Da relação orientador-orientando

Wilson Correia

Em nosso sistema de ensino, ao término da graduação, da especialização, do mestrado, do doutorado e do pós-doutorado, o estudante deve apresentar um trabalho acadêmico conclusivo que demonstre domínio teórico, metodológico e técnico relativo àquilo que foi o objeto de seus estudos, pesquisas, investigações.

A natureza comum a esses trabalhos é monográfica (mono = um; gráfico = escrita). No Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação (TCC), no Trabalho de Graduação Indisciplinar da Especialização (TGI), na Dissertação de Mestrado, na Tese de Doutorado e no Relatório do Pós-doutorado, o estudante-pesquisador estuda um só problema, um só assunto ou um só tema.

A elaboração desses trabalhos todos passam por três momentos, a saber:

1 PLANEJAMENTO

O planejamento é a fase durante a qual o estudante escolhe seu tema conforme suas afinidades pessoais, o que inclui teoria (base conceitual), metodologia (percurso investigativo), técnica (procedimentos de colheita de dados e informações), tanto quanto afeição ideológica, política e ética.

Assim como uma casa foi, antes, uma “planta” nas mãos de um engenheiro, do planejamento deve resultar um “plano de pesquisa ou investigação” nas mãos do estudante, o qual esclareça, de maneira o mais objetivamente possível: assunto, problema, metodologia e técnicas investigativas, entre outros.

Esse é um trabalho autoral e compreende a elaboração do Projeto de Pesquisa, seja ele cientifico ou filosófico. Nessa fase, seja na Graduação, na Especialização, no Mestrado, no Doutorado ou no Pós-Doutorado, o orientador ainda não é requisitado. Para isso existem as disciplinas ou componentes curriculares de Metodologia Científica que ensinam como elaborar Projetos de Pesquisa.

Porém, é claro que, aí, o estudante faz o seu projeto tendo em mente quem pode orientá-lo, mas sem chamar à orientação para a elaboração do projeto aquele com o qual conviverá na condição de orientador, o que só passará a existir no começo da Execução do Projeto de Pesquisa.

2 EXECUÇÃO

A execução do Projeto de Pesquisa é semelhante à da “planta” de uma casa. É quando o estudante começará a lançar as bases de seu trabalho, imprimindo-lhe as pedras das fundações, o cimento ligando os tijolos, a vigas de sustentação, e assim por diante.

Nessa hora, sim, entra o ORIENTADOR, que é aquele que supervisionará o trabalho. Aí ele lê o trabalho escrito, sugere adequações, redimensionamentos, alerta para “furos”, inconsistências e ciladas que o trabalho intelectual pode acarretar. Não mais que isso, pois o trabalho acadêmico continua a ser autoral, ou seja: de responsabilidade do estudante, daquele que fará a defesa pública do relatório final de seus estudos nas formas de TCC, TGI, Dissertação, Tese, os quais, concluídos, são encaminhados à avaliação.

3 AVALIAÇÃO

Óbvio que o orientador, minimamente preparado, não deixará um trabalho com problemas graves ir à avaliação, a qual será realizada mediante a escolha, POR AFINIDADE EPISTÊMICA, de dois outros avaliadores (a quantidade de avaliadores varia conforme o grau: Graduação, Especialização, Mestrado, Doutorado). Pós-Doutorado, normalmente, não implica defesa pública, mas apenas entrega de relatório.

Esses avaliadores, além do orientador, farão uma leitura detalhada e exaustiva do trabalho, sobre o qual têm a tarefa de apontar as fortalezas e as fragilidades, averiguando se o produto apresentado à avaliação cumpre o mínino exigido pela comunidade científica ou filosófica para ser aprovado.

Podemos notar que esse é um empreendimento formativo. É educação científica e filosófica levada ao campo da produção de informações, conhecimentos e saberes, e não mais da simples mobilização de conteúdos epistêmicos, ainda que a originalidade, em nosso sistema de ensino, seja requisitada apenas a partir do Doutorado.

Como afirma Saviani, essa relação orientador-orientando visa a oferecer condições de possibilidade a que o estudante alcance autonomia intelectual:

“É, com efeito, através do processo de orientação que o aprendiz de pesquisador pode dar, com segurança, os passos necessários ao domínio dessa difícil prática que é a pesquisa, de modo a ganhar, ao cabo do processo formativo, a indispensável autonomia intelectual...” (SAVIANI, D. A pós-graduação em Educação no Brasil: pensando o problema da orientação. In: BIANCHETTI, L. & MACHADO, A. M. N. (Orgs.). “A bússola do escrever: desafios e estratégias na orientação de teses e dissertações”. Florianópolis/São Paulo: Editora da UFSC/Cortez, 2002, p. 159).

Que esse processo, então, possa ser vivido em proveito da formação intelectual. Para tanto, vale lembrar que “Embora os mestres e os livros sejam auxiliares, é do esforço próprio que resultam os mais completos e brilhantes resultados” (Garfild).

Assim sendo, caros alunos e orientandos, mãos à massa!