O estelionato político do PT

Wilson Correia

O Partido dos Trabalhadores (PT) foi criado com base nos princípios que sustentariam a justiça social e colocariam o poder a serviço do alcance de maior liberdade por parte dos sujeitos e movimentos sociais. Para tanto, esse partido assumiu e difundiu o discurso que preconizava a democratização do Estado e a humanização do capitalismo. A isso chamaram de socialismo.

Essa filosofia político-partidária logo seduziu a geração que, à época, combatia a ditadura militar brasileira a serviço do capitalismo então orientado pelos Estados Unidos da América do Norte, tão selvagem quanto o pau de arara que os milicos utilizavam para fazerem o pensar não ser pensamento crítico e a ação política não ser prática de cidadania transformadora.

E foi bem antes de entrar na universidade que dei de cara com esse movimento, PT à frente, quando tomei consciência da justeza histórica dessas bandeiras. Na universidade, as análises conjunturais só me faziam mais confiante de que as lutas empreendidas pelo petismo não só faziam jus à própria existência como mereciam meu engajamento. Resumindo: dei 15 anos da minha vida ao PT.

Quando, em 2002, o PT, em vista da corrida eleitoral à presidência da República, lançou a famosa “Carta aos Brasileiros”, pela qual esse partido garantia o cumprimento das regras do jogo capitalista em nível nacional e internacional, aí então meus sonhos tomaram um banho gelado. Tanto que entrei na sala de aula e disse aos alunos: “A partir de agora, votar no PT ou em qualquer outro partido alimentador da elite retrógrada nacional dará no mesmo”.

Claro! Aí veio a fase “PT no poder”. E ao que assistimos nesse período? Assistimos a um criminoso continuísmo daquilo que os preceitos neoliberais pugnaram e pugnam para o Estado: mínimo para o social e hercúleo para o capital. Lá se foi o sonho de justiça social e de uma sociedade mais humanizada, igualitária e forjadora das condições de maior liberdade para a cidadania.

Particularmente sobre a educação, meu campo de interesse mais restrito, velhas bandeiras discursivas que defendiam a qualidade foram jogadas na lata de lixo da história. Nesse setor, passou a imperar um pragmatismo quantitativista desqualificado sem precedentes, algo que desaponta, choca e causa convulsão nos neurônios de todos quantos, críticos, possuem material valorativo suficiente para diferenciarem arremedo de original.

Por conivência, locupletação, ou covardia mesmo, enquanto quadros partidários do PT seguiram sendo expurgados das mais variadas formas, até com um simples telefonema, os intelectuais engajados deixaram de executar a saudável prática da autocrítica e se silenciaram. No lugar dessas vozes lúcidas, a fala da massa, colhida em pesquisas de opinião, passou a substituir as famosas “análises de conjuntura”.

Hoje, o Partido dos Trabalhadores é um partido qualquer. Vendido ao capital e às intragáveis práticas políticas de uma elite brasileira insensível à justiça social. Um dia, talvez, quem sabe a história relate isso que estamos vivendo como “O colossal estelionato político praticado pelo PT”.