ALMEIRIM (PORTUGAL)

Almeirim é uma cidade, situada na margem esquerda do rio Tejo, em frente a Santarém, da qual dista cerca de 10 kms. É a capital do concelho com o mesmo nome e de uma vasta região agrícola, que compreende as lezírias do Tejo, ricas planícies de aluvião, que as cheias periódicas do rio, enriquecem e tornam fertéis para diversos tipos de cultura, das quais se destacam, as vinhas e os melões, bem como vários produtos hortícolas, como tomates, milho, morangos e outros.

É uma cidade antiga com vestígios de ocupação humana desde a pré-história. A presença romana fez-se notar nestas paragens, pois por aqui passava a via militar romana, partindo de Lisboa para Mérida, capital da Lusitânia, datando-se do séc. I a ocupação de terrenos.

Mas tem sobretudo uma história rica em acontecimentos relacionados á corte portuguesa, cujos reis nos séculos XV e XVI, elegeram esta localidade como local de recreio para passarem férias e temporadas mais ou menos longas, devido ao seu clima ameno. Nesse tempo o rio Tejo era navegável até Santarém, e a peste grassava em Lisboa. Por isso em procura de melhores ares, toda a corte se deslocava para Almeirim, que passou a ser chamada a Sintra de Inverno, tendo o rei D. João I, mandado construir um palácio em Almeirim, para seu veraneio e descanso, bem como dos reis que lhe sucederam. Dedicava-se á caça e outros passatempos, como a lide de touros, e a criação de cavalos, nascendo assim a tradição das touradas. Todos os assuntos da corte eram despachados em Almeirim, e os fidalgos passaram a construir os seus palácios na cidade, para onde se deslocavam em conjunto com o rei. Toda a gente que dependia do rei das intrigas e ambiente da corte, se deslocava também para Almeirim. Sem a via fluvial que o Tejo constitui tal não teria seria possível.

Nos tempos actuais Almeirim é célebre pelos seus produtos agrícolas, nomeadamente o vinho e o melão. Famosa pela sua gastronomia e os seus restaurantes que todos os fins-de-semana acolhem muitos visitantes vindos de outros pontos do país especialmente para passarem o dia em Almeirim e aqui almoçarem.

Entre os vários pratos, um se destaca e dá fama á cidade. É a famosa Sopa da Pedra,

cuja lenda vos transcrevo aqui:

A Lenda da Sopa da Pedra

Um frade andava no peditório. Chegou à porta de um lavrador, não lhe quiseram aí dar esmola. O frade estava a cair com fome, e disse:

- Vou ver se faço um caldinho de pedra!

E pegou numa pedra do chão, sacudiu-lhe a terra e pôs-se a olhar para ela, para ver se era boa para fazer um caldo. A gente da casa pôs-se a rir do frade e daquela lembrança.

Perguntou o frade:

- Então nunca comeram caldo de pedra? Só lhes digo que é uma coisa boa.

Responderam-lhe:

- Sempre queremos ver isso!

Foi o que o frade quis ouvir. Depois de ter lavado a pedra, pediu:

- Se me emprestassem aí um pucarinho.

Deram-lhe uma panela de barro. Ele encheu-a de água e deitou-lhe a pedra dentro.

- Agora, se me deixassem estar a panelinha aí ao pé das brasas.

Deixaram. Assim que a panela começou a chiar, tornou ele:

- Com um bocadinho de unto, é que o caldo ficava um primor!

Foram-lhe buscar um pedaço de unto. Ferveu, ferveu, e a gente da casa pasmada pelo que via. Dizia o frade, provando o caldo:

- Está um bocadinho insosso. Bem precisava de uma pedrinha de sal.

Também lhe deram o sal. Temperou, provou e afirmou:

- Agora é que, com uns olhinhos de couve o caldo ficava que até os anjos o comeriam!

A dona da casa foi à horta e trouxe-lhe duas couves tenras.

O frade limpou-as e ripou-as com os dedos, deitando as folhas na panela.

Quando os olhos já estavam aferventados, disse o frade:

- Ai, um naquinho de chouriço é que lhe dava uma graça.

Trouxeram-lhe um pedaço de chouriço. Ele botou-o à panela e, enquanto se cozia, tirou do alforje pão e arranjou-se para comer com vagar. O caldo cheirava que era um regalo. Comeu e lambeu o beiço. Depois de despejada a panela, ficou a pedra no fundo. A gente da casa, que estava com os olhos nele, perguntou:

- Ó senhor frade, então a pedra?

Respondeu o frade:

- A pedra lavo-a e levo-a comigo para outra vez.