Os grandes cafés manauaras do início do século XX

Os cafés estão na moda. Cafés simples, gourmetizados, estão presentes nos quatro cantos da cidade, em shoppings, livrarias e em feiras, disponíveis para todos os gostos e bolsos. Esses estabelecimentos, de pequeno, médio ou grande porte, são locais de socialização, descontração e descanso, atendendo as mesmas funções que possuíam no início do século passado. Nos idos de 1900, as grandes capitais europeias e as demais cidades enriquecidas pela corrida industrial capitalista tornaram-se pequenos centros de diversão para a classe média e a burguesia, com os cafés figurando em destaque. Em Manaus, cidade enriquecida pelas atividades ligadas à extração do látex, não foi diferente.

Na Praça 15 de Novembro, na zona portuária, destacava-se o botequim Café dos Terríveis, entre as ruas 15 de Novembro e Visconde de Mauá (antiga Demétrio Ribeiro). Sua inauguração, em 16 de outubro de 1904, foi bastante concorrida, com grande número de pessoas tomando a praça e suas imediações. Foram servidas bebidas finas e manjares frios. Na porta do café, uma banda regimental embalava o momento com peças variadas (1). Seu cardápio era variado, como foi possível constatar em anúncios publicados em jornais. No dia 18 de outubro de 1904, por exemplo, foi servido “sorvete de morango, coalhada, leite puro, refrescos de diversos sabores, chocolate, comidas frias e café moka especial” (2). No dia 19 de outubro do mesmo ano foram servidos “sorvetes de leite, de creme e de baunilha, coalhada, leite puro, refrescos variados, comidas frias e café moka especial” (3). Além do ‘café moka’ especial, a principal bebida da casa era o chopp alemão da marca Pschorr. Um cardápio mais completo surge a partir de 1908, com “sanduíches, fiambres, salames alemães e de Lyon, conservas, frutas em caldas, doces, biscoitos, charutos e cigarros” (4).Os clientes do Café dos Terríveis também poderiam ouvir músicas no recinto, geralmente cantadas por quartetos e quintetos, nos quais figuravam nomes como o de Arão Benjamin, pianista português formado pelo Conservatório Real de Lisboa. Com organização do ‘Club dos Terríveis’, o local era um dos pontos de concentração dos festejos carnavalescos, como os famosos carnavais de 1905 e 1915.

Entre as ruas José Paranaguá e Guilherme Moreira, na então Praça da Constituição, atualmente da Polícia, erguia-se o Grande Café Central. O Café Central era um estabelecimento completo, tendo 12 bilhares e diferentes tipos de jogos. Sua clientela poderia refrescar-se com cervejas, chopps, águas minerais, leite gelado e refrescos. A cada 1000 réis gastos, o cliente ganhava um cupom para concorrer a um prêmio de 300 mil réis (5). O café fazia questão, em seus anúncios, de dar ênfase a arquitetura do prédio em que estava instalado, com 16 portas em arco perfeito (6).

Na Avenida Eduardo Ribeiro, principal artéria de Manaus naquele período, existiu o Café da Paz, um dos mais longevos, encerrando suas atividades no início da década de 1960. Assim como o Café Central, possuía em suas dependências alguns bilhares ‘snooker’. Das bebidas que mais faziam sucesso, o caldo de cana era a principal pedida de estudantes, professores, advogados e intelectuais que se reuniam após o expediente.

Saindo do Café da Paz, os que quisessem continuar a diversão poderiam se dirigir ao Café Suisso, na Rua da Instalação. Talvez o Café Suisso tenha sido o estabelecimento com a maior variedade de bebidas: cervejas geladas, leite fresco, café, chocolate, refrescos, aluá, ginger-ale, uísque, vermute, cidra, vinho do Porto, conhaque, licores, vinho de Colares (freguesia portuguesa) e vinho verde. Castanhas, nozes, amêndoas, figos, passas, queijos, fiambres e salames eram os petiscos. Entre os pratos mais completos, pudins, pastéis, sanduíches, escabeche de peixe e peixe assado. Também eram vendidos charutos e cigarros de marcas variadas e azeite fino de Alcanhões (vila portuguesa do Distrito de Santarém). Funcionava até meia-noite (7).

Mais tardiamente, por volta de 1925, surge o Ponto Chic, café, bar e leitaria, na Avenida Eduardo Ribeiro, esquina com a Rua Henrique Martins. As bebidas servidas eram chocolate quente, café, chá e leite, enquanto que os alimentos de destaque eram os doces finos, as canjas, as papas, os queijos, presuntos e pratos completos. O leite servido era da Agência Lacta e o café do Moinho de Ouro. O Ponto Chic iniciava suas atividades às 6 horas e fechava 1 hora da madrugada (8). Seus proprietários tinham uma interessante promoção: Na compra de um maço de cigarros das marcas Clarita (fortes) e Sportman (leves), ganhava-se uma xícara de café. Também na Eduardo Ribeiro, canto da rua Saldanha Marinho, ficava o Café Avenida, famoso pelos bilhares (também vendia artigos para bilhares) e outros tipos de jogos. Comercializava, assim como os demais, “café, leite, chocolate, fiambres, salames, mortadelas, vinhos, cervejas, águas minerais e gelo” (9).

NOTAS:

1 Jornal do Comércio, 17/10/1904.

2 Jornal do Comércio, 18/10/1904.

3 Jornal do Comércio, 19/10/1904.

4 Jornal do Comércio, 20/08/1908.

5 Correio do Norte, 06/06/1909.

6 Jornal do Comércio, 17/06/1908.

7 Quo Vadis? 24/12/1902.

8 Jornal do Comércio, 19/08/1925.

9 Correio do Norte, 31/03/1911.