patrão,

A máquina veio voando,

Passando-lhe de raspão.

Falava o deputado Justo Veríssimo,

Grande gozador!

Deixou-nos saudade,

Da Rede de Televisão,

A comentar as classes Altas e médias,

Que também marcou seu rastro

Com piadas certeiras, direto ao coração.

Salve o capitão Ascanio Fernando,

Cidadão respeitável e respeitado,

Nas festas cívicas da cidade,

Bem visto bem vestido,

Calça e camisa engomada

Sapatos novos engraxados,

E o colarinho de ponta virada.

Mais um homem em Mimoso brilhou

Autêntico chefe político,

Prometia... Construía... Era muito ajeitado

Falava todo dengoso...

E quando falava, tava falado,

Seus correligionários... Submissos eleitores,

Obedecia! Todos calados.

Coronel Cesar Paiva, outro pé de esteio,

Fazendeiro na periferia,

Voz gorda e bem-vinda,

Entrava na casa de Dona Joana,

Seu grito vinha com amor,

- Vim tomar o seu café...

Acabo de vir da missa, na Igreja de São José.

Prudêncio Arrabal,

Progenitor do famoso médico,

Dr. Juca! Grande José Arrabal!

Embreou-se na lista

O melhor dramaturgo,

Muita sensibilidade e insigne escritor,

Gonçalo pé de mesa, sua obra imortal.

Reporto-me a outra grande figura,

Evaldo Ribeiro de Castro,

Próspero alfaiate de nossa história,

Desde a sua juventude dedicou-se a glória

Ao footing domingueiro, na rua da estação,

Roupas que o próprio confeccionava

Para abrilhantarem na era da exposição.

Ao correr do tempo, Evaldo já dizia,

Minha amável cidade! Todos os seus distritos,

Tem histórias que o povo conta,

Fatos que as pessoas dizem,

O crescer dessa cidade,

Está na corrente dividida

Por suas quedas e subidas.

Desde 1870, erguia gigante construção,

Fazenda Mimozo, o grande casarão,

Imensas glebas de terras, muitas lavouras...

Bastante empregados; Tendo como patrão,

Pedro Ferreira da Silva, que nunca teve raiva,

Homem lutador, título de capitão,

Sua esposa Joana Felícia Paiva.

Havia grandes áreas cultivadas,

Cercadas de estacas grossas,

Quando a chuva caia,

Seus empregados voltavam da roça,

Ele tinha muitos bois de carros

Carros que os bois puxavam,

As rodas rodavam nos eixos, e assim os carros cantavam.

Cadê o boi mimozo?

Indaga o fazendeiro

Com carinho e dedicação:

"Que boi danado de arteiro!"

Arrebenta as cercas,

Quebra a canga, pula os vales,

Tira a paciência do carreiro.

Vai lá para roça dos cafeeiros,

Incomoda os vizinhos,

Promove prejuízo aos meeiros,

E enche o saco dos trabalhadores,

Mesmo assim eu lhe tenho afinidade por inteiro,

Pois esse boi e bonito e jeitoso,

Ele trará para sempre seu nome como companheiro.

Certa ocasião chovia bastante,

O boi mimozo numa rua se atolou,

Seu dono arregaça as pernas da calça,

E não se importou com seu titulo de Doutor,

E na enchente ele entrou

Laço na mão, descalço com os pés no chão,

Junto ao animal, ele desatolou.

Nessa época a saúde era respeitada

Ainda nem sonhava com o programa familiar,

Mas Dr, Cysne e a enfermeira Sebastiana,

Percorriam aos lares de qualquer mulher grávida,

Tanto na cidade quanto aos distritos,

E nesse dia estava agendada a visita da ruralista Cristiana,

O bebê parece que ia nascer, pois já ouvia os gritos.

Atendiam qualquer dia da semana,

E muitos partos aconteciam

Esse seria em São Pedro do Itabapoana,

Não tinha feriado e nem domingo,

Era só mandar um recado para o Dr. e a enfermeira Sebastiana

A paciente ao Dr havia dito:

Por favor, prefiro o parto, não a cesariana.

