BRASIL - TERRA DA ÁGUA

Dono das maiores reservas de água potável do planeta, o Brasil ainda peca pelo desperdício e falta de conscientização quanto ao uso racional de seu bem mais precioso

De acordo com a ONU – Organização das Nações Unidas, cada indivíduo necessita aproximadamente de 110 a 150 litros de água por dia para atender suas necessidades básicas, incluindo a higiene pessoal. No Brasil, o consumo per capta diário ultrapassa 250 litros, ou seja, mais do que o dobro da média necessária. No verão o gasto ainda é maior, e o consumo supera facilmente 450 litros segundo a SABESP – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo. Há pouco mais de um ano, a NAS – National Academy of Sciences, corporação norte-americana voltada para estudos e publicações científicas, divulgou um ranking com os maiores consumidores de água no planeta; e, nesse quesito, o Brasil ocupa o 4º lugar, atrás somente da China, Índia e dos Estados Unidos. Juntos, esses quatro países são responsáveis pela demanda de quase 40% da água utilizada na produção agrícola e de bens de consumo em todo o mundo. Outro dado alarmante é que quase metade da população mundial não tem acesso à água de qualidade, situação paradoxal ao considerar que 2/3 do planeta são constituídos por mares, oceanos e rios. A explicação é que, desconsiderando as águas salgadas, sobram pouco mais de 2,5% desses recursos, teoricamente apropriados para matar a sede de 6 bilhões de habitantes; teoricamente, porque uma parte desse índice se refere aos gelos das calotas polares, outra aos lençóis freáticos e, por fim, aos lagos e rios. Há milhares e milhares de anos que a quantidade de água no planeta é a mesma, mas devido ao elevado índice de natalidade e o consequente aumento do consumo, a economia é fundamental para o futuro da humanidade.

Com 15 mil funcionários – entre os quais, cerca de 15% são técnicos –, a SABESP atende aproximadamente 27 milhões de usuários em quase 370 municípios paulistas. Só para garantir o abastecimento da região metropolitana, estão em pleno funcionamento várias centrais de tratamento e distribuição, como o Sistema Cantareira, Alto Tietê, Guarapiranga, Alto Cotia, Rio Grande e Rio Claro. Por isso, é essencial a preservação dos mananciais de captação, que correspondem às reservas hídricas: rios, lagos, represas e lençóis freáticos. Para isso, existem leis. No âmbito estadual, a Lei nº 9.866, assinada pelo governador Mário Covas em 1997, dispõe sobre as diretrizes e normas para a proteção e recuperação das bacias hidrográficas dos mananciais de interesse regional. Na esfera federal, no mesmo ano o presidente Fernando Henrique Cardoso sancionou a Lei nº 9.433, a qual institui a PNRH – Política Nacional de Recursos Hídricos, definindo a água como bem de domínio público e objetivando, entre outros aspectos, “assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos”. Pela Lei das Águas, como é chamada, cabe ao governo federal e estaduais a responsabilidade de legislar e administrar os recursos hídricos de acordo com suas necessidades regionais.

Pelo menos na retórica, escrita ou falada, as palavras são bonitas e bem empregadas. Também não faltam campanhas institucionais e publicitárias – por parte do poder público, organizações não governamentais e até da iniciativa privada – contra o desperdício e de conscientização para o uso racional da água; porém, essas mesmas campanhas tornam-se ineficazes sem a devida participação popular. Para se ter uma ideia, ao reduzir em apenas um minuto o tempo do banho, a economia pode chegar a 6 litros de água por dia; manter a torneira fechada durante a higiene pessoal ou ao ensaboar a louça representa até 80 litros a menos; e deixar a roupa acumular para ser lavada de uma só vez diminui o consumo em aproximadamente 135 litros cada vez em que a máquina de lavar é acionada. São atividades corriqueiras, mas que certamente fazem a diferença no final do mês, tanto nos gastos domésticos como nos cofres da nação.

