Os argumentos e os homens

Wilson Correia

A argumentação é uma ação implicada na comunicação cotidiana entre os seres humanos. Ao argumentar, pensamos, raciocinamos. Aduzimos argumentos, objetamos, alegamos, respondemos, nos opomos a ou apoiamos ideias, falas, teses e discursos.

A lógica, boa ou má, está presente em nosso cotidiano. Ela conduz nossas razões e provas que arrolamos para concordarmos ou não com determinado pensamento. Quando o teor do que dizemos (matéria) casa com uma saudável maneira de nos expressar (forma), então o argumento será saudável, correto ou o que o valha.

Quando esses critérios são desconsiderados, podemos incorrer nas ditas falácias: a ação de prestidigitar, tergiversar, enganar, malograr. Nesse caso, cai-se no sofisma, que é a realização do encadeamento de razões falsas ou mal deduzidas que leva a conclusões também prejudicadas.

Uma modalidade de falácia, quase sempre visando a ganhar a aceitação alheia para uma ideia, tese ou pensamento particular, é a falácia de argumentação. Aí, vale que o outro se filie às nossas convicções, em nome das quais empreendemos estratégias argumentativas variadas. Essa falácia pode se dar de três modos:

1 Pelo “argumento ad hominem” (argumento contra o homem). São do tipo: “Não voto nele porque ele é analfabeto”, “Não voto nele porque ele só tem nove dedos”, “Não o apoio porque ele tem interesses em cargos político-partidários”. Perceba que o argumento é contra a pessoa, e não uma apreciação das ideias que ela pode expressar.

2 Pelo “argumento de autoridade”: apoiado no “status” social ou na condição jurídica que cargos profissionais e assemelhados dão às pessoas. Exemplos: “Você sabe com quem está falando?”, “Sou o gerente e decido que será assim”. Note: o argumento não se fundamenta na razoabilidade da ideia ou proposição, mas na autoridade da pessoa. “Hitler, a autoridade, mandou, eu faço!”.

3 Pelo “argumento ad terrorem”: argumento fundado em ameaças, intimidação ou promessa de provocação de prejuízos a quem ouve. Ilustração: “Todos seremos cobrados por nossas posições”, “Será preciso enforcar mais um para que aprendam como agir?”.

Em nenhum dos casos trazidos anteriormente é feita uma análise das ideias, raciocínios e argumentos, mas o pensamento vai na direção de se transformar em uma arma contra o outro. É a forma mais patética de se participar de um debate.

Essa estratégia mostra desespero, incapacidade de contra-raciocinar, de contra-argumentar e buscar o entendimento das alegações alheias para que elas possam contribuir para o enriquecimento das minhas. Com ela, porém, realiza-se a qualificação ou desqualificação de outrem, conforme o interesse circunstancial.

Vexaminoso o fato de esse tipo de ocorrência ser mais corriqueira do que se imagina. Lamentável o fato de tenta gente que deveria conhecer esses tipos de doença do pensamento se valer deles para perpetrar covardes e sórdidos ataques contra indivíduos quando o que interessa é o debate de ideias.

Que tenhamos a lucidez para não lançarmos mão disso. Esse tipo de procedimento não vai além de mostrar o pleno fracasso da razão, esse fiapo possível de luz que pode nos servir de diretriz em face de nossos problemas e da busca de soluções que merecem.