Eram muitos os afazeres...

E poucos médicos...

Mas a ética do Doutor: Não deixar ninguém na mão,

Se dúvida, ele era até ortopédico,

Arrumava a marmita, e lá ia ao encontro do irmão,

Seu lema: Dom de servir,

Alimentação, Arroz e a tal da fruta-pão.

Quando chegou, foi logo examinando a mulher,

Devido ao cansaço, na mesma cama reencostou,

O neném não deve ser para hoje,

E se ajeitando ele se acomodou,

E logo... Pelo cansaço cochilou,

A enfermeira Sebastiana consigo mesmo resmungou:

Coitado do Doutor!

Quando o médico acordou

Espantado perguntou:

Enfermeira Sebastiana, onde eu estou?

Aquela mulher de barriga grande

Teve um bebê, que já mama no peito,

E o Doutor fica todo sem jeito,

Não se avecha seu Doutor, saiu tudo perfeito.

A pesar das pistas, a história não mencionou,

Se o nome do boi mimozo influenciou

Para que no futuro a Sede já pensada

Teria o distrito, o nome Mimoso como herdeiro,

Imposto pela voz gorda do coronel

Pela afinidade ao boi...

E a distribuição de dinheiro.

Não havia melhor data

Para concretizar o plano

O país estava em revolução,

1930 chegava o final do ano

No dia 2 de novembro, arranjou até canhão,

Com muitos soldados armados,

Ia ser um golpe certeiro, coisa de ladrão.

Força brutal e coragem emocional,

Comandada por Waldemar Garcia de Freitas,

Acompanha-o comboio de 13 caminhões,

Não deveriam encontrar barreira,

Já que todo povo da cidade, sem cobiça,

Estavam na Igreja orando, im – memória,

Rezavam unido, o sacrifício da santa missa.

Os soldados chegaram alguns homens rudes,

Outros agressivos, que receberão instrução,

Por serem empregados de barões

Das fazendas de áreas adjacentes,

A paz foi quebrada, numa tremenda confusão,

Ouve-se um tiro, perto da casa do Zé Callil,

O estampido acertou o sino e um velho barril.

Na ladeira, uns subiam, outros desciam,

As mulheres apavoradas: “Cuidado Dona Maria”

Pegavam seus filhos e os a escondiam,

Uma missionária toca o sino,

Por ver que tudo estava sendo saqueado,

Pede socorro e auxílio do divino,

Tudo sendo roubado... Pelos vizinhos revolucionários.

O armador dessa trama...

Só pensava em economia

Era um homem forte e tudo resistia,

Pensava no desenvolvimento da nova Sede...

Numa rota turística, era o que ele mais sonhava,

E assim chega-se o fim dessa comarca...

Final doloroso! Acabou tudo, até a sua marca.

Objetos, arquivos, livros de tombo...

Tudo jogado as pressas em cima de uma carroceria,

Assalto total... Roubaram tudo!

Disse Rosinha Caroli, Quando foi agredida...

E furtaram vários dossiês que estava em suas mãos,

O povo traumatizado... Nenhumas informações,

Já ao longe, a poeira, rastro dos caminhões.

Enquanto isso... Dias após...

No Estado da Guanabara, RJ, capital,

Pouca informação para o povo

Estavam os quartéis em prontidão,

Numa luta para execução

Do chamado “Estado Novo”

Revolta... Poder... Ou traição.

Washington Luiz foi deposto,

Getulio Vargas assume o poder,

Homem ditador e muito arrogante

Civil que enfrentou a revolução,

Nem sabia do acontecimento no município,

Ou do distrito regulatório,

Apenas serviu como “bode expiatório”

Foi assim o triste marco!

De uma Sede Municipal,

Sem alma e sem memória

Que em nossos dias

Presta-lhe homenagem

Com o festival

De Sanfona e Viola.

Ao apoderar-se do roubo,

Após 1933, passa a ser reconhecida,

A cidade João Pessoa...

Que começa a entrar em cena

Alimenta-se de esperança,

O progresso começa a fluir,

Tendo como vizinho, Cachoeiro de Itapemirim.

