EDUCAÇÃO: MÉRITO E MÉTODO

O que se observa com frequência são discussões para incrementar mais recursos, principalmente os financeiros, para a educação. Pouco se percebe, na mídia, sobre o mérito e o conteúdo programático dos currículos no ensino fundamental, médio e universitário.
 
O mercado sempre se pronuncia alegando a falta de profissionais para atuarem nos seus diversos segmentos, principalmente na área tecnológica. Adicionalmente, reclamam do analfabetismo funcional, fruto do desmantelo e ausência de rumo do sistema educacional como um todo.

As diretrizes curriculares nacionais não definem o que deve ser ensinado. Tudo está muito aberto e as responsabilidades recaem sobre os professores. Também não é recomendável fazer o que é realizado em Cuba, onde o governo define e especifica em detalhes o que e como se deve ensinar em cada uma das disciplinas. Bom esclarecer que o Chile, em termos de orientação macroestratégica para a educação, deixa pouca coisa para a escola criar.

A Finlândia é apontada como o país que mais outorga autonomia a seus professores e escolas. Lá, tudo é muito bem especificado e o currículo nacional finlandês estabelece o que é considerado um desempenho adequado no final de cada ano, em cada disciplina. Dentro desses parâmetros, a necessidade de uma avaliação externa é desconsiderada, pois o próprio professor avalia o aluno, mas o critério é comum a todos. Há 20 anos, a Finlândia especificava muito mais o currículo nacional e de forma central, o que gerava menos autonomia aos professores. Em função de diversas discussões, o país decidiu que queria investir na construção da autonomia docente e passou a realizá-la progressivamente, aumentando o rigor e a qualidade dos cursos de formação inicial de professores e, simultaneamente, diminuindo a especificação curricular e colocando a avaliação na mão do docente.

Hoje, para ser professor na Finlândia, é necessário um curso de nove mil horas, com sete anos de duração, sendo que um terço delas corresponde a uma espécie de residência pedagógica: o futuro professor estagia em uma escola onde um professor tutor se responsabiliza junto com a universidade por sua formação. No caso brasileiro, conforme alegado pela doutora e pesquisadora em Harvard Paula Louzano, o currículo nacional de educação é pouco especificado e os professores são mal formados. Atualmente, 30% dos matriculados em cursos de formação de professores realizam atividades exclusivamente por meio de ensino à distância. Assim, esperar que professores com pouco domínio de conteúdo possam definir e ensinar conteúdos com autonomia total é devaneio.

O Brasil poderia se aproximar de modelos de países como Finlândia, Nova Zelândia e Austrália. Esses países especificam seus currículos nacionais sobre o que ensinar, mas deixam margem à flexibilização e permitem a diversidade de métodos e caminhos.