O amor é um jogo em que o perdedor ganha tudo.

Muitos se referem ao amor como um jogo, uma arte da conquista que frequentemente se assemelha a uma caça, na qual homens e mulheres assumem papéis distintos e complementares. Tradicionalmente, o homem sente prazer na sensação de conquista, enquanto a mulher valoriza o sentimento de ser desejada, de se tornar o objeto dessa busca amorosa. A frase “O amor é um jogo em que o perdedor ganha tudo” sintetiza uma ideia paradoxal e profundamente reflexiva sobre o amor. Sugere que, em uma relação amorosa, o verdadeiro vencedor não é aquele que conquista ou domina, mas aquele que se entrega, que se arrisca emocionalmente, mesmo que, superficialmente, pareça ser o perdedor.

 

Esse “perdedor” — a pessoa que se doa, que se expõe e que permite ser vulnerável — é, na verdade, quem mais ganha. Ganha porque vivencia plenamente a essência do amor, aprende sobre si mesmo e encontra um tipo de enriquecimento emocional e existencial que transcende os resultados imediatos da relação. Mesmo quando o romance não culmina em um final feliz, o perdedor sai mais humano, mais consciente e mais transformado.

 

De maneira ampla, a frase desconstrói a lógica competitiva dos jogos tradicionais. No amor, o valor reside na entrega, no aprendizado e no crescimento pessoal que advém dessa vulnerabilidade. O verdadeiro ganho, portanto, não é material ou visível, mas emocional, espiritual e ligado ao processo de autodescoberta. Ao se abrir e revelar sentimentos genuínos, a pessoa, mesmo ao perder no amor, emerge com um entendimento mais profundo de si mesma e do que é amar.

 

Uma obra que ilustra perfeitamente essa noção é o romance epistolar “Relações Perigosas”, de Pierre Choderlos de Laclos, um clássico do século XVIII que também ganhou adaptações cinematográficas, como Valmont, dirigido por Milos Forman, e Segundas Intenções, uma releitura moderna voltada para o público jovem.

 

A trama gira em torno de dois personagens da aristocracia francesa: a Marquesa de Merteuil e o Visconde de Valmont. Ambos são manipuladores brilhantes e sedutores implacáveis, que transformam o amor e o desejo em armas de seus jogos de vingança e controle. Eles manipulam várias pessoas ao redor, especialmente a inocente e virgem Cécile de Volanges e a virtuosa Madame de Tourvel, para demonstrar seu poder de sedução e desdenhar dos sentimentos alheios. Contudo, o jogo que inicialmente parece controlado e meticulosamente arquitetado desmorona em uma tragédia que destrói a todos.

 

A Marquesa de Merteuil é uma mulher astuta e independente, que usa seu charme e inteligência para manipular os homens e consolidar sua posição em uma sociedade patriarcal. Já o Visconde de Valmont é um sedutor habilidoso que, apesar de suas intenções cínicas, acaba sucumbindo a um amor verdadeiro por Madame de Tourvel, a quem inicialmente pretendia conquistar apenas como parte de uma aposta. Madame de Tourvel, por sua vez, representa a virtude e a moralidade, mas sua resistência emocional é esmagada pelos avanços calculados de Valmont. Já Cécile, ingênua e vulnerável, é manipulada como uma peça de tabuleiro, perdendo a inocência e sofrendo danos irreparáveis.

 

O final de Relações Perigosas é devastador. Valmont, que descobre tardiamente que ama Madame de Tourvel, morre em um duelo. Tourvel, consumida pela culpa e pelo sofrimento, adoece e falece. A Marquesa de Merteuil, outrora no controle de tudo, é desmascarada publicamente e perde sua posição social. Cécile e Danceny, um jovem também manipulado, têm seus futuros marcados pela dor e pela desilusão.

 

A frase “O amor é um jogo em que o perdedor ganha tudo” reflete-se nessa história, pois, paradoxalmente, aqueles que perderam — como Tourvel e Cécile — saem com um autoconhecimento que transcende as tragédias que enfrentaram. Elas são transformadas pelo amor, mesmo que ele tenha sido envolto em dor. Valmont, que parecia ser o mestre do jogo, também descobre, ao perder, a profundidade do sentimento que negligenciou, o que torna sua tragédia ainda mais pungente. 

