O internetês

A moda hoje, na rede de computadores, é o internetês, grafia simplificada adotada pelos jovens para tornar a comunicação mais ágil. A marca registrada do internetês é a redução de vogais; assim, nos bate-papos da garotada, você vira vc, cara vira kra, e cabeça se redige kbça. Uma preocupação para pais e educadores! Há mesmo quem fale em deterioração da língua, o que é um equívoco.

Para o linguista Sírio Possenti, há uma lógica nesse código inventado pelos garotos. Assim, por exemplo, na grafia kbça, ele observa que os símbolos k e b substituem as sílabas cujos sons coincidem com os nomes das letras. Por esse raciocínio, o internauta vai grafar cnora (cenoura), cdu (cedo), bju (beijo), dedo (ddu), Pdru (Pedro) e por aí vai... Uma taquigrafia da juventude!

Eduardo Martins, consultor do jornal O Estado de São Paulo, vê com reservas o fenômeno, pois, segundo ele, o domínio da escrita padrão se fundamenta na memória visual, e a mistura de códigos escritos certamente trará prejuízos a mentes ainda em formação.

Parece não haver dúvida, contudo, que o advento da internet fez os jovens escreverem mais. Uma maravilha! A questão, agora, é orientá-los sobre a necessidade de migrarem com eficiência do código alternativo para o padrão.

Para Evanildo Bechara a escola deve propiciar que o estudante se torne um poliglota na própria língua, ou seja, alguém capaz de transitar com desenvoltura pelas diversas variedades linguísticas. Esse raciocínio contempla o internetês. Em síntese, tudo é uma questão de adequar o uso à situação.

Pais e educadores, por outro lado, terão, a nosso ver, de evitar a overdose de internetês. O que não falta na internet é cultura e informação de ótima qualidade. E a garotada precisa chegar lá, para depois, nos chats, até filosofar, como fariam aqueles personagens do tempo de Platão, imaginados pelo blog Ao Mirante, Nelson!: “Equécrates diz: Falae, meu. Fédon diz: Falae, maluco. E a heuristica, blz? Equécrates diz: Mto silogismo na parada, fallow? Olhae: diz que o blog do Sócrates tah fora do ar...” E por aí vai, até com palavrõezinhos, que prefiro não citar...

Texto orginalmente publicado no jornal JF HOJE, de Juiz de Fora, em 27 de dezembro de 2007.