Morre Joelmir Beting

Wilson Correia

Joelmir Beting morreu no início da madrugada de hoje, 29.11.2012. Contava 75 anos de idade. Nascido na cidade de Tambaú, interior de São Paulo, lá começou a vida como bóia-fria e estudante judicioso, tendo registrada uma participação na rádio local.

Incentivado por Padre Donizetti Tavares de Lima, milagreiro segundo os católicos, mandou-se para a capital paulista com a roupa do corpo. Fez Sociologia na USP e entrou para o jornalismo esportivo e econômico. Traduzia em apenas 40 segundos o mundo da economia e o Brasil inteiro em aparições televisivas qualificadas por frases caprichadas e fina ironia. Foi e é, de fato, um presente para o Brasil.

Mas, indiferentes a isso, alguns já verbalizam seus sentimentos de perda, falta e orfandade. Esquecem a advertência de Freud: “Se quiser poder suportar a vida, fique pronto para aceitar a morte”. Ou a de Epicuro: “A morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, e quando existe a morte, não existimos mais”.

Interessante, parece-me, foi a atitude do filho de Joelmir, Mauro Beting, também jornalista, que escreveu uma carta, ao molde do pai e a quem a endereça, em que afirma: “Desculpem, mas não vou chorar. Choro por tudo. Por isso choro sempre pela família, Palmeiras, amores, dores, cores, canções” (...) “A ausência dele não tem nome. Mas a presença dele ilumina de um modo que eu jamais vou saber descrever”.

Em uma entrevista de televisão esta manhã, Mauro aparece sorrindo e faz uma analogia espirituosa também digna de registro, ao afirmar que, igual ao Palmeiras, de quem Joelmir era torcedor febril, Beting pai também estava sendo rebaixado. Rebaixado para o reino de uma ausência cuja presença é algo inefável, grandiosa e intensa.

Isso toca minha história. Fiz parte do Ensino Fundamental na cidade de Tambaú. Joelmir Beting, óbvio, não existia mais fisicamente no cotidiano das ruas daquela cidade. No entanto, a história de determinação, preparo e profissionalismo dele visitava algumas bocas que se abriam orgulhosas para relatarem a digna trajetória do ilustre concidadão. Desde aquela época, passei a prestar atenção no trabalho de Beting.

Talvez tenha sido esse leve tangenciamento com o percurso existencial dele o que me fez obedecer ao impulso de escrever estas linhas. Mas suspeito que o fato de eu ter visto semelhança na forma como o filho Mauro se dirige ao pai Joelmir com a maneira como me dirigi ao meu pai quando esse teve o corpo “rebaixado” seja o real motivo para eu estar digitando essas letrinhas.

Ao meu pai que havia morrido escrevi: “‘Eu, perder meu pai? Nunca!!! A gente perde uma propriedade, um chaveiro, um livro, qualquer outro objeto; pessoas, não. Pessoas a gente não pode possuir e por isso não pode perder. Se meu pai fosse objeto, eu poderia perdê-lo; mas como meu pai é sujeito, ele sempre estará em mim".

Aí a “presença” luminosa que nunca saberemos como descrever?

Não tenho dúvidas! E isso é ganho. Perda eu sei que não é!