Por que hoje em dia muitas pessoas não namoram?

Basicamente é porque querem ver para crer e não crer para ver. Ou seja, buscam aquele ser perfeito pelo qual se apaixonar e somente após estarem submersos no sentimento da paixão é que cogitam a ideia de namorar.

A palavra namoro vem da expressão espanhola "estar en amor", que acabou formando o verbo enamorar, que originou o nosso namoro.

Porém, no Dicionário Michaelis diz:

namorar

na.mo.rar

(aférese de enamorar)

vtd 1 Esforçar-se para conseguir o amor de; cortejar, galantear.

vtd 2 Atrair, cativar, inspirar amor a, seduzir.

vint 3 Andar em galanteios.

vpr 4 Tornar-se enamorado; afeiçoar-se, apaixonar-se.

Segundo o dicionário, a gente não precisa se apaixonar primeiro pela pessoa para depois vir a namorá-la. Quantos e quantos relacionamentos que poderiam dar certo são desperdiçados por conta da ideia de que só se namora quando se está perdidamente apaixonado?

O mundo imediatista e materialista, que se baseia sempre em primeiro lugar na beleza exterior cultivada pela chamada "ditadura da beleza", de hoje tem formado pessoas cada vez mais frias, individualistas, que buscam por perfeição nas outras pessoas. E se alguém que estão conhecendo não preenche de imediato determinado requisito, logo não querem sequer tentar conhecer melhor a pessoa. (Poucas são as que não se deixam corromper atualmente)

"Namoro significa a relação afetiva mantida entre duas pessoas que se unem pelo desejo de estarem juntas e partilharem novas experiências."

"O casal partilha conhecimentos, fortalece a confiança e cumplicidade, e experimenta relações mais íntimas, de natureza emocional e/ou sexual, que servem de base para decidirem se firmam um compromisso mais sério."

Namoro é relação afetiva. Não é o mesmo que estar morrendo de amor, quando muito de paixão. Amor pode vir com o tempo. O objetivo do namoro é partilhar experiências que servem de base para o casal decidir se firma ou não um compromisso mais sério. (leia-se casamento, viver sob o mesmo teto)

Namoro não é casamento. Namoro não é amor. Namoro não é o bicho papão que vai devorar outras possibilidades caso não dê certo.

Namoro é conhecer e deixar-se conhecer, é conviver, dar e dar-se uma chance para que um sentimento maior nasça.

Embora a origem da palavra tenha por base "estar em amor", não é assim na prática, não nos enganemos.

Não faz sentido o batalhão de gente que se vê atualmente dispensando alguém, e consequentemente talvez dispensando grandes momentos de felicidade, por acharem que se namorar esse alguém estarão assinando uma sentença irrevogável.

Por que os relacionamentos mais felizes e duradouros são os de pessoas mais velhas? Porque na época em que começaram a namorar, elas deram chance para o relacionamento acontecer, florescer. E durou porque não se deixaram corromper pelos novos conceitos. Foram tolerantes, insistentes, confiantes. Acreditaram no amor que nasceu durante o namoro, onde em muitos dos casos nem paixão havia quando decidiram namorar.

Se formos esperar para namorar somente alguém pelo qual estivermos loucamente apaixonados, olha... Melhor ir para um mosteiro, fazer voto de castidade, morar no meio do mato, numa caverna, no raio que o parta!

Obviamente esse texto não é dirigido a quem não quer namorar, a quem não gosta dessa ideia, a quem não faz diferença se ficar só, aliás, que gosta e quer ficar só.

Esse texto é dirigido a quem vive reclamando, usando aquela frase do "ninguém me ama, ninguém me quer"; a quem lamenta por não ter alguém, mesmo quando sabe que há alguém que moveria céus e terras para ficar junto caso tivesse uma chance concedida; a quem acredita que não há mais qualquer esperança, pois apostou todas as fichas em uma relação anterior que não deu certo, porque acreditou que namoro era uma sentença irrevogável; a quem busca perfeição imediata e dispensa pretendentes sem nem dar o direito da pessoa mostrar todas as suas qualidades; a quem segue a cultura da beleza em primeiro lugar e esquece o quão linda uma pessoa pode ser em sua totalidade; a quem deixou de acreditar no amor.

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Esse texto é tão somente para fins de reflexão.