A greve dos professores e a educação pigméia

Wilson Correia

Os gregos davam o nome de “pygmaios” (pigmeu) à medida de um côvado (0,66 m). Hoje, o termo “pigmeu” caracteriza seres, coisas e processos pequenos. Por isso, referir-se à “educação pigméia” é fazer alusão a sistemas de educação e a práticas educativas norteadas pelo que é baixo, escasso e apequenado.

Grande é a necessidade humana de fazer com que crianças, jovens e adultos participem ativamente da produção e apropriação de bens materiais, sociais e simbólico-culturais (aqui, especificamente, dos bens da educação). No entanto, pequena é a importância que atribuímos à educação escolar. Parece ser por isso que organismos internacionais (Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional e seus braços ao redor do mundo) estabelecem que os Estados não ultrapassem o percentual de 7% do Produto Interno Bruto nacional no valor dos recursos que destinam à educação. No caso brasileiro, sabemos que esse percentual teria de ser de 10%.

Imensa é a urgência de fazermos da educação nossa prioridade número um, incluindo, aí, a valorização do professor, o que não será alcançado sem a observância do piso nacional do magistério (ainda precário), cujo valor para 2012 é de R$ 1.451. Pequena é a sensibilidade de nossos governantes estaduais e municipais (que deveriam servir ao povo, de cujo suor extraem os próprios salários) para com esse tópico. Segundo dados da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, 17 estados brasileiros não cumprem essa lei, a saber: Acre, Alagoas, Amapá, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Piauí, Paraná, Rondônia, Rio Grande do Norte, Roraima, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe e Tocantins. Se fôssemos contabilizar nessa lista a quantidade de Prefeituras que também não honram esse compromisso, nosso susto poderia ser ainda maior.

Grande se torna nossa preocupação diante desse fato: se a lei é feita para não ser cumprida, qual o peso desse gesto antieducativo, protagonizado por nossas autoridades? Pequena não pode ser a nossa indignação.

E é por grande indignação que, a meu ver, torna-se facilmente justificável a atual greve dos professores (15, 16 e 17 de março de 2012). Enquanto nosso país se esmera em dispêndios para organizar a Copa do Mundo, a enorme negligência para com a educação faz com que nossos governantes prefiram mandar o professor virar servente de pedreiro (caso de um assessor parlamentar mineiro, que ofendeu os trabalhadores da construção civil) ou “dar aula” por gosto e amor (caso de Marconi Perillo, governador de Goiás).

Enquanto apenas verbalizam injúrias vis e baixas como essas, o grande peso a ser suportado pelos docentes parece menor. O gigantesco problema é quando governos, diante de crianças, jovens e adultos, mandam espancar professores e professoras (caso recente do Ceará) para que holofotes captem a lição de desrespeito àqueles profissionais que, no Japão, por exemplo, são os únicos que não se curvam em reverência ao Imperador, uma vez que a dignidade dos primeiros é que motiva a prática da estima ao mestre por parte do segundo.

Por ser grande nossas necessidades educacionais, visando a oferecer ao Brasil um projeto de nação digno desse nome, mas por ser quase insignificante o esforço para fazermos da escolarização nossa prioridade número um, é que a nossa é uma educação pigméia –assim mantida, há séculos, por aqueles que julgam conveniente mantermos também o Brasil na indigna condição minoritária de um país pigmeu.