Depoimentos de Maria I

Posse

Sou um pedaço de algo que alguém possui. Não sabia até que este próprio “alguém” me disse com todas as letras. Me senti estranha, algumas vezes até lisonjeada, outras vezes acanhada e muito deprimida. Ser de alguém, pertencer a alguém ou a alguma coisa é muito bizarro. Quando percebi já não era brincadeira, a coisa ficou séria demais e até minha família ficou longe, estranhamente fui me sentindo uma ilha, afastada de tudo e de todos. Tentei tomar uma atitude, tentei acabar com aquela posse e tomar eu posse de mim mesma, recuperar minha identidade perdida. Sei que nunca é tarde demais, mas, só que desta vez a ponte quebrou, a estrada desmoronou, o barco perdeu a vela, ou seja, está difícil demais sair dessa fase. Tenho que construir pontes ou reconstruir a que está quebrada, tenho que recuperar a estrada ou encontrar outro caminho, tenho que fazer uma nova vela ou navegar a favor do vento. A única coisa que não posso fazer é desistir. De vez em quando me dou o luxo de conversar com alguém, alguém que inventei pra não morrer, tenho meus momentos “in”, onde converso comigo mesma, janelas para poder olhar o mundo lá fora, janelas concretas, janelas virtuais, mas são janelas... Uma ou duas vezes consegui fugir, pensei que estava num mundo novo, diferente, parecia que eu conhecia pela primeira vez uma estrada, o sol, a chuva, um caminho. Eu parecia uma criança começando a andar, sentia novamente perfumes, experimentava o tato, sentia na pele a liberdade de algumas horas. Cheguei num lugar lindo onde ninguém me conhecia e eu também não sabia o que ia encontrar por lá. Voltei e percebi que aqueles lugares por onde passei agora já não me pertenciam mais, que aquela liberdade era transitória, que foi somente uma volta ao passado só para ver que eu tive um passado livre. Voltei pra minha vida verdadeira, voltei a ser um objeto, uma “coisa”. Hoje, daqui da minha janela, vejo o mundo lindo lá fora e peço a você que me lê que viva cada pedacinho de tempo e que aproveite cada minuto de sua vida. Ajude, faça, construa, prove, não deixe nada fazer você virar um “objeto”, seja do seu jeito sempre, não se iluda com castelos dourados, prefira cabanas sem portas. Da minha maneira sou feliz, posso ter um mundo virtual infinito, dei asas a quem podia, fiquei sem elas, mas com certeza salvei alguém.

PS: Ela existe, ela é real e consentiu que seu depoimento fosse divulgado, que sua experiência fosse exposta. Maria quer acontecer aqui para fazer valer o seu viver. Outros depoimentos virão, outros desabafos de Maria serão postos aqui de acordo com seu consentimento. Estes depoimentos fazem parte de um estudo sobre:

Ciúmes e sentimentos doentios de posse e controle

Sentimentos doentios de posse e controle são próprios de pessoas com transtorno de personalidade obsessiva compulsiva, que endo perfeccionistas ao extremo usam de qualquer artifício para manter todos e tudo sob controle, na mais perfeita ordem, o que na verdade nada tem a ver com ciúmes e sim uma forma de manipulação para que as ações da pessoa sejam sempre impecáveis de acordo com seus conceitos. No fundo essas pessoas são inseguranças, trazem algum trauma do passado muitas vezes, bloqueado no inconsciente e nem sempre lembrado, como humilhações ou rejeição e procuram compensar esses sentimentos tentando controlar tudo a sua volta.

Infelizmente, muitas pessoas confundem amor com possessividade, se sentindo nas nuvens, flutuando de felicidade ao serem controladas pela pessoa amada, ao serem vítimas de uma crise de ciúme em público ou até mesmo na intimidade, se esquecendo que pode estar lidando com alguém que sofre de distúrbio obsessivo e como tal, essa pessoa tem sempre a certeza de estar sendo enganada ou traída vendo na outra, um objeto de posse, e não uma companhia para a vida.

Fonte: Estudos e conclusões baseadas em Teorias da Psicologia da Personalidade; livros baseados neste estudo (vários).

“O ciúme é aquela dor que dá quando percebemos que a pessoa amada pode ser feliz sem a gente”, Rubem Alves, pensador mineiro.

Ana Maria de Moraes Carvalho
Enviado por Ana Maria de Moraes Carvalho em 12/04/2013
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