Se queres ser feliz conheça a si próprio, ou melhor, conheça a sua mente

Se queres ser feliz conheça a si próprio, ou melhor, conheça a sua mente.

Algum tempo pretérito, lendo “Conhecendo a própria mente e o estado natural de liberdade”, do autor Dzogchen Ponlop Rinpoche, restou claro que todos os ensinamentos orientais, em especial os do Buda, têm uma mensagem clara: não há nada mais importante do que conhecer a própria mente. Trocando em miúdos: conhecer-se a si mesmo.

E a razão é simples, pois a fonte de nossos sofrimentos se encontram dentro dela (mente). Isto porque ao sentirmos ansiedade, estresse e preocupação, estes estados são produzidos pela mente.

Ao ficarmos completamente desesperados, esse sofrimento também vem de nossa mente. Por outro lado, ao ficarmos loucamente apaixonados, flutuando nas nuvens, essa alegria também surge da mente.

O prazer e a dor, sejam ambos convencionais ou extremos, são experiências da mente. É a mente que vive cada momento da nossa vida e tudo o que percebemos, pensamos e sentimos.

Portanto, quanto melhor conhecermos a mente e como ela funciona, maior a possibilidade de nos libertamos de estados mentais que nos derrubam, que secretamente nos machucam e que destroem nossa capacidade de sermos felizes.

Conhecer a nossa mente não só leva a uma vida feliz, como também transmuta cada traço de confusão e nos desperta completamente. Vivenciar o estado desperto é conhecer a liberdade no seu sentido mais puro.

Esse estado de liberdade não depende de circunstancias externas. Não flutua com os altos e baixos da vida.

É sempre o mesmo, não importa se vivemos perda ou ganho, louvor ou crítica, condições agradáveis ou desagradáveis.

No início, temos apenas um breve lampejo desse estado, mas os lampejos podem se tornar cada vez mais familiares e estáveis.

Ao fim desse processo, o estado de liberdade torna-se o próprio solo de nossa experiência. Diante disso e com isso podemos afirmar que, pela cultura oriental, o sofrimento só será um problema, quando não reconhecermos nenhuma possibilidade de nos libertarmos dele.

Enquanto estamos dispostos a trabalhar com nossa dor, ela se torna uma experiência produtiva. É isso que nos faz querer ser livres. De outra forma, como teríamos sequer a ideia de liberdade — liberdade com relação a quê?

O sofrimento faz nossa aspiração ser muito mais poderosa ao torná-la real. Age como um catalizador; reforça nossa decisão de trabalhar com a própria mente.

Quantas vezes dizemos para nós mesmos: “De agora em diante, realmente quero ser livre, me libertar desse sofrimento e dessa dor.” Se não for assim, se estivermos contando com um milagre ou alguma forma de intervenção divina, sem esforço da nossa parte, é como contratar um assassino de aluguel sem qualificação.

Seguimos esperando que ele faça o trabalho que contratamos, mas nada acontece. Enfim percebemos que a pessoa que contratamos para nos livrar de nossos problemas não vai fazer nada. Temos que nós mesmos atirar em nossa ignorância, à queima-roupa.

Veja que interessante poder sugar e apreender dos ensinamentos que, quando nos encontramos em uma situação em que nos sentimos sem esperança nenhuma, é nesse exato momento que começamos a ter um gostinho da verdadeira liberação.

Quando estamos desesperados, quando perdemos tudo e não temos controle sobre o que está acontecendo conosco — é nesse momento que os ensinamentos podem nos causar maior impacto.

Não se trata mais de ensinamento teórico. Quando estamos no fundo do poço de nossas vidas e estamos sofrendo profundamente, esse é o momento de sermos fortes.

Não é hora de desistir, muito pelo contrário, devemos olhar para dentro e dizer: “Chega, não vou mais cair nesse padrão. Isso acaba hoje.”

É ali mesmo que nos conectamos com o poder de nosso coração de um oriental, e porque não, de um igual a nós mesmos, um sujeito rebelde e com a nossa mente da liberação individual, e assim nos colocamos na rota para a liberdade.

Concluindo, citando Dzogchen Ponlop Rinpoche, no livro “Buda Rebelde”: “Para começar, trata-se de uma tradição não teísta. Na perspectiva budista, não há uma entidade sobrenatural que existe fora de nossa mente. Não há um ser ou força que tenha o poder de controlar a nossa experiência ou dela criar um céu ou um inferno. Essa capacidade só existe em nossa mente. Mesmo seres iluminados como o Buda não têm o poder de controlar a mente dos outros. Eles não podem criar um mundo melhor ou pior para nós, ou dissipar a nossa confusão. A nossa confusão é criada pela nossa mente e só ela pode transformar a si própria. Assim, a entidade mais poderosa no caminho espiritual budista é a mente.”

Então, com Buda ou sem Buda, se queres ser feliz conheça a si próprio, ou melhor, conheça a sua mente.

Extrema, 08/06/21.

Milton B. Furquim

Milton Furquim
Enviado por Milton Furquim em 08/06/2021
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