Lendo e escrevendo criticamente a "notícia"

Reescrevendo a notícia e a história

Wilson Correia.

NA MÍDIA HOJE, 31.7.2012 (Ver matéria logo abaixo): Ao justificar as razões pelas quais o governo federal cancelou reuniões com servidores em greve marcadas para esta semana, matéria da FSP informa: “Oficialmente, a pasta afirma que o motivo foi a extensa lista de pedidos de propostas de reajuste e reestruturação de carreira apresentada por servidores federais, que precisam ser analisadas diante do cenário de crise econômica internacional. O governo afirma que todas elas somam um impacto de R$ 92 bilhões nos cofres públicos, cerca de metade do que hoje é gasto com o funcionalismo público federal. Mas a falta de um acordo com os docentes de universidades federais, que já recusaram uma proposta feita pelo governo, vem afetando o cronograma de discussões, segundo apurou a reportagem. ‘É um tempo em que você poderia estar cuidando de outras categorias’, afirma um dos assessores do Ministério do Planejamento”.

REESCRITA CRÍTICA: Nesta hora, em que servidores federais de diversos órgãos encontram-se paralisados, o oficialismo, que sempre pauta a mídia, não é suficiente para se compreender o que realmente acontece. Extensa “lista de pedidos de propostas de reajuste e reestruturação de carreira” não é motivo para se cancelar reuniões de negociação. Ocorre é que o governo não quer negociar. Por que tudo tem de ser centralizado no Ministério do Planejamento? Nós da educação, por exemplo, temos o Ministério da Educação e é com ele que temos insistido em negociar. Mas não: a mania de colocar o pessoal da economia, que nem sempre entende de educação, para cuidar do ensino tem sido uma constante entre nós. A educação jamais pode ser tratada apenas na perspectiva econômica, uma vez que ela é, essencialmente, um direito social que não se garante apenas falando de números e de valores absolutos, sem que referências claras para isso sejam consideradas. Por isso mesmo não faz o menor sentido falar-se de “cenário de crise econômica internacional”. Já sabemos bem que essa é uma dívida fictícia, aquela mesma da qual o governo do Equador reconheceu apenas 30% dela, pois 70% se tratava de dívida para com os operadores da especulação financeira. Palestra da Profa. Dra. Maria Lúcia Fattorelli sobre a necessidade de auditoria na dívida brasileira, facilmente encontrada no Youtube, apresenta material suficiente para entendermos esse equívoco, esse engodo. Também é falaciosa a afirmação de que “a falta de um acordo com os docentes de universidades federais (...) vem afetando o cronograma de discussões” e isso também serve para justificar o cancelamento das reuniões dessa semana com os servidores federais. Não é verdade! Nossa pauta foi apresentada ao MEC em 2010. De lá para cá, aquilo a que estamos assistindo é uma via-crúcis impiedosa que inclui gestos e atitudes que podem ser identificadas pelos seguintes termos e expressões: desmarcação de agenda, descaso, protelação, embromação, manipulação midiática, humilhação da categoria, desrespeito para com professores, professoras e técnico-administrativos, indiferença para com os prejuízos que uma greve como esta acarreta para a sociedade, não priorização da educação em nosso país. Em conclusão: o governo mantém a greve e mente, covardemente, afirmando que os professores é que são os culpados pela paralisação. Agora, de maneira insolente, o governo também ousa culpar os professores por aquilo de que ele próprio é culpado: a manutenção da greve por ele não querer negociar. Mais essa mentira nós temos que desconstruir. Que triste! Em um país tão rico, encontrarmo-nos em tamanho estado de ignorância, miopia e indiferença para com a educação e para com quem a faz e a sofre todos os dias.

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NA MÍDIA

31/07/2012 - 04h30

Governo federal cancela reuniões com servidores em greve

FSP - FLÁVIA FOREQUE - DE BRASÍLIA

O Ministério do Planejamento cancelou diversas reuniões agendadas para esta semana e a próxima com representantes dos servidores federais para discutir a greve, que já atinge ao menos sete ministérios e 30 órgãos públicos, entre eles as agências reguladoras e a Receita Federal.

Segundo entidades ligadas aos grevistas, ao menos 300 mil servidores estão parados.

Oficialmente, a pasta afirma que o motivo foi a extensa lista de pedidos de propostas de reajuste e reestruturação de carreira apresentada por servidores federais, que precisam ser analisadas diante do cenário de crise econômica internacional.

O governo afirma que todas elas somam um impacto de R$ 92 bilhões nos cofres públicos, cerca de metade do que hoje é gasto com o funcionalismo público federal.

Mas a falta de um acordo com os docentes de universidades federais, que já recusaram uma proposta feita pelo governo, vem afetando o cronograma de discussões, segundo apurou a reportagem.

"É um tempo em que você poderia estar cuidando de outras categorias", afirma um dos assessores do Ministério do Planejamento.

Ao todo, a pasta teria cinco técnicos para lidar com as diversas demandas dos servidores. Com isso, a sobrecarga de trabalho viria afetando o prazo colocado pelo governo -o inicial se encerra hoje.

Para os grevistas, o cancelamento é sinal de que o governo não tem uma proposta concreta de reajuste.

"O governo não é capaz de cumprir seu próprio cronograma. Isso vai se transformando numa situação absurda", afirma Sérgio Ronaldo, da Condsef (Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal).

"Querem desgastar a categoria. Isso nos deixa indignados e faz com que a greve se fortaleça", completa.

FEDERAIS

Nas universidades, ainda não há uma previsão para o fim da greve. Segundo o Andes (sindicato dos docentes), ao menos 10 das 59 federais rejeitaram a segunda proposta de reajuste feita pelo governo.

A segunda oferta aumentou em R$ 280 milhões o impacto final do reajuste, saltando de R$ 3,9 bilhões para R$ 4,18 bilhões em três anos.

O ministro Aloizio Mercadante (Educação) voltou a afirmar ontem que essa é a oferta final do governo.

Representantes da categoria terão uma reunião no Ministério do Planejamento amanhã para apresentar uma posição oficial sobre a proposta.