A Rio +20 e suas falácias

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“QUARTA-FEIRA, 6 DE JUNHO DE 2012

Sobre a Rio+20 e a Falácia do ‘Desenvolvimento Sustentável’.

O falacioso conceito ‘desenvolvimento sustentável’ vem sendo afirmado de forma tão recorrente a ponto de ter se tornado o tema da Rio+20 e uma das expressões mais pronunciadas pela nossa mídia, economia e política, conquanto esse conceito, ao que tudo indica, não seja algo realizável em escala global.

Lembremos aqui que a palavra ‘desenvolvimento’, no contexto implícito naquele termo, se refere ao crescimento econômico, implicando esse conceito erroneamente que é possível que as economias continuem a crescer sem que isso seja ambientalmente insustentável.

Infelizmente, esse falacioso termo acabou por se tornar o tema principal da ‘Rio+20’, sendo isso bastante questionável, uma vez que não coloca em dúvidas a possibilidade de se conciliar o frenético desenvolvimentismo com a ecologia.

A todo minuto ouvimos os repórteres, economistas e governantes nos bombardearem como ignotos e irresponsáveis falastrões com esse termo de forma quase subreptícia na qualidade de algo praticável, não obstante esse conceito se mostre até hoje meramente hipotético, ou seja, é algo que não foi comprovado nem validado cientificamente de forma objetiva no campo do pragmático.

A verdade é que ninguém, até hoje, apontou indícios consistentes de que a teoria do ‘desenvolvimento econômico sustentável’ seja viável na prática em escala global. Muito pelo contrário: diversos especialistas afirmam fundamentadamente a impossibilidade de se reverter os catastróficos danos que impingimos ao planeta sem severas restrições ao consumo dos mais ricos, o que fatalmente significa grande diminuição no desenvolvimento econômico.

Isso sem falar na necessidade da implementação de rigorosas políticas de controle de natalidade para a estabilização populacional mundial, o que estagnaria o mercado de consumo e se tornaria um estorvo para o desenvolvimento econômico, além de ocasionar um complexo problema no campo da previdência em diversas nações, o que contribuiria ainda mais para o enfraquecimento das economias.

Isso sem falar nos gigantescos investimentos necessários para transformar a nossa civilização extremamente predatória em uma sociedade ambientalmente sustentável, recursos esses que são verdadeiramente exorbitantes e imensamente superiores aos atualmente investidos em escala global.

Sem qualquer dúvida, o nosso planeta não pode abrigar de forma sustentável uma população muito superior à atual em condições socioambientais aceitáveis, mesmo que ocorram severas restrições ao consumo dos mais ricos.

Se olharmos objetivamente, o conceito ‘desenvolvimento sustentável’ é algo cientificamente refutável. Portanto, uma elite global quer nos vender, enganosamente, a ideia de que é possível existir uma cultura de consumo que se mostre sustentável, sendo que ninguém, até hoje, comprovou que isso seja verdade. Muito pelo contrário.

Infelizmente, na Rio+20, e nas conferências afins, tem sido muito afirmado esse falacioso termo, enquanto tem sido dada pouca palavra às verdadeiras grandes autoridades mundiais em ecologia que são os indígenas da Amazônia, sendo, na minha opinião, os Yanomami os protagonistas da cultura que elaborou o mais refinado modelo de ecologia do mundo, que é totalmente divergente daquele implícito no falacioso termo ‘desenvolvimento sustentável’.

Na minha opinião, os Yanomami estão absolutamente corretos no que diz respeito à ecologia, e a verdade nua e crua é a seguinte: para ser verdadeiramente ecológica, uma cultura deve ser parcimoniosa e retirar da terra apenas o estritamente necessário à sua manutenção e sobrevivência.

Na realidade prática, ecologia e desenvolvimento econômico são dois pólos opostos que não podem ser unificados artificialmente por meio do falacioso ‘desenvolvimento sustentável’’ (Augusto Morgan. El Eldorado do Parima).

