MENDIGOS DO CAPITALISMO

Seu desejo era apenas ser amado, e uma vez eleito como objeto de amor de sua mãe, o desejo era satisfeito, ele era dela e assim ela era dele, porém o improvável aconteceu - outros amores surgiram na vida de sua mãe, seus irmãos, o pai, o trabalho dela, isso lhe causou vazio, e assim ele voltou seus olhares pra outras coisas que lhe preenchesse, mas em seu inconsciente sabia que era ainda o preferido de sua mãe, e cada conquista que fazia isso trazia o olhar de sua mãe só pra ele, aprendeu assim, como ter a mãe pra si, bastava ser o melhor de todos, bastava ser diferente e como dizia Nietzsche, em "Além do Bem e do Mal", existe um prazer de se saber diferente.

É na infância que construímos os nossos valores, e toda falta de amor e compreensão que se tenha tido nesta fase, irá se manifestar quando formos adultos. Ele descobriu que ser o melhor fazia a sua mãe o amar cada vez mais, ter orgulho dele e foi assim que ele procurou ser cada vez mais diferente, foi assim que ele aprendeu a compensar a ausência de valores amorosos através da exibição em redes sociais e ostentação do dinheiro.

A verdade é que a mãe (simbólica) é a primeira mulher na vida de um menino e tudo fará pra mostrar seu amor a ela. Isso faz parte de nossas pulsões, só quando entendemos que essa mulher é proibida pra nós é que nos voltamos às outras, mas toda a dinâmica de amar foi aprendida e internalizada em nós por ela, os valores já estão no inconsciente.

Quando havia valorização apenas das conquistas, aprendemos assim que mulheres gostam disso e que ser "o cara" é um poderoso atrativo sexual, é quando propagandeamos uma pseudo autoestima onde estamos sempre felizes no Facebook ou nos fotografamos exibindo nossa suposta riqueza: viagens, restaurantes, pratos caros que comemos, famosos com que somos amigos, tudo pra mostrarmos que somos melhores, como disse Nelson Rodrigues: "Os imbecis perderam a modéstia".

Somado tudo isso com o capitalismo que motiva o consumo desenfreado, que não tolera aqueles que não produzem (anormais) e que tem um colorido especial pintado pelo calvinismo estadunidense que coloca a acumulação do capital e da riqueza como autenticação do olhar de aprovação de Deus e a garantia da salvação eterna e mais ainda, como o próprio modelo de evangelicalismo da pós-modernidade que transformou a religião em um grande mercado que se impões com mais forças do que os laços sociais, o que temos são pessoas que estão cada vez mais presas a uma armadilha de tentar ser diferente em uma cultura de massificação.

Tentar ser visto dentro de um lugar onde todos estão postando suas felicidades é acabar por se tornar mais do mesmo, como consequência temos mais doenças emocionais: depressão, ansiedade, vida sem sentido e até suicídios. O escritor e sociólogo Domenico De Masi, lista as maiores riquezas que o homem tem, mas que precisa reaprender a valorizar:

Primeiro, o tempo, nossa maior riqueza; Segundo, a autonomia; Terceiro, o silêncio; Quarto, a beleza; e, Quinto, o espaço. São esses os cinco elementos de luxo, quem perceber isso e souber valorizar, este sim, é milionário. Os outros, bem os outros são apenas mendigos do capitalismo e escravo de seus caprichos adoecedor, ainda é o menino disputando com os irmãos o olhar e o amor da mamãe.

Jairo Carioca, Psicanalista, Teólogo, Escritor, autor do livro “Crônicas de um divã feminino” pela editora Autografia.

Jairo Carioca
Enviado por Jairo Carioca em 11/03/2018
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