REUNI: o dia seguinte

Wilson Correia

O Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) foi anunciado em 2007 pelo governo federal. De início, esse programa foi visto como uma medida política endereçada ao encontro do anseio de brasileiros e brasileiras por uma efetiva democratização do acesso ao e da permanência no ensino superior público do nosso país.

Agora, depois de alguns anos fazendo e sofrendo o REUNI, a pergunta é: o programa alcançou o objetivo de combater o elitismo no ensino universitário brasileiro?

Ao que consta, talvez aquela tão reivindicada democratização da pesquisa, da extensão e do ensino universitário brasileiros não tenha logrado colocar os pés para fora do anseio, do desejo e da reivindicação. E é a realidade que está a apontar para esse sentido.

Quantitativista em seu escopo maior, visto por muitos como estratégia político-partidária apenas, a verdade é que a qualidade não acompanhou a quantidade de que o REUNI lançou mão. Hoje, as universidades cuja criação foi ensejada por esse programa estão apresentando problemas estruturais e qualitativos de profunda gravidade.

Qualquer breve pesquisa da literatura que aborda os propósitos do REUNI e o que dele decorreu nos recentes anos da educação superior pública brasileira evidencia gargalos seriíssimos no andar da carruagem das novas instituições federais de ensino superior. Trata-se do “dia seguinte” desse programa.

E é aqui que nos vemos lenhados por uma terrível contradição: como apoiar esse programa e, ao mesmo tempo, defender que ele se revista da qualidade de que tanto necessitamos no âmbito da educação universitária?

Defensores político-partidarizados e doutrinados do REUNI não parecem dispostos a admitir que ele foi levado à implementação cometendo diversos equívocos e deixando um rastro de “a qualquer custo quantitativista” por onde passou.

Críticos dessa maneira de tratar a educação superior pública, vista como direito social, não abrem mão de exigir que essa expansão não descuide da qualidade de que os brasileiros e brasileiras merecemos em nossas universidades públicas federais.

Aqueles primeiros, aparelhados pelas máquinas estatais, estão sistematicamente impondo medidas restritivas às críticas, às ações, atos e movimentos que tentam evidenciar que combater o elitismo nesse setor com uma educação desqualificada não é mais do que trocar seis por meia dúzia.

A sociedade, ao que parece, ainda não acordou do sonífero clientelista e patrimonialista que lhe foi injetado nas veias. O Brasil parece seguir a via de uma hegemonia partidária que não se abre à autocrítica, que não quer saber da crítica externa e que recrudesce nas atitudes e nos comportamentos contra o diálogo democrático e republicano que essa situação exige.

Claro que, aí, a primeira vítima é a autonomia universitária. Seguida pelos prejuízos causados às comunidades acadêmicas e pela negação de um futuro profícuo para a nação brasileira.

Em face disso, não é o momento de se adotar a atitude da humildade realista, essa que nos possibilita enxergar nossos erros e tentar todas as medidas de bom senso para corrigi-los?