“Rio +20: A Falácia da Economia Verde e da Sustentabilidade

Prof. Waldir Bertulio*

Primeiro, que os países industrializados e detentores do poder na globalização financeira não estão interessados em assinar, muito em menos cumprir qualquer acordo ou protocolo que altere o ‘status quo’ da transferência da poluição ambiental para os países periféricos. Mesmo que estejam entre os BRICS (nome utilizado pelo economista Jonhn Oneil, em 2001, para designar o grupo de países ditos emergentes formados pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

O argumento não verbalizado é pagar para continuar poluindo e, ainda, como no caso das florestas brasileiras, ainda em pé, transformá-las em ativos financeiros que rendam mais lucros (como o caso do mercado de Carbono). O destrutivo código florestal recentemente aprovado, vetado timidamente pela Presidente, e de volta ao Congresso, é uma confirmação tupiniquim ferocíssima da reprodução ideológica dos interesses do capital a partir das premissas do Banco Mundial e do FMI.

Não é à toa que estamos sendo subjugados avassaladoramente por esse processo de recolonização nas diretrizes e intervenções no Brasil, especialmente nos últimos quatro mandatos presidenciais, impondo retrocessos não só na política ambiental, nas políticas sociais como Educação e Saúde, onde a privatização responde às premissas do mercado.

Um projeto de produção agropecuária e ocupação territorial na escalada desde o projeto geopolítico do Governo Militar, que expropria como abutre a cultura, a força de trabalho e a natureza, impõem reações enérgicas da sociedade civil brasileira.

Solo, recursos florestais, hídricos, e a biodiversidade são colocados como mercadoria até as ultimas consequências, na incrível armadilha da diferença entre o crescimento e desenvolvimento, na ilusão de ser a sexta economia do mundo, com o PIB de 2,48 trilhões de dólares em 2011, podendo chegar à quinta colocação até 2015.

Segundo o FMI, o Brasil ultrapassará a França. Utilizam o PIB, indicando bens materiais produzidos, não expressando, em nenhum momento, sua relação com os indicadores sociais e de condições de vida da população. Assim, impõem ufanismo no crescimento econômico porque ligado ao total que foi produzido na nação.

Essa econometria só revela a produção de bens e serviços, não expressando a riqueza integral que deve ser refletida pela justa e equitativa distribuição no enfrentamento da enzima do capital, que é a produção de desigualdades sociais. Tanto que o recém festejado sucesso econômico brasileiro traz consigo a elevação do custo de vida, em um pais onde falta saneamento, com o crescente subfinanciamento de políticas como educação e saúde, aliadas ao esquema da privatização.

Violência e assassinatos, no Brasil, têm indicadores piores do que países em guerra. Some-se a isso as péssimas condições de moradia e de abastecimento alimentar. Na estrutura fundiária rural e urbana quase nada mudou, concentração de propriedades, de terras, mega-projetos empresariais arremetendo pressões permanentes para o aumento da exclusão social.

Pelos dados oficiais, a Educação, a Saúde, o Meio Ambiente, a Segurança Pública continuam em estado de indigência, se fizermos uma análise comparada dos indicadores oficiais brasileiros com o de ouras nações. Assim é que estamos muito distantes da conquista de bons indicadores de desenvolvimento.

Qual sustentabilidade? Só se for a continuidade do atual modelo econômico, incompatível com as premissas de Justiça Ambiental e Construção da Cidadania.

Rio + 20: Conferencia Oficial X Paralela: O Texto Oficial do Brasil

É preciso colocar os pés no chão em nossa realidade, para que não embarquemos na ilusão de que a Rio + 20 oficial exercerá papel de mudança no bloqueio dos acordos internacionais.

A participação de países industrializados, raras exceções, será somente para jogo de cena, a começar pelos EUA, que não assinou e discorda do cumprimento de quaisquer metas ambientais e de ajuda aos países subdesenvolvidos ou periféricos [eles sabem que ‘sustentabilidade’ é apenas um dispositivo discursivo-ideológico para o controle das pessoas e das nações; que, no fundo, não há perigo real, e, por isso, não assinam nada. Néscios são aqueles que acreditam que todo esse discurso sobre ‘onda verde’ é algo que tem a ver com a verdade].

