"Turrão honesto", "vanguarda", ou, só mais um "louco" qualquer mesmo?

Fiz uma reflexão sobre minha vida atual. Por que abandonei todas as graduações?

“Medo de desafios”? eu? que já fui acampar por três dias seguidos, só com o dinheiro de duas passagens municipais, fui e voltei coma mesma roupa e nem barraca tinha para dormir?(tenho testemunhas). Não, não tenho medo de desafios.

“Preguiça”? sim, um pouco, talvez. Mas, peraí! quando eu já sabia operar informática em nível de técnicos profissionais, por causa da palhaçada de que um diploma “certifica” sua capacidade e qualidade profissional, eu me obriguei a fazer um curso cretino, cujos donos são ainda hoje, processados por mais de trezentas pessoas. Um curso que não concedia ferramentas ao aluno, “futuro técnico”. Um curso que, pasmem! não havia computadores suficientes para uso de todos os alunos da turma. De quase quinze alunos, acho que uns seis ou mais, meteram o pé depois do primeiro trimestre. Eu fui um dos menos de dez alunos restantes que concluíram o curso. E já fiz outro curso presencial bem enjoativo também e este, em período integral — imagine os mantras para não surtar. Quase o mesmo esquema do mencionado anteriormente. Repleto de teoria e prática quase nula. Então, acho que não é bem a preguiça também.

A conclusão que cheguei é: o paradigma de ensino aqui no Brasil e eu, somos incompatíveis. Ponto final. Eu vejo a vida de uma forma e somente se me provarem —muito bem provado— o contrário, é que eu mudarei minha visão.

Eu fiquei aqui pensando e pensando: não há um livro em nossa casa, um livro apenas que fale, por exemplo, algo de Avempace. Nunca li nada impresso aqui, sobre Zera Yacob.

“Ah, Daniel, não começa, vai! ‘Confúcio’? ‘Tao’? estes aí, você conhece, né? sem essa de ‘predominância eurocêntrica’ seja no ensino ou tudo mais, por favor”.

Beleza, ok.

Entendi. É porque no currículo de um curso como História, por exemplo, você pode pesquisar sobre “História da Ásia”, “da África”, “do Oriente Médio” e descobrir a relevância da cultura filosófica e mentes importantes destes continentes. Por isso então, o que eu quero propor aqui como discussão, não procede, não é?

Beleza, ok.

Mas, vem cá! GERALMENTE, sob a ótica de quem você aprende sobre estas grandes pessoas de fora do Ocidente no Ensino Superior do Brasil? sob a ótica de um especialista que nasceu em um destes continentes e além de traduzir para nós, pesquisa profundamente sobre estes pensadores, ou, sob a tradicional ótica de um GENIAL PENSADOR EUROPEU (ALEMÃO , FRANCÊS, ITALIANO, INGLÊS...DANE-SE A NACIONALIDADE!), FAMOSO POR PUBLICAÇÕES QUE JÁ VENDERAM MILHÕES DE CÓPIAS DESDE O SÉCULO XX?

Aaaaaahhhh...agora, está ficando “divertido”, não é?

Gente, eu sei que parece, mas, juro! eu não estou aqui para desmerecer a grandeza da contribuição dos pensadores europeus — dos antigos até então. Eles são a formação de quase tudo o que sei em minha vida. De todas as profissões possíveis. Aliás, na vida de todos nós aqui deste continente.

Só que...tenta captar o que estou questionando...

O que é, de fato, a essência do argumento que justifica perfeitamente a total predominância da sabedoria europeia(das nacionalidades que citei anteriormente) no Ensino Superior do Brasil, HOJE, SÉCULO XXI, COM A GLOBALIZAÇÃO EM PLENO VAPOR, COM A INTERNET, "BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS DIGITAIS COM TRADUÇÃO SIMULTÂNEA"? por que eu vejo nas faculdades federais e estaduais, muito mais de Jurgen Habermas do que Anna Julia Cooper? e olha que a Anna foi daqui, do Ocidente.

Entende agora?

O dia em que o Ensino Superior do Brasil chegar neste grau de transcendência, eu me tornarei aluno com felicidade — e com assiduidade também, espero. Eu não sei se no resto da América Latina é assim, mas, no Brasil, é assim que eu vejo o mundo acadêmico no geral.

