IDH Brasil 2011

Wilson Correia

A cada ano, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) elabora e publica o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH), documento que apresenta o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), medido em 187 nações.

Além do Produto Interno Bruto (PIB), indicador do poder de compra, o RDH leva em consideração dois outros fatores: longevidade e educação. Assim, anos de escolaridade, expectativa de vida e condição econômico-financeira são tomados como sinais da qualidade de vida onde o PNUD faz a pesquisa.

Neste ano de 2011, o Brasil figura no RDH ocupando a 84ª posição nas 187ª possíveis. Esse resultado causou espanto porque, além de ser a 6ª economia do planeta, ultimamente o Brasil tem sido louvado mundialmente por seus progressos em termos de melhoria das condições de vida de sua população.

No entanto, as posições de Argentina (45ª), Chile (44ª), Costa Rica (69ª), Cuba (51ª), Equador (83ª), México (57ª), Panamá (58ª), Peru (80ª), Uruguai (48ª) e Venezuela (73ª), a maioria regionalmente mais afetada pela influência brasileira, mostram que não figuramos tão bem assim nessa pesquisa. Uma pequena cotovelada dos vizinhos na megalomania de alguns brasileiros, a qual não afeta a Noruega, que continua na primeira posição no RDH.

Antes que os apressadinhos tentem dourar a pílula para nos fazer ver que está tudo azul em terras brasileiras (o Brasil ocupou a 73ª posição entre 169 países no RGH de 2010), mais uma vez precisamos injetar humildade em nosso nacionalismo. Não dá para estufar o peito de ufanismo, posto que não vivemos em um mar de rosas.

No que respeita à justiça social, a concentração de rendas no Brasil é algo fabuloso: os 10% de brasileiros mais ricos têm 50% dos recursos materiais, ao passo que os 50% mais pobres detêm somente 10% da riqueza material que produzimos, algo que faria corar o humano mais fleumático que podemos imaginar.

No quesito “anos de escolaridade”, a média nacional brasileira é de 7,2 anos. Como a injustiça econômica causada pela brutal concentração de renda afeta a apropriação de bens culturais, não é difícil imaginar o quanto é maior o número de anos de estudos que o membro dos 10% dos mais ricos entre nós ostenta em face dos 10% mais pobres Brasil afora. Os noruegueses apresentam média nacional de 12,6 anos de escolaridade.

A expectativa de vida do brasileiro é de 73,5 anos. Na Noruega, a média nacional da expectativa de vida no nascimento é de 80,2 anos. Isso mostra o quanto temos que avançar em termos de acesso à medicina e à segurança pública de qualidade.

Uma sociedade estruturalmente injusta, piramidal, excludente e desigual como a nossa só poderá tornar-se mais humana, equitativa e solidária se contar com políticas públicas de Estado que lhe toquem as raízes, permanentemente.

Políticas de governos, baseadas no patrimonialismo, no clientelismo e no assistencialismo, tidos como “custo do sistema capitalista”, não nos farão colocar os pés para além da conjuntura circunstancial, realidade da qual os brasileiros já estamos bastante cansados.