Distantes abissalmente de uma proposta decente de desenvolvimento sustentável, o texto do Brasil apresentado às Nações Unidas é emblemático e clama pela pressão da sociedade civil. Se não vejamos: 1- o texto oficial brasileiro abre guardas em limites incontroláveis nas suas 40 páginas, na medida em que não questiona, por exemplo, o agronegócio e a pecuária extensiva; 2- produção lastreada em desmatamento ilimitado, monocultura e trabalho escravo; 3- para fugir da questão dos salários e direitos colocam o verniz de trabalho decente e empregos adequados; 4- não cita nenhuma vez o Código Florestal, ofensivos agrícolas e, claro: nem pensar em Reforma Agrária! 5- considera a ‘Economia Verde como inclusiva, ficando no discurso os objetivos do desenvolvimento sustentável, na medida em que serão submetidos ao capital, ao mercado e a mídia. Cabe lembrar que o desenvolvimento sustentável da Eco 92 (aqui em MT esta falácia foi o PRODEAGRO, que, se auditado, poderá apresentar cenário aterrador) foi absorvido pelo termo ‘sustentado’, claramente como um processo que não deve parar de crescer; 6- defende expansão econômica, com acesso ao consumo das camadas desfavorecidas; 7- propõem combater desperdício e reaproveitar recursos, não propondo redução do uso de recursos, do consumo. 8- apesar da Conferencia Internacional dos Determinantes Sociais em Saúde realizado no ano passado, e da própria AGENDA 21, não se fala em Determinantes Sociais na Saúde e nem defende sistemas universalizados como o SUS; 9- Na Educação, ao invés de centrar no modelo e diálogos do conhecimento, fala em tecnologias de Comunicação para Educação à Distancia; 10- rondando a participação social, fala em acesso as informações, deixando de lado a defesa a democratização e do direito a comunicação. Frente a essa posição do Brasil, rigorosamente conservadora, estarão disputando os limites desses espaços países poluidores e nações que não abrem mão da vida confortável e luxuosa. Sobretudo, de continuarem poluindo, transformando a natureza em objeto do mercado, fazendo com que os despossuídos paguem igualmente por estes custos.

Rio + 20: O Papel da Conferencia Paralela

Uma outra visão, oriunda da sociedade civil, pesquisadores e ativistas dos movimentos sociais, dos sindicatos, dos trabalhadores, desde Belo Monte, dos desfavorecidos como os povos indígenas, quilombolas e ampliadas populações tradicionais, estarão do outro lado da Conferencia Oficial. Atores em defesa da vida e da dignidade humana. Gente que luta contra a destruição ambiental e as desigualdades sociais, para subordinar a economia ao processo social e ambiental.

São arenas diferentes, onde especialistas e militantes pela causa da Ecologia Política, da Justiça Ambiental estarão abrindo perspectivas à luz das contradições para enfrentamento, mudanças e estratégias de mobilização unificada.

Há um horizonte imenso de transformações produtivas, de consumo, culturais, que poderão antepor-se a esse modelo hegemônico, onde o Deus é o mercado. A ‘Economia Verde’ é a senha para anular a oposição ao atual modo de produção e consumo, como paradigma de dominação da natureza a ser enfrentado e ultrapassado.

Qual economia verde? São de que cores as outras? –senão que todas são expropriadoras e poluentes, caso não mudemos estruturalmente o modelo de desenvolvimento. O futuro não pode ser prospectado nas esperanças sem que possamos desqualificar a estratégia midiática da economia verde e de seus verdadeiros objetivos. O alerta está dado, se considerarmos a declaração conjunta dos Ministros do Meio Ambiente e Relações Exteriores dos países BASIC (Brasil, África do Sul, Índia e China), não há compromisso significativo com as mudanças necessárias, não passando de fracas intenções.

Os guardiões da Conferencia estarão nas programações paralelas, com a sociedade civil, comunidade acadêmica e cientifica. Movimentos sociais, podem honrosamente dar conseqüência a uma agenda prospectiva que imponha pressões constantes sobre os governos nos grandes problemas definidos e debatidos no âmbito autônomo das representações sociais.

Se avançamos com o legado do movimento ecológico tendente a politização a partir da Eco 92, poderemos articular a participação das lideranças e lutadores oprimidos do Brasil e do mundo.

Nesse sentido, devemos construir na Rio +20 um movimento de indignação e luta contra o projeto hegemônico que sustenta como central a expansão da economia, alheia à desigualdade e à exclusão social.

