Nossos brasis

Wilson Correia

O fato de o Brasil ter ficado na 84ª posição entre 187 nações na lista do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 2010 causou espanto. Pelo que se alardeia mundo afora sobre a redução das desigualdades entre brasileiros, a expectativa era a de que tivéssemos melhor desempenho nessa contagem.

Agora, outra grande pesquisa, a do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não apenas corrobora aquele desempenho do Brasil no IDH, como mostra que a nossa desigualdade é mesmo vexaminosa: revela-nos uma nação socialmente injusta, segmentadora de pessoas pela quantidade de melanina que pigmenta nossa pele e que ainda atribui privilégios salariais às pessoas de sexo masculino.

Metade dos 190,7 milhões de brasileiros vive com R$ 375 por mês. Apenas R$ 12,50 por dia, algo que dá para pagar aproximadas 4 passagens do transporte coletivo em cidades como Goiânia e Salvador. Uma brasa que queima nossa dignidade. Acende o “brasil” da indecência.

Enquanto isso, a faixa dos 0,16% mais ricos entre os brasileiros inicia seus ganhos mensais com um valor de R$ 15.300, os mesmos que desfrutam o sentimento de impunidade, ao passo que quem tenta roubar manteiga, atum e óleo comestível amarga, na cela, o peso da lei que ignora a insignificância e a vontade famélica.

Em nossos brasis, os 10% dos homens que ganham R$ 6.280 mensais percebem uma renda 30 vezes maior que os 10% dos assalariados mais pobres: R$ 209,32. Mulheres com renda de R$ 4.164,04 ganham 42,2 vezes mais do que aquelas que recebem somente R$ 98,74 por mês.

Os indígenas brasileiros ganham renda média de R$ 345 por mês. Pardos, R$ 496. Pretos, R$ 539. Amarelos, R$ 994. Brancos, R$ 1.020,00 mensais.

Essa desigualdade se estende à educação. Temos 9,6% de analfabetos.

No Nordeste, esse número salta para quase 20%. Por conta disso, 3,9% das crianças na faixa etária entre 10 e 14 anos são analfabetas. São 671 mil crianças que não sabem ler, escrever e contar.

Quanto ao saneamento básico, 67% das moradias não contam com esse serviço essencial. Na região Norte, por exemplo, 40,6% das residências não são servidas por redes de esgoto.

Sobre segurança pública, os dados mostram que os homens continuam morrendo mais que as mulheres: a cada 100 óbitos femininos contam-se 133 mortes de pessoas do sexo masculino. Entre os jovens mortos, 80% deles encontravam-se com idades que vão de 20 a 24 anos e eram homens, o que mostra como a violência entre nós segue aterradora.

Ah se um país melhorasse sob o condão de decretos, discursos políticos e peças publicitárias veiculadas, ufanisticamente, em todas as mídias!

Qual nada. A doença brasileira que é a de distribuir privilégios em lugar de criar e garantir direitos continua sendo nosso principal calcanhar de Aquiles.