O Ensino Superior no Brasil, principalmente na esfera pública, PARA MIM, salvo um professor aqui, uma professora ali, me entedia por completo. Desculpe a franqueza. Mas é isso. Eu nunca me senti “livre” na universidade, o que de fato, dizem ser por aqui, um dos principais ideais constitucionais desta, a “liberdade”. Pois a universidade é — seria — em tese, “um universo grandioso de absorção de conhecimento, discussão e CRIAÇÃO de ideias”.

Ok. “Hora do exemplo”. Professor(a) “Beltrano(a)”, pede(usualmente, quase que “obrigando”) para ler texto “Y” de Focault, para se construir uma resenha sobre determinada teoria social. EU, AUTOR DESTE (PSEUDO)ARTIGO AQUI, ENTENDO PRIMEIRAMENTE QUE, o objeto central, seria acima de tudo, conceder minha perspectiva de entendimento sobre a discussão da determinada teoria social. Focault é neste caso, uma excelente referência para tal. Só que aí, fuçando ali e aqui, eu acho um artigo “Z” do Morioka Masahiro, que fala da mesmíssima coisa, em uma visão até muito mais contemporânea. Ignoro totalmente o Focault. Leio o tal artigo sugerido dele, mas, nem o menciono. Uso o Morioka-San como total referência e levo a resenha bonitinha, toda dentro da ABNT, sem um erro de formatação. Com a argumentação completamente coesa com a proposta. Linda! será que o(a) professor(a), vai me dar nota dez por criatividade e ousadia, ou, vai me questionar por não ter me guiado pelo trabalho do Focault?

Só o fato de haver esta dúvida, já é um problema, não acha?

Essa é a questão para mim. Que droga de liberdade é essa, que eu tenho na universidade brasileira então? quantos professores, hoje, Século XXI, Ensino Superior do Brasil, dão nota dez por criatividade e ousadia?

Vamos alterar o cenário do exemplo...

Digamos que o meu embasamento no exemplo do Morioka-San, tenha sido um total desastre. Eu fugi do escopo. Mas a porcaria da tal suposta “liberdade”, ainda assim, estaria em questão, não concorda? Será que o(a) professor(a) falaria: “legal o que você tentou fazer. Buscar uma abordagem diferente, mas você cometeu falhas”, ou, somente me repreenderia?

“Mas, Daniel, convenhamos: a universidade também não pode funcionar assim, ‘à la Cassete’ ”.

Concordo. Se a vida naturalmente tem delimitações, claro que qualquer outra coisa também pode ter. Entendo que haja regras, é claro que entendo. Mas eu falo especificamente disso, de se tentar fugir um tiquinho dos GENIAIS DEUSES EUROPEUS e quem sabe, usar a perspectiva ultra, hiper, mega original do artigo lá do “Severino”, que é grande estudioso também e que mal é mencionado pela própria universidade onde é aluno. É sobre isso o que eu falo. Resumindo minha visão: para mim, grande parte do Ensino Superior por aqui no Brasil, diz que somos “vira-latas” e só na Europa é que há grande quantidade de “Pedigree”.

Todavia...

...meu irmão mais velho volta e meia diz assim: “cara, pare de birutice! fica aí inventando desculpas, conversas fiadas para não estudar. Tira um ‘canudo’ para poder sobreviver neste mundo, pois está difícil essa vida e está ficando cada vez mais difícil”. E ele está coberto de razão. Muitas pessoas que conheço e que amo, todas fizeram ou estão fazendo isso, conquistando um “canudo” e com muita batalha. Pessoas que trabalham fora durante o dia, estudam no fim do dia e ainda realizam outras tarefas quando voltam para suas casas. Quase não descansam. É batalha na Graduação, no Mestrado e no Doutorado. E estas pessoas estão cobertas de razão. Deus abençoe todos vocês, digo do fundo do meu coração! eu quero para vocês o melhor dos futuros.

Porém, eu sou o oposto dessa galera. Eu sou desses, “do contra”, que não chegam a lugar algum. Não consigo abrir mão desse tipo de posicionamento em várias circunstâncias, tais como esta. Minha essência é essa. É difícil. E parece que mais tempo se passa e não há prejuízo — mesmo o mais alto de todos — que me ajude a ser de outro jeito, para eu pensar da forma coesa com o sistema em que vivemos.

Se existe a reencarnação, sendo esta de acordo com os preceitos de algumas culturas, em que a volta à vida pode ser uma punição por erros cometidos, por escolhas erradas na existência anterior, se ainda for fabricado no futuro, eu, possivelmente, vou acabar renascendo como um “João Bobo”.

Dan Fayal
Enviado por Dan Fayal em 25/04/2018
Reeditado em 25/04/2018
Código do texto: T6318325
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