Aqui no Brasil, a não ser pelo assistencialismo, instrumento eleitoral e de engodo midiático, não há possibilidade de uma economia de baixo carbono sem que mude a lógica da economia de mercado; sem que desconsideremos o PIB, que é indicador para crescimento econômico ininterrupto, escondendo e apoiando a destrutividade do mercado.

Além de não medir condições de vida e bem-estar, coloca instrumentos que aprofundam a violência e a desigualdade (como a venda de armas) como fatores positivos. Assim posicionou-se o cientista político e sociólogo Sergio Abranches, dizendo que vários elementos do paradigma que ordenou e desordenou a vida do século XX estão em esgotamento: a democracia representativa, a economia capitalista globalizada, e o descolamento entre o lado financeiro da economia e o lado real que está levando o capitalismo a uma crise que ele não sabe resolver.

No século XXI viveremos uma síntese contemporânea da contradição que havia na Idade Média, entre as forças humanas e as forças da natureza. Na sua avaliação, um ponto importante é que a sociedade brasileira, em muitos aspectos, é tolerante com o intolerável e com a baixa qualidade. Uma nova ordem social não poderá vir de cima para baixo.

No caso, acordos globais a serem seguidos por países só teriam chance na medida em que as realidade e movimentos locais de mudança demandem por padrões nacionais e no âmbito global.

A estratégia de máximo fortalecimento da Conferencia Paralela Rio +20 é essencial para resistência, enfrentamento e unificação em torno de uma agenda de mudança. Podemos constatar que as mudanças climáticas e ambientais globais foram deixadas de lado enquanto acordos internacionais.

Os principais poluidores e produtores da miséria global não se dispõem a pagar a cona dos prejuízos que causam na globalização financeira. Ao contrário, seria mesmo melhor que os trabalhadores, a pobreza paguem estes custos?”

*Adufmat – SSIND

“A ausência de uma nova narrativa na Rio+20

Análise

A economia verde opera o grande assalto ao último reduto da natureza: transformar em mercadoria e colocar preço àquilo que é comum, natural, vital e insubstituível para a vida

06/06/2012

Leonardo Boff

O vazio básico do documento da ONU para a Rio+20 reside numa completa ausência de uma nova narrativa ou de uma nova cosmologia que poderia garantir a esperança de um ‘futuro que queremos’, lema do grande encontro. Assim como está, nega qualquer futuro promissor.

Para seus formuladores, o futuro depende da economia, pouco importa o adjetivo que se lhe agregue: sustentável ou verde. Especialmente a economia verde opera o grande assalto ao último reduto da natureza: transformar em mercadoria e colocar preço àquilo que é comum, natural, vital e insubstituível para a vida como a água, solos, fertilidade, florestas, genes etc. O que pertence à vida é sagrado e não pode ir para o mercado dos negócios. Mas está indo, sob o imperativo categórico: apropria-te de tudo, faça comércio com tudo, especialmente com a natureza e com seus bens e serviços.

Eis aqui o supremo egocentrismo e a arrogância dos seres humanos, chamado também de antropocentrismo. Estes veem a Terra como um armazém de recursos só para eles, sem se dar conta de que não somos os únicos a habitar a Terra nem somos seus proprietários; não nos sentimos parte da natureza, mas fora e acima dela como seus ‘mestres e donos’. Esquecemos, entretanto, que existe toda a comunidade de vida visível (5% da biosfera) e os quintilhões de quintilhões de microrganismos invisíveis (95%) que garantem a vitalidade e fecundidade da Terra. Todos estes pertencem ao condomínio Terra e têm direito de viver e conviver conosco. Sem as relações de interdependência com eles, sequer poderíamos existir. O documento desconsidera tudo isso. Podemos então dizer: com ele não há salvação. Ele abre o caminho para o abismo. Enquanto tivermos tempo, urge evitá-lo.

Tal vazio se deriva da velha narrativa ou cosmologia. Por narrativa ou cosmologia entendemos a visão do mundo que subjaz às ideias, às práticas, aos hábitos e aos sonhos de uma sociedade. Por ela se procura explicar a origem, a evolução e o propósito do universo, da história e o lugar do ser humano.

