Funcionários públicos dormem enquanto o autônomo tem insônia em tempos de pandemia?
Hoje um amigo pastor evangélico e apoiador do presidente da República, replicou um post que mostrava um homem deitado numa cama dormindo confortavelmente e um abaixo deitado numa outra cama de olhos arregalados, mostrando preocupação. O post dizia: “Funcionário público dormindo na quarentena e autônomo dormindo na quarentena.
Essa postagem me encheu de indignação. Pela generalização de inúmeras classes distintas do funcionalismo público. Pelo desprezo a esses servidores, que me incluo como professor da rede estadual e municipal de ensino. Pela intenção abjeta de nos colocar como vilões. Pelo total desconhecimento dessa classe fundamental para o funcionamento do Brasil muitos dele enfrentando essa terrível pandemia.
Diante de tal afronta eu respondi:
“É só estudar por anos, se dedicar, fazer cursos preparatórios e faculdade e passar num difícil e concorrido concurso público de provas e títulos; como eu passei em 6 concursos, dois deles em primeiro lugar, que a pessoa vai dormir em paz com a sensação de dever cumprido e que os anos de dedicação valeram muito a pena.
Pois todos sabem da dificuldade do concurso público. Esse post também é extremamente leviano e imoral. Sabe por quê?
Porque ele passa uma mensagem falsa, mentirosa e com fins manipuladores da opinião pública, para joga-la contra os servidores da União, Estados e Municípios.
Pois mais de 90% dos funcionários públicos ganham mal e trabalham muito.
Esse post faz de um professor, enfermeiro, motorista, vigia, atendente, coletor, coveiro e outros cargos assalariados, dentro do serviço público, como se fossem a elite do funcionalismo: os magistrados, os membros do MP e da defensoria pública. Coloca-se a maioria absoluta dos servidores como se fosse a minoria, que são casta de privilegiados.
Só o auxílio paletó dos magistrados são três vezes o salário das categorias citadas acima.
Só o imoral auxílio moradia dos juízes é mais de 3 vezes o salário base do professor do Estado do Rio de Janeiro, mesmo ele possuindo mestrado e doutorado.
Portanto, essa postagem é uma aberração! Pois ela faz generalizações absurda do funcionalismo público.
Milhões de funcionários públicos não dormem o ano inteiro, mesmo fora do período da Pandemia, pois recebem salários de fome e convivem com atrasos salariais que levam até 5 meses para serem pagos.
Só lembrar a nossa cidade, Cabo Frio RJ, em 2015. Um ano sem aulas na rede pública municipal, pois os servidores ficaram sem salários por meses, sem décimo terceiro e sem um terço de férias”.
Lembrando, toda a generalização é estúpida. Pois não é porque existem padres pedófilos, que todos os sacerdotes católicos também o sejam. Não é porque a grande parte dos pregadores da mídia são mercenários, que todos os outros são, pelo contrário, a grande maioria é honesta e vive dignamente.
Não é porque se generalizou que advogados são mentirosos, que milhares deles não vivam decentemente com o fruto de seu trabalho. Não é porque parte fundamental de políticos são corruptos, que todos são!
Assim como uma minoria de funcionários públicos de fato não são dignos das suas funções e da grandeza do cargo que possuem, que a maioria batalhadora que acorda cedo para fazer o Brasil funcionar o sejam. Pelo contrário, a maioria são pessoas das classes média e baixa que com toda dificuldade são profissionais dedicados. É a professora da escola sem estrutura de trabalho, mas tem nela uma profissional exemplar e humana. É o enfermeiro e médico sem EPI e insumos para seu trabalho, que mesmo assim o desenvolvem com amor e dedicação.
Não caiam no ardil daqueles que assim como o ministro Paulo Guedes, consideram os funcionários públicos “parasitas”, por não conhecerem suas realidades, suas condições de trabalho e suas lutas.
Tenham respeito por aqueles que anos após anos fazem o Brasil funcionar. Todos os países do mundo possuem funcionários públicos, mas só aqui no Brasil são execrados publicamente, numa atitude abjeta, irresponsável e infame!