A cena que culmina na corrupção da Marquesa, em que ela se entrega definitivamente a Valmont, em um ato de sexo sobre a mesa, é um momento permeado por desejo, culpa, o o pecado da traição, imoralidade e tesão desmesurado simultaneamente em ceder a tentação a tanto tempo refreada e naquela ato consumada. Trata-se de um instante trágico e, paradoxalmente, belo.

 

Ai eu relaciono a literatura com meu caso particular. No livro sobre conquista, o poeta Ovídio aconselha a frase do templo de Delfos que diz: “Conhece-te a ti mesmo”. E isso significa conhecer as suas qualidades, aquelas que podem agradar as mulheres, que podem ser mais sedutoras.

 

Sinceramente, eu não chamo tanto a atenção pela aparência ou pela compleição física, apesar de ter um rosto harmônico e uma barba, que é a maquiagem do homem, conferindo masculinidade e charme ao meu rosto. E meu físico me agrada; é esbelto. Eu sou privilegiado fisicamente e, se não fosse um pouco de gordura localizada na barriga, eu consideraria o “shape” perfeito. Se ela fosse definida e os músculos mais torneados, seria ideal. Mas um dia consigo esse resultado.

 

Em ambientes que privilegiam a aparência e o porte físico, como baladas cheias e música alta, eu não costumo me sair bem. Mas, em locais calmos, como barzinhos e afins, onde posso falar, mostrar minha autenticidade, originalidade e apresentar meu conteúdo, certamente me destaco e costumo me sair bem. Embora eu não goste de falar em público, em uma roda informal de amigos, minha eloquência sempre se destaca.

 

Eu sou uma orquídea, um unicórnio. Tenho um charme e elegância naturais, uma educação e um porte nas maneiras, ao mesmo tempo uma ousadia e provocação de ser. Não gosto da palavra “estiloso”, prefiro o adjetivo “elegante”. Tenho bom gosto e bom senso estético para objetos, roupas, livros e afins. Mas dizem que estilo não se ensina: ou você tem ou não. A capacidade de combinar cores de modo coerente, sem chamar atenção em demasia e na medida certa, é uma arte que poucos dominam. Daí eu ser um apreciador do dandismo.

 

Mas tenho aquela coisa de ser bonito pelo intelecto, e convenhamos, não é comum alguém da minha idade ter meu repertório cultural, meu conhecimento filosófico, cinéfilo, musical — afinal de contas, já fiz freela de DJ —, sociológico e de outros pensadores relevantes, unindo a isso informações irrelevantes, mas que fazem parte do meu hobby, como futebol americano e tradicional, basquete, nomes de jogadores, técnicos atuais e antigos, dados históricos sobre esportes, história dos videogames e da indústria pop.

 

Na era da modernidade líquida, marcada pelos aplicativos de relacionamento, onde as pessoas se expõem como vitrines de uma loja, minha imagem, somada ao meu conteúdo, faz com que eu me destaque na multidão. Abordo as pretendentes de forma original e autêntica, e meu conteúdo sustenta o interesse e mantém a conversa. A linguagem é meu habitat natural, por isso me saio bem nesses aplicativos de mensagens, e não é difícil para mim conhecer pessoas novas ou arrumar um “contatinho”.

 

No entanto, sinceramente, hoje estou com zero paciência para o processo de puxar assunto, conhecer alguém novo, cativar a pessoa. Além disso, tendo passado por problemas recentes com mulheres que esperavam de mim algo mais sentimental do que eu estava disposto a oferecer, decidi cancelar minha conta em todos os aplicativos e redes sociais. Atualmente, estou apenas no Recanto das Letras.

 

É muita informação para assimilar, para filtrar, nomes de autores, conceitos e ideias. Mas tudo isso me ajuda na hora de falar sobre mim, de formar um discurso que pode ser original, sedutor e me ajudar nesse jogo do amor, em que eu sempre perco. E, paradoxalmente, talvez seja exatamente nesse papel que eu mais cresça.

Dave Le Dave II
Enviado por Dave Le Dave II em 23/01/2025
Reeditado em 23/01/2025
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