Greve das IFES: no embalo do REUNI

Wilson Correia*

Estamos com a quase totalidade das universidades federais em greve. A que isso se deve? Não creio que o fato de o professor federal desfrutar de imenso reconhecimento social, mas pertencer aos grupos da carreira federal dos mais desvalorizados, salarialmente falando, seja o único motivo para isso estar acontecendo.

Qualquer análise da conjuntura minimamente consequente nos leva a admitir que vivemos um período histórico de hegemonia do capital, legitimado pelo neoliberalismo. Ora, o que dizem os vestais dessa ideologia? Que necessitamos de uma universidade nova para atender às demandas da sociedade do conhecimento.

Num estalar de dedos, os gestores educacionais logo trataram de arquitetarem essa nova universidade. Aí vieram o Processo de Bolonha e, aqui para nós, as universidades concebidas no REUNI – Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, moldadas segundo o figurino daquele processo.

Na esteira desse movimento, o erro do Partido dos Trabalhadores foi acreditar que para quem nada tem qualquer coisa vale, inclusive quantidade de mal qualificados prédios de aula, nomeados de universidades. Por isso, arrogantes, esquecem que quem financia a educação pública é o povo e, aí, usurpam o direito social à educação.

Nessa conjuntura, terminam recrudescendo as desigualdades sociais, na medida em que bolsificam a sociedade, embrutecem o povo, oferecem educação de péssima qualidade e tentam, sob a opinião ignara prevalente, manter-se a qualquer custo no poder. Que Wagner, na Bahia, e Dilma, no Planalto, o digam com mais propriedade.

A insensibilidade com que conduzem a greve dos professores federais e estaduais, só para ficar nesses dois entes públicos, evidencia o quanto “valorizam” um projeto de nação sustentado por uma educação articulada entre ensino, pesquisa e extensão. Longe dessa articulação, sem pisarem o chão da escola, apequenam-se e, de roldão, minoram as oportunidades de o Brasil vir a ser uma grande nação.

Lamentável! E nós, que acreditamos no sonho de uma educação transformadora, hoje temos que engolir a ignorância perversa e tóxica a comandar nossos destinos. Sinceramente, penso que o Brasil passa por um momento de profunda gravidade, não noticiada pela imprensa pelega e pouco denunciada pelos intelectuais de plantão.

Em verdade, vivemos no embalo do REUNI: tempos de pensamento único, asfixia do pensamento crítico, criminalização de movimentos reivindicatórios, arrogância e cinismo administrativos, entreguismo barato à sanha do capital e heteronomia universitária sem precedentes na história deste país.

Alguém precisa dizer (e eu já disse no que me coube) a Brasília que existe vida inteligente fora do Planalto Central. Essa vida, a contar pelo que dizem as ruas, casas, bocas e neurônios brasileiros, saberá dar o troco na hora devida, pois pertencentes a sujeitos atualmente lesados por esse projeto de uma falsa educação.

* Wilson Correia é Doutor em Educação pela UNICAMP e Adjunto em Filosofia da Educação na UFRB.