Avaliar para melhorar

Wilson Correia

O Conselho Regional de Medicina de São Paulo (CREMESP) aplica prova anual em egressos dos cursos de medicina. Com isso, a entidade profissional busca saber se o candidato a médico aprendeu o mínimo necessário nos bancos universitários. Afinal, para ser médico, o bacharel em medicina precisa mostrar que está capacitado para atuar de modo a não colocar em risco as vidas que passarão por suas mãos.

Até este ano, esse exame não era obrigatório para o bacharel conseguir registro no Conselho Regional de Medicina (CRM), mostrando a média de 46% de reprovação, quando, para ser aprovado, o examinado deve acertar, no mínimo, 60% das questões cobradas na prova. Este ano, porém, por força da Resolução 239 do CREMESP, de julho de 2012, apenas a participação no Exame do CREMESP se tornou obrigatória para que o egresso do curso de medicina tenha direito ao registro no CRM.

O Artigo 5º da Resolução 239 preceitua que “O ‘Exame do Cremesp’ será realizado anualmente e consistirá em teste cognitivo, abrangendo as áreas essenciais da Medicina, com ênfase nos conteúdos básicos imprescindíveis ao bom exercício profissional”. Já o Parágrafo 3º do Artigo 3º da mesma Resolução estabelece: “O participante que comparecer e não realizar a prova, independente da assinatura da frequência, não obterá o comprovante necessário para o registro no Cremesp”.

Ocorre que, agora, os egressos dos cursos de medicina ensaiam um boicote ao Exame do CREMESP. Estudantes da Unicamp, Unesp e Faculdade de Medicina de Marília lideram o movimento, indicando que todos os inscritos no exame assinalem a letra “B” para todas as questões da prova (“B” de boicote).

Por que o medo de se submeter ao exame? Se “Quem não deve não teme”, como diz o ditado, o que esses estudantes de nossas melhores universidades estão a temer? Se for válido o argumento deles de que a prova avalia apenas o aluno, quando o ideal seria abranger instituições e professores, por que então se recusam a fazer a parte que lhes compete? Prestando o exame, não estariam eles fornecendo pistas sobre como anda a saúde de instituições e profissionais responsáveis pela formação de bacharéis em medicina no Estado de São Paulo, os quais, subsequentemente, também poderiam vir a ser avaliados?

Compreendo e estou de acordo com a tese de que todos precisam ser avaliados, mas também estou ciente de que o estudante que cumpriu a contento o seu papel nada tem a temer. Sei que sistema de ensino, instituições e docência em nível superior, por múltiplas razões, estão mesmo precisando de reorientações profundas: ensino de qualidade é o que essas instâncias precisam oferecer aos estudantes.

Contudo, não entendo como essa constatação possa servir de base para que egressos de cursos de medicina possam se eximir da responsabilidade de mostrar o que sabem e o que não sabem: fazer isso seria demonstrar que avaliar só faz sentido se for para melhorar. Mas é a isso aquilo a que se negam os recém-formados em nossos cursos de medicina?