Biotônico Fontoura de Candinho e Lobato

Conheci o Tio Candinho por volta de 1960. À época, ele era o patrocinador do Sítio do Pica Pau Amarelo, na TV Tupi Canal 3, a fortaleza das comunicações de Chateaubriand no Sumaré, em São Paulo. Amigo antigo de Monteiro Lobato, foi um dos precursores, com o grande escritor, de grandes campanhas publicitárias nacionais, no início do século passado, como a do fortificante capaz de levantar o ânimo do Jeca Tatu.

Anos formosos, coloridos, tempo da TV antes do VT, quando encenávamos ao vivo as adaptações de Tatiana Belinky, sob a direção de Júlio Gouveia, no teatro ao vivo daquela emissora, que levava lazer e cultura para o público infanto-juvenil; especialmente as obras educativas do grande brasileiro Lobato. Entrávamos por uma porta e saíamos por outra, e quem quisesse que contasse outra.

Aquele biotônico era uma espécie de vinho do porto amenizado, consumido pela molecada, porque era gostoso, tinha ferro e cálcio, e se não levantava o ânimo de verdade, a gente imaginava que sim.

A personagem Emília, espécie de alter-ego de Lobato, fazia o merchandising, ao vivo, da mágica poção do Tio Candinho: Bio-tô-nico Fon-tou-ra.

Com a modernidade, as crianças se afastaram dos livros, e Lobato ficou um pouco esquecido. Sou muito grato a ele por me ter despertado o gosto pela leitura e a cultura. Lembra-me a formosa coleção de livros de capas verdes e letras douradas, emoldurando minha pequena estante, e que aprendi a gostar e admirar, antes mesmo de começar a ler. História, Gramática, Mitologia, Aritmética, Geografia. Ali ouvi por primeira vez a palavra “petróleo”, e que ele era uma riqueza nossa, e continua sendo, apesar dos traidores da Pátria, os quais serão derrotados e esquecidos.

Tio Candinho teve o grande mérito na divulgação da grandiosa obra da literatura infantil, que muito ajudou na formação de inúmeros brasileiros, os quais, como eu, sentem por ambos sincera gratidão.

Um país, como disse o escritor, se faz com homens e livros, por pessoas de iniciativa voltadas para a cultura, como Cândido Fontoura e Monteiro Lobato.

Nagib Anderáos Neto

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