Uma bolsa por uma consciência

Wilson Correia

“Eu gosto do impossível, tenho medo do provável, dou risada do ridículo e choro porque tenho vontade, mas nem sempre tenho motivo.

Tenho um sorriso confiante que, às vezes, não demonstra o tanto de insegurança por trás dele.

Sou inconstante e talvez imprevisível.

Não gosto de rotina. Eu amo de verdade aqueles pra quem eu digo isso, e me irrito de forma inexplicável quando não botam fé nas minhas palavras.

Nem sempre coloco em prática aquilo que eu julgo certo.

São poucas as pessoas pra quem eu me explico...”

“Bob Marley”

As muitas estão ocupadas em ganhar uma bolsa para se calarem!

Sim! ‘Homo venalis’ somos nós. Homem venal. Por qualquer algo que tenha o poder de comprar, eu me vendo. E fim de papo.

Não importa se a bolsa que “vem a mim o vosso reino” dependa de centenas de excluídos, ou mais. Eu quero o meu carnaval(zinho), do tamanho da minha cognição. Pigmeu feito minha visão de mundo. Do tamanho da minha capacidade de fazer “análise de conjuntura”.

Sim! Eu sou do tipo que emparelha com o desalmado, com o frouxo e com o covarde, desde que o pingo em minha taça continue ao lado de taças vazias. Ah! Ele me orienta e eu sou orientando ou orientanda dele. Não quero saber se ele sacrifica o colega, se vive da mentira, do oportunismo, da tratoragem que só os cegos que enxergam o próprio umbigo e o umbigo do movimento a que pertencem podem praticar.

Ele é criminoso? O que me importa se é ele quem me garante a bolsa?

Ele manipula? O que me importa se é ele que me mantém o cerveja da sexta-feira?

Ele é um manifesto injusto intelectual? Vá lá... Salvando meu TCC, que mal tem nisso eu em nele me encostar?

Eu sou tão visionário, que enquanto homens e mulheres se divertem sexualmente com animais irracionais, eu me encontro aqui, a pelejar contra a tal heteronormatividade, querendo que minha homonorma passe a ditar quem deve viver e quem deve morrer - a peso de bolsa, que é, em última instância, dinheiro do povo usado para incluir alguns e excluir para mais de três casas decimais.

Eu me contento com bolsa. Eu me contento com discurso. Eu me contento com que, se me cai a esmola no bolso, pouco importa quem esteja a assinar a regra para que ela (a bolsa) continue a cair -na conta da minha (in)consciência.

Sabe como é... eu livro o meu porque nessa sociedade individualista e narcísica não me cabe ver quando, como e onde minha vida, para ser vida, depende dos demais ao meu redor.

Um idiota eu me descubro. Mas que mal há nisso, se Descartes já elevou a idiotice à regra capital de toda racionalidade possível?

Oh... tenho “ouvido” todas essas confissões. Bem em meio à escuta, estranhamente, extemporaneamente, exoticamente, surge-me um desejo: de ver o tempo como aquele quando queríamos o impossível, posto que querer o pão-pão queijo-queijo era apenas para os alienados que não sabiam o que fazer de si mesmos e da história que os desafiava a fazerem-se dignos da vida que lhes recostava às próprias mãos.

Minha consciência está à venda...

Alguém com uma bolsa se habilita???