Por que as cotas excluem os excluídos IX

Wilson Correia

“Will.med comentou: agosto 27th, 2011 at 21:31

Depoimento Pessoal:

Sou Negro, tenho 32 anos, tive uma infância muito pobre e vivi a maior parte dela no subúrbio de Salvador, especificamente em Cajazeiras, estudei o ensino fundamental em uma escolinha pública do bairro, entrei no 2º grau no CEFET e em 1997 passei em 3º lugar no concorrido curso de Medicina da UFBA, em 9ºlugar em Medicina na Bahiana, em 8ºlugar no Instituto Militar de Engenharia (O 2º vestibular mais difícil do país – só perdendo para o ITA)e em 1º lugar na Escola de Formação de Oficiais da polícia Militar da Bahia. Nesta época não havia cotas em nenhuma destas instituições. Consegui passar graças ao esforço de meus pais em me criar com boa disciplina e valores. Alimentei meus sonhos com estes ensinamentos e alcancei minhas metas.

Já na Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, percebi que entrei em um mundo aristrocático que parecia não ser meu. dos 80 alunos do 1º semestre, apenas eu e mais um outro colega eramos negros, o restante eram brancos, tão alvos que pareciam neve.

Fiz muitas amizades e tive a oportunidade de conhecê-los e frequentar a casa da maioria deles. Lembro que não havia ninguém da periferia. Pituba e Itaigara era o Lar da Maioria.

O mais interessante é que dos 80 alunos que entraram no 1º semestre, 60 deles vieram do Mendel e Sartre (Que disputam com vigor quem aprovam mais em Medicina) e os 19 restantes eram divididos entre Oficina e PHD. Apenas eu, um únco indivíduo, entre os 80, veio de escola pública (CEFET).

Portanto, a matemática era a seguinte:

Faculdade de Medicina:

Turma 97.1: 80 alunos

78 Brancos, 2 Negros;

75 morvam em bairros nobres de Salvador, 02 em Stela Maris, 02 em Vilas do Atlântico e 01 em Cajazeiras (Eu).

Portanto, vendo esse vergonhoso número que com certeza não tenho orgulho nenhum, alguma coisa teria que ser feita, caso contrário essa proporção se manteria por muitos anos e a possibilidade de ascensão social dada a pobulação negra e pobre permaneceria a mesma.

Concordo que deve haver investimentos na educação fundamental e média, mas demoraria muito para vermos resultados. A solução portanto é a reserva de cotas mesmo.

Hoje, vivo muito bem com minha profissão, trabalho em excelentes Hospitais, tanto no setor Público como Privado, tenho um excelente salário e o msis importante de tudo isso, tenho a oportunidade de conversar e ver o trabalho de muitos estudantes negros de medicina do 5º e 6º anos que passaram pelas cotas e fico muito feliz em ver as salas de aula toda colorida com o brilho da nossa maravilhosa melanina.

Digo ainda, os nossos estudantes negros de medicina, na maioria, são melhores, mais humanos e mais dedicados que os estudantes brancos.

Chego a conclusão de que o ploblema está longe de ser resolvido, mas o primeiro passo já foi dado para o bem de todos e a felicidade geral de nosso povo negro.

Cotas Sim

A Propósito,sabe qual a diferença entre um homem branco de um negro?

A melanina acumulada na pele.

Digo ainda: Se ativassemos o gene que produz melanina em Gianechini certamente o mesmo ficaria mais negão que Pele” (Fonte: http://www.atarde.com.br/cidadaoreporter/?p=9627).

“Rebeca 29/02/2008 17:40

Sou negra, oriunda de uma família de baixa renda. Meus pais não tiveram oportunidades para ter uma formação, porque desde muito cedo tiveram de trabalhar para ajudar no sustento da família. Meus avós paternos foram escravos, meus avós maternos índios. Tudo sugeriria que eu desse continuidade a esta história...no entanto, meus pais mesmo com os poucos recursos que tinham, me ensinaram que somos responsáveis pelas nossas conquistas, e que ser negro nãoo é desculpa para ser incapaz. Me dediquei aos estudos, e mesmo tendo de trabalhar cedo, e mesmo tendo feito o segundo grau em uma escola pública, fui aprovada em uma faculdade estadual e hoje sou engenheira e tenho uma carreira de sucesso. Nunca precisei de cota ou de privilégios para chegar onde cheguei. Acredito, que o que se conquista fácil não é valorizado e quem entra em uma universidade só por ser negro mas estando abaixo do nível de conhecimento dos demais, dificilmente chega ao final do curso” (Fonte: http://jus.com.br/forum/70194/1/favor-ou-contra-as-cotas-para-negros-nas-universidades/).

As cotas não apenas excluem os excluídos, mas, perversamente, os divide. Claro, o sistema e o poder instalado agradecem!

Considerando o “sucesso” sob a ótica individualista do capitalismo, depoimentos mostram que ele é mais digno quando não conquistado pela mitigação de um privilégio (isso para quem está de acordo com esse modo material de produção da vida).

Se as pessoas portadoras de mais ou menos melanina podem ser divididas, classificadas, segregadas e, também, algumas delas, “salvas”, estão corretas as cotas.

Se o intento é tratar os desiguais desigualmente, evitando-se o arremedo de justiça social, penso que seria minimamente de bom senso que considerássemos a possibilidade de tratarmos desigualmente a todos os desiguais, e não apenas a alguns.

Minha utopia ainda é a de desejar uma situação de justiça social que inclua todos. Isso, eu sei, talvez nosso progresso científico, filosófico e cultural ainda não nos permitiu compreender.

Quem sabe meus bisnetos venham a me dar razão e entendam que o ser humano deve ter a sua dignidade respeitada pelo simples fato de ser humano?

Quem sabe meus bisnetos entendam que as pessoas não devem ser subjugadas por portarem características de superfície, mas que todos merecem condições de vida iguais para poderem batalhar em condições reais e fáticas suas trilhas de felicidade?