A nossa atual é a narrativa ou a cosmologia da conquista do mundo em vista do progresso e do crescimento ilimitado. Caracteriza-se por ser mecanicista, determinística, atomística e reducionista. Por força desta narrativa, 20% da população mundial controla e consome 80% de todos os recursos naturais; metade das grandes florestas foram destruídas, 65% das terras agricultáveis perdidas, cerca de 27 a cem mil espécies de seres vivos desaparecem por ano (Wilson) e mais de mil agentes químicos sintéticos, a maioria tóxicos, são lançados na natureza. Construímos armas de destruição em massa, capazes de eliminar toda vida humana. (...)

A atual crise econômico-financeira que mergulha nações inteiras na miséria nos faz perder a percepção do risco e conspira contra qualquer mudança necessária de rumo.

Em contraposição, surge a narrativa ou a cosmologia do cuidado e da responsabilidade universal, potencialmente salvadora. Ela ganhou sua melhor expressão na Carta da Terra. Situa nossa realidade dentro da cosmogênese, aquele imenso processo de evolução que se iniciou há 13,7 bilhões de anos. O universo está continuamente se expandindo, se auto-organizando e se autocriando. Nele tudo é relação em redes e nada existe fora desta relação. Por isso, todos os seres são interdependentes e colaboram entre si para garantirem o equilíbrio de todos os fatores. Missão humana reside em cuidar e manter essa harmonia sinfônica. Precisamos produzir, não para a acumulação e enriquecimento privado, mas o suficiente e decente para todos, respeitando os limites e ciclos da natureza.

Por detrás de todos os seres atua a Energia de fundo que deu origem e sustenta o universo, permitindo emergências novas. A mais espetacular delas é a Terra viva e os humanos como a porção consciente dela, com a missão de cuidá-la e de responsabilizar-se por ela.

Esta nova narrativa garante ‘o futuro que queremos’. (...) Ela se revela inspiradora. Ao invés de fazer negócios com a natureza, nos colocamos no seio dela em profunda sintonia e sinergia, respeitando seus limites e buscando o ‘bem viver’, que é a harmonia entre todos e com a mãe Terra. Característica desta nova cosmologia é o cuidado no lugar da dominação, o reconhecimento do valor intrínseco de cada ser e não sua mera utilização humana, o respeito por toda a vida e dos direitos da natureza e não sua exploração e a articulação da justiça ecológica com a social.

Esta narrativa está mais de acordo com as reais necessidades humanas e com a lógica do próprio universo. Se o documento Rio+20 a adotasse, como pano de fundo, criar-se-ia a oportunidade de uma civilização planetária na qual o cuidado, a cooperação, o amor, o respeito, a alegria e espiritualidade ganhariam centralidade. Tal opção apontaria, não para o abismo, mas para o ‘o futuro que queremos’: uma biocivilização da boa esperança.

Leonardo Boff é autor com Mark Hathaway de O Tao da Libertação: a ecologia da transformação, Vozes 2012” (Brasil de Fato, adaptado).

“Ambientalistas preparam ofensiva contra 'capitalismo verde'

O seminário ‘Rumo à Rio+20: Por Uma Outra Economia’, reuniu diversas organizações para discutir estratégias de atuação até a conferência da ONU, quando também será realizada a Cúpula dos Povos. Presente na Rio-92, há 20 anos, Jean-Pierre Leroy revela uma preocupação: ‘O discurso da economia verde chega com uma força muito grande, como se fosse a única alternativa para o futuro. O problema é que aqueles que esmagaram os povos e estragaram os territórios são os mesmos que se apresentam como a solução do problema ambiental’.

Porto Alegre – Definida como principal eixo de discussão do Fórum Social Temático 2012, a questão ambiental será objeto de diversos embates políticos durante os seis dias de evento em Porto Alegre. Com a tarefa de elaborar propostas que serão levadas em junho à Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+10), os participantes do Fórum apresentam visões distintas a respeito dos mecanismos da chamada ‘Economia Verde’ que crescem em todo o mundo sem alterar substancialmente os modos de consumo e produção da humanidade.

O debate sobre as mudanças propostas pelo Congresso Nacional ao Código Florestal também é motivo de mobilização, e algumas organizações da sociedade civil querem que a presidente Dilma Rousseff assuma em Porto Alegre o compromisso de vetar os pontos considerados pelos ambientalistas como mais nocivos à política ambiental brasileira.

