Balanço da greve: venceu a mentalidade neoliberal

Wilson Correia

Após quatro meses, a greve dos professores, técnico-administrativos e discentes das universidades federais chegou ao fim dia 16 de setembro de 2012. Os três pontos de pauta dos professores foram: aumento salarial, reestruturação da carreira do magistério em nível universitário federal e qualidade das condições de trabalho com ensino, pesquisa e extensão.

O governo não levou a sério nenhum dos três pontos. Para a questão salarial, a resposta dele pode ser lida como desrespeito. É que o “aumento” que ofereceu fica muito aquém da reposição inflacionária, produz perdas a todos os docentes, salvaguardando um único grupo deles: o dos titulares, pouquíssimos em nossas Instituições Federais de Ensino Superior.

Sobre Plano de Carreira, o arremedo de trajetória proposto abre espaço para a desvalorização e o desestímulo profissionais, comprometendo o senso de continuidade requerido de todo processo de desenvolvimento humano e profissional que se preza pela segurança e estabilidade.

Sobre a melhoria das condições de trabalho na educação universitária federal, esse foi um ponto que sequer foi tocado pelo governo, o qual apostou na apatia da sociedade, na desinformação da massa e no chapa-branquismo da mídia para vender mentiras quando se negou a dialogar, a negociar e a encontrar soluções conceituais e práticas que estivessem à altura das urgências da educação superior entendida como direito social.

Somos uma democracia infante, é fato. Não estamos habituados a lutas por garantias de direitos. Vão longe, em mais de três décadas, os movimentos lastreados em bandeiras que exigiam respeito aos direitos individuais, políticos e sociais dos brasileiros e das brasileiras. Mas aquele movimento dos anos 1980 e 1990 foram um desafogo histórico de uma necessidade reprimida pela ditadura militar, a qual asfixiava voz e ações em favor de uma sociedade politicamente mais arejada, mais livre e mais justa.

Hoje, quando temos 70% de analfabetos funcionais espalhados pelos quatro cantos do Brasil, e quando contamos 38% dos mesmos analfabetos em nossas universidades, o fatalismo, a apatia e a indiferença parecem ser os maiores aliados de governos mal intencionados. Não é sem motivos que, por exemplo, a quase metade de nosso Produto Interno Bruto (PIB) é destinada ao pagamento de juros de uma dívida fictícia, ao passo que se investe apenas 3,8% desse PIB em educação.

Também não é à toa o fato de nosso Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) ficar na casa dos 3%, dois pontos abaixo daquilo que se poderia considerar o mediano medíocre porque abaixo dos cinco pontos em uma escala de zero a dez. Dessa árvore, que frutos a educação superior pode colher e preparar para a vida, para o mundo do trabalho, para a cidadania?

Concordo com as análises que afirmam o momento de luto pelo qual estamos passando na educação superior federal. Lamentavelmente, mais uma vez, o capital esmaga direitos sociais historicamente conquistados. Outra vez, vence, entre nós, o lema do Estado mínimo para o social e máximo para o capitalismo. De novo, vence a mentalidade privatista neoliberal.