Brasil, terra da água – No Brasil de natureza exuberante, o clima úmido contribui para a formação de uma vasta rede hidrográfica constituída por importantes rios, como o Amazonas, que percorre 3.165 km do território; o São Francisco, chamado de “rio da unidade nacional” por seus longos trechos navegáveis e integrar a região sudeste aos estados nordestinos; o Paraná, que banha o Brasil, Paraguai e a Argentina; entre outros. Juntos, os rios brasileiros são responsáveis por concentrar 12% das reservas de água potável do planeta. No entanto, apesar dessa riqueza hídrica, a distribuição é muito irregular. A Amazônia, por exemplo, que detém a maior bacia fluvial do mundo, apresenta baixa densidade demográfica; em contrapartida, outras regiões de maior concentração populacional sofrem com a grande escassez de água. Que o diga o sertão nordestino, onde a seca ainda persiste como o principal empecilho para o desenvolvimento humano e econômico.

Objeto de constantes polêmicas e confrontos ideológicos, especialmente com ambientalistas, a transposição do São Francisco deve, se não resolver, pelo menos amenizar um pouco a situação vivida por milhões de sertanistas. Pelo projeto, estão sendo construídos dois canais para desviar seu curso até o interior do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. Só que as obras, inseridas no PAC – Programa de Aceleração do Crescimento e iniciadas durante o mandado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2007, ainda estão longe de serem concluídas. Entretanto, o Velho Chico – como o rio é carinhosamente chamado – é visto como um fio de esperança numa região cuja carência é tamanha que um filete de água pode ter valor de diamante.

Água para compartilhar – Instituído em 1992, o Dia Mundial da Água – comemorado em 22 de março – tem como objetivo conscientizar a população quanto aos riscos decorrentes do desperdício, que podem trazer consequências desastrosas no futuro. E por se tratar de um assunto de interesse global, a ONU definiu 2013 como o Ano Internacional de Cooperação pela Água durante evento realizado em fevereiro na sede da UNESCO – Organização das Nações Unidas para Educação, Cultura e Ciência, em Paris. “Cooperação deve ser a palavra de ordem. Isso é essencial para preservar nossos ecossistemas, para erradicar a pobreza e avançar em igualdade social”, afirmou, na época, a diretora geral Irina Bokova. Pelo lema“Water, Water Everywhere, Only If We Share” – numa tradução literal, “Água, Água em Todo Lugar, Se a Gente Compartilhar” –, a campanha faz uso de um verbo atualmente em evidência nas redes sociais: compartilhar. Assim, por que não conjugá-lo também no que se refere às questões práticas?

Por ocasião do Dia Mundial da Água, o SINTEC-SP – Sindicato dos Técnicos Industriais de Nível Médio do Estado de São Paulo divulgou uma nota, em forma de alerta à população, por meio de seus canais de comunicação: “Assim como o ar que respiramos e a terra de onde tiramos o nosso sustento, a água é imprescindível à nossa sobrevivência e à perpetuação da vida no planeta. Por isso, vamos racionar o uso, sem desperdícios; vamos cuidar das nossas reservas hídricas, mantendo nossos rios limpos; enfim, vamos zelar pelo bem natural mais precioso que dispomos”, diz o texto.

Algumas curiosidades sobre a água

- De acordo com especialistas, no futuro poderá haver conflito entre países por disputa de água;

- De toda a água utilizada no mundo, 10% é destinada ao consumo humano, 20% para uso industrial e 70% na agricultura;

- Hipoteticamente falando, se toda a água do planeta coubesse numa garrafa de 1 litro, apenas meia gotinha seria apropriada para o consumo;

- Água poluída não significa, necessariamente, estar contaminada; mas, água contaminada é, certamente, poluída. E, segundo a OMS – Organização Mundial da Saúde, mais de 80% das doenças são causadas pela ingestão de água contaminada;

- O ser humano pode sobreviver um mês sem se alimentar, mas no máximo uma semana sem ingerir água;

- Água em estado sólido pesa 9% menos do que no estado líquido;

- O corpo humano contém, em média, 37 litros de água, o que equivale a 66% da massa corporal de um adulto.

Água em várias línguas

Alemão – wasser

Chinês – shouei

Dinamarquês – vand

Espanhol – agua

Francês – eau

Grego – nero

Hebraico – main

Inglês – water

Italiano – acqua

Japonês – mizu

Maltês – Ilma

Português – água

Russo – voda

Fonte: SINTEC-SP em Revista - Edição 156

http://www.sintecsp.org.br/Revistas/SINTEC-SP_156_site.pdf

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José Donizetti Morbidelli
Enviado por José Donizetti Morbidelli em 07/01/2014
Reeditado em 07/01/2014
Código do texto: T4640158
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