Na terça-feira (24), o seminário ‘Rumo à Rio+20: Por Uma Outra Economia’, reuniu diversas organizações para discutir estratégias de atuação até a conferência da ONU, quando também será realizada a Cúpula dos Povos, evento paralelo organizado pela sociedade civil que até agora já tem confirmada a presença de cerca de 10 mil pessoas.

Segundo Lúcia Ortiz, da ONG Amigos da Terra Brasil, a Rio+20 será o momento ideal para reverter uma perigosa tendência: ‘Corremos o risco tanto de acontecer um acordo da ONU quanto de se consolidar uma aceitação social da maior parte da população ao capitalismo verde. A transformação dessa realidade está ligada à capacidade de resistência da sociedade organizada. Uma outra economia só será possível quando a resistência conseguir barrar esse processo de mercantilização da natureza’, diz.

Diretora da ONG Fase, Fátima Melo ressaltou a importância de aproveitar a Rio+20 para ‘compartilhar práticas de experiências contra-hegemônicas’ que acontecem em todo o mundo e ‘mostrar que é possível ter soluções anticapitalistas e de acordo com um outro modelo’. Para isso, foi decidida a realização, durante a Cúpula dos Povos em junho, de uma assembleia onde as diversas experiências serão relatadas para a adoção de uma estratégia comum de lutas pelas populações que já estão sendo de alguma forma afetadas negativamente pelo capitalismo verde.

Veterano do movimento socioambientalista brasileiro, presente na Rio-92 há 20 anos, Jean-Pierre Leroy revela uma preocupação: ‘O discurso da economia verde chega com uma força muito grande, como se fosse a única alternativa para o futuro. O problema é que aqueles que esmagaram os povos e estragaram os territórios são os mesmos que se apresentam como a solução do problema ambiental. Mas, a gente pergunta o que eles fizeram desde a Rio-92, e a resposta é nada. Não resolveram nada nesses 20 anos e vão resolver agora para o futuro? Esse discurso foi adotado pelos economistas e pela tecnocracia, e não há um debate social sobre isso’.

O objetivo do seminário e da articulação que está sendo feita no Fórum Social Temático, segundo Leroy, é reunir vários atores para se chegar a um acordo mínimo de ação contra a economia verde: ‘Não devemos transigir com a economia verde ou dizer que ela tem algumas coisas boas. Ou se propõe um outro modelo econômico ou essa economia, mesmo esverdeada, não tem futuro’, diz. Ele aposta no poder de mobilização dos movimentos sociais: ‘Não há total acordo ideológico entre nós, mas nossa aliança é firmada sobre práticas e experiências que nos animam a fazer a Cúpula dos Povos’, diz.

Código Florestal

Outra discussão que promete esquentar durante o Fórum diz respeito às propostas de alteração no Código Florestal brasileiro. Diversas organizações socioambientalistas presentes a Porto Alegre estão coletando assinaturas para a campanha ‘Veta, Dilma!’, que pretende convencer a presidente a vetar algumas das mudanças propostas. O objetivo dos ambientalistas é entregar um documento em mãos à Dilma, que tem participação no Fórum Social Temático prevista para quinta-feira (26). Na terça-feira (24), dezenas de militantes da ONG SOS Mata Atlântica fizeram um ato no centro de Porto Alegre, quando carregaram caixões representando a morte da política ambiental brasileira.

Coordenador da SOS Mata Atlântica, Mário Mantovani afirma que o momento político é decisivo: ‘Do ponto de vista dos ambientalistas e dos movimentos sociais - e aí, eu incluo a academia e entidades como a CNBB e a SBPC - a questão do Código Florestal é muito mais grave do que discutir Reserva Legal e APPs. Nós estamos falando de coisas como a função social da terra, uma das maiores conquistas da Constituição de 1988, que agora foi rasgada pelas oligarquias rurais que tomaram conta do país e que continuam fazendo a farra do crédito agrícola com dinheiro do governo para promover um modelo que está esgotado’.

Segundo Mantovani, ‘a discussão do Código Florestal não é mais uma coisa de ambientalista versus ruralista’, mas uma luta de toda a sociedade: ‘Aqui no Fórum Social Temático, que é um evento preparatório à Rio+20, não podemos permitir um dos maiores retrocessos ambientais da história do Brasil’” (Carta Maior).

PS.: Vale ver o vídeo deste link: http://youtu.be/y0gWUeIgxcs