Cotas

Cotas: a inclusão como forma de legitimar o sistema de exclusão.

Wilson Correia

E está tudo bem!

Se nossa consciência pode ser aliviada pela inclusão que exclui multidões, para que se importar com a luta pela transformação da sociedade capitalista? Onde a justiça e liberdade?

O “homo sapiens” criou um sistema de vida baseado no egoísmo e no guetismo.

Claro!

Nesse sistema, alguns se julgam mais merecedores de todas as possíveis benesses da existência.

Os donos do mundo são poucos e dominam a todos. Enquanto isso, os dominados passam a debater quem, entre os não possuidores de nada, mais fazem por merecer a exclusão, a pobreza, a miséria, a fome e a morte.

Um escândalo!

Enquanto os desamparados digladiam, aqueles donos do mundo continuam levando a melhor sobre todos.

Eles são indiferentes com relação aos conceitos de dignidade humana que a Modernidade elaborou, já demonstrando o fracasso total do gênero humano, forçado a ter que elaborar declarações, códigos e constituições porque, na vida prática, ele se demonstrou incompetente para respeitar a vida ali, diante de seus olhos.

Temos dificuldade de reconhecer isso. Somos avessos a causas comuns. Lutar segmentadamente parece a melhor saída. Não nos damos conta de que a guetização é só mais uma forma de exclusão e assassínio.

Quem luta pela “inclusão de alguns” não se toca para o drama dos imensos contingentes de excluídos, mesmo para aqueles do gueto que querem inclusos.

Lutar pela inclusão de alguns é adotar o cinismo que se rebaixa ao mais vil entendimento de que os sistemas de exclusão e destrutividade estão plenamente legitimados.

Em vez de lutarmos por justiça social universal, e pela raiz, ainda preferimos os preferidos próximos mais próximos.

E o escândalo continua!

Que fazer do gênero humano?

Esse que se debate por paliativos, quando o verdadeiro remédio para seus males está em suas mãos?

De fato, nunca fomos humanos!

Onde encontrar o princípio ativo capaz de nos levar ao caminho de volta para aquilo que realmente podemos ser?

Que tenhamos olhos!

Os primatas não cansam de nos dar variadas lições sobre esse nosso dilema...