João Pessoa, cercada de montes,

Entre vales e serras...

Contam as nossas histórias,

Colunista, intérprete, poeta e escritor,

Que Pedro José Vieira

Nomeado como primeiro interventor,

Que nos fatos de São Pedro, ele também foi autor.

Volta em cena...

De interventor para prefeito

O mesmo Pedro José Vieira,

Foi ele, o primeiro eleito,

No meio de uma instabilidade,

Visando manter uma influência

Para progredir uma cidade.

A história política segue adiante,

São Administradores da terra,

São “sementes” deste chão

Luiz de Lima Freitas,

Jasson Martins de Araujo,

Anibal Ataide de Lima,

Todos cheios de inspiração.

1943 Assume David Fidalgo Ferreira,

Inicia a sua administração

Dando o nome definitivo para a cidade

Atendendo ao pedido do seu compadre,

Fazendeiro dessa região,

Atleta de sovaco cheiroso

E assim nasceu Mimoso.

Mimoso do Sul

Até aos nossos dias atuais,

Outros administradores,

Sentaram-se na cadeira executiva:

José Fernandes Tâmara,

Carlos Figueiredo Cortes, e Rubens Rangel,

Cada qual com um projeto fiel.

Continuando veio em eleição,

João Maximiano Guarçoni,

Olimpio José de Abreu

Darcy Francisco Pires,

Tentaram mostrar como se libertar:

Alcança-se com o trabalho,

Mas há dois modos de se trabalhar.

Há quem trabalha com a cabeça,

E há quem trabalha com o coração

E assim segue a nossa eleição,

Domingos Serenari Guarçoni,

Fernando José Coimbra de Resende,

Democracia de uma mesma sinuca,

Transparência da mesma arapuca.

Agora vamos para o ano de 1989,

Anos de prosperidade e crescimento,

Pedro José da Costa,

Benedito Silvestre Teixeira,

Ronan Rangel,

Às vezes eram tantas incertezas...

Não definíamos: estamos no purgatório ou no céu?

José Carlos Coimbra de Rezende

Iniciou a cadeira executiva em 2001,

Ao eleitor levou decepções de consciência,

Nos ocorridos políticos da administração,

Até o bolo da equipe dúvida,

Não sei se foi por promessas,

Traição ou dívida.

Até que fins deram chance,

A uma Candidata mulher

2005 a 2008 Flavia Cysne, eleita,

Semeou mais verdades

Deu exemplo de governar,

Apanhou mas não traiu,

Até que em fim, foi nessa época que o asfalto saiu,

2009 a 2012 Ângelo Guarçoni subiu a rampa

Foi lhe passado a faixa do poder,

Com o lema vem de berço político de ação,

Mas durante o seu reinado, ouve tanta distração,

A mais grave foi à dívida deixada,

O Comboio da prefeitura totalmente sucateado

E como humor a distribuição do feijão.

Mesmo assim, tentou a reeleição...

Não deu, para o grupo foi a maior decepção,

Assume pela segunda vez a mesma mulher,

Que em sua administração passada, foi registrado,

Menos que 1% de corrupção

Com garra e coragem ela assume a Administração,

Parece até que ela usa uma varinha de condão.

Ela dirigirá os trabalhos do município,

No início enfrenta árduas emboscadas,

Não se intimida, coloca o Altíssimo na frente,

Ela faz como fez o rei Salomão,

Pede Luz, sabedoria, humildade,

Para governar e servir aos seus irmãos

De forma igualitária para toda a cidade.

Novos rumos, novas edificações virão,

Contudo sabemos, nossa cidade tem seus problemas,

Com inteligência não é difícil resolve-los

O “corpo” executivo estará próximo de você,

Acompanhando os anseios de cada cidadão

Ainda mais agora que estamos comemorando

Oitenta e três anos de nossa emancipação.

De 02/11/1930 a 26/11/ 2013

São muitas histórias,

São muitos fatos e fotos,

São muitas lendas

Dia após dias

Concluímos várias “tendas”,

Colocá-las em prática,

Se não for por projeto será por emendas.

HEROÍN