Ética, aética, antiética

Wilson Correia

Ao se referir à então possível expulsão do Senador Demóstenes Torres, aquele lá de Goiás, envolvido com os negócios do “empresário” do jogo do bicho, o Carlinhos Cachoeira, o Senador Agripino Maia, em um “ato falho” (dizer a verdade quando se queria dizer outra coisa), disse aos microfones das “tevês”: “O partido tem uma história clara de não convivência com a ética...”.

Pois então, vamos aos termos.

ÉTICA. Conjunto de regras de conduta. Imagem ética: a que mostra ao vivo os costumes, índole e natureza das coisas.

ANTIÉTICA. O que é contrário à ética, à determinada ética, diga-se.

AÉTICO, AÉTICA ou ANÉTICO, ANÉTICA. O sufixo “a” exprime negação. Logo, “aético” ou “aética” (“anético” ou “anética”) significa “não ético”. Onde ou em quem a ética falta. Que não se orienta por uma ética. Alheio a ela, que não a tem como orientadora de comportamento.

Raramente, um ser humano não tem uma ética, no sentido de não se guiar na existência com base em um conjunto de valores dos quais possa extrair critérios para realizar suas escolhas, decidir e agir (ouso dizer que nenhum ser humano no mundo prescinde de um conjunto de valores que lhe dê princípios e regras de ação segundo os quais modela seu estilo existencial. Por isso a palavra “aética” é mais empregada para se referir a coisas, por exemplo: àquilo que não realiza em si uma ética, mas que, também, e por isso mesmo, não é contra um determinada concepção ética.

Um “empresário” do jogo do bicho segue a ética dos bicheiros. Um senador que se guia e age para atender aos interesses e às orientações de um bicheiro comporta de maneira antiética ou anética com relação à ética republicana, que pede do agente público a ação em nome e em prol do bem comum, da coisa pública, pertencente a todos, à cidadania.

A obra de arte que o artista cria pode ser considerada “aética”, no sentido de ser posta à apreciação sob a perspectiva da “estética” (parte da filosofia que trata do belo e do sentimento que ele desperta em nós), que envolve não a cognição valorativa, mas, sim, a cognição apreciativa sob o critério do “belo”, do “sentimento”, da “emoção”. Tomar a estética pela ética é uma via distorcida do ato avaliativo cujo objeto é a análise ética.

Segundo Giacóia Júnior, “Ética” é a “parte da filosofia que estuda o agir humano, na medida em que este é orientado por hábitos e por representações de virtude, dever e obrigação, podendo ser objeto de um juízo de valor (moral); também teoria da ‘práxis’ humana, envolvendo o plano das decisões, atos de vontade, autonomia e responsabilidade dos agentes” (GIACÓIA JÚRIOR, Oswaldo. “Dicionário de filosofia contemporânea”. São Paulo: Publifolha, 2009, p. 77).

Moral da história: só mesmo um ato falho para fazer certos políticos fazerem a verdade qualificar aquilo que dizem.