MOTOCLUBES CRISTÃOS - FÉ EM DUAS RODAS

Clubes evangélicos promovem a fé e comunhão entre os aficionados por motociclismo

Velocidade, companheirismo e fé. Para alguns evangélicos, esta é a combinação que dá sentido à vida. Quem viu o filme Easy rider, que virou cult ao mostrar o estilo de vida para lá de desregrado dos motociclistas, pode até achar que crentes de verdade não se misturam com essa turma de casacões de couro, cabelo comprido e tatuagens – mas acredite, existem até motoclubes gospel, que reúnem gente apaixonada por Jesus e pela sensação de liberdade que experimentam sobre duas rodas. Mas, é claro: para eles, libertação mesmo, só Cristo pode dar.

“Só Jesus liberta” é o lema expresso na bandeira do Leão de Judá, motoclube sediado na cidade do Rio de Janeiro. Seu fundador, Edson Rangel de Azevedo, tinha formação evangélica, já que foi criado na Igreja Batista, mas confessa que foi integrante de outro grupo, este secular, chamado Pregos do Asfalto. “Porém, aos poucos fui me constrangendo e vendo o quanto meus amigos dali eram carentes de Deus”, lembra. Foi a partir daí que o rapaz percebeu que sua missão era fundar o primeiro motoclube cristão carioca, que aliasse a paixão por motos com o estilo de vida evangélico. Há sete anos, o Leão de Judá começou suas atividades. “No início, as igrejas não nos viam com bons olhos, mas hoje somos convidados a compartilhar de nosso trabalho em diversas congregações” alegra-se.

O grupo participa de encontros de motociclistas, ocasiões em que diversas agremiações se reúnem. Ali, enquanto muita gente prefere a farra, os “leões” evangelizam. Quando alguém aceita a Palavra, é encaminhado a uma igreja, já que o motoclube não tem a pretensão de exercer este papel. Segundo seus integrantes o definem, o Leão de Judá é um ministério indenominacional cujo objetivo é a evangelização e a comunhão. E o pessoal costuma ser rigoroso na admissão de novos membros. Além de pertencer a uma igreja, o aspirante precisa apresentar uma carta de recomendação de seu pastor e, no caso dos casados, a concordância da família. Tanto rigor é justificado pelo presidente, o carioca Luiz Alberto Gomes Sá: “As coisas de Deus têm que ser feitas corretamente; ao seguir essas regras, o membro prova que é um bom cristão e que seu pastor está ciente de suas atividades”, explica.

Membro da Primeira Igreja Batista de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, Luizinho – como é conhecido – afirma que não há grande diferença entre os cultos realizados pelo grupo, curiosamente chamados de “motocultos”, e as liturgias das igrejas convencionais. “Nossa mensagem é toda baseada na Palavra de Deus – apenas nos expressamos de maneira que o pessoal do meio a entenda, sem o famoso evangeliquês”, revela.

Testemunho – Em São Paulo, já virou tradição o encontro de motociclistas às terças-feiras no Ginásio do Ibirapuera. É o Ibira Moto Point, onde se reúnem, ao som de muito rock e regados a cerveja, centenas de integrantes de motoclubes. Perfiladas, as motos – inclusive reluzentes Harley-Davidsons, sonho de consumo de dez entre dez motociclistas – são um show à parte. E os integrantes do motoclube Tribo de Judá sempre marcam presença no evento com seu núcleo paulistano, liderado pelo evangelista Ailton Faioli, mais conhecido como Pan Pan. “Eu montei meu triciclo artesanalmente, rendendo-me a uma paixão antiga por motocicletas”, conta. A partir dali, começou a procurar sua turma. “Eu buscava motoclubes com integrantes evangélicos, cujos interesses e conduta não fossem conflitantes com a minha fé. Aí, conheci a Tribo de Judá”.

Convertido há mais de dez anos e membro da Igreja Batista da Família, depois de sofrer sérios problemas de ordem pessoal, Pan Pan se diz abençoado pelos resultados do trabalho da sua equipe: “A evangelização principal é por meio do testemunho que damos com nossa vida”. O grupo tem tido bom reconhecimento ­– inclusive, por motoclubes sem qualquer vínculo religioso. “Somos convidados para abrir e encerrar todos os eventos com orações. Além disso, muitas pessoas nos procuram para contar problemas e pedir aconselhamentos.” E não faltam exemplos daqueles que aceitaram a fé ou reconciliaram-se com Jesus depois de ouvi-los. “Já surgiram oportunidades de fazermos cultos nos lares de pessoas que precisavam de libertação”, diz Faioli.

“A Tribo de Judá é um grupo de motociclistas que, apesar de amar a vida em duas rodas, coloca em primeiro lugar a caminhada com Cristo, cumprindo o mandamento de Jesus”, descreve o fundador do clube, Wenceslau Fernando Flórido. Ele conta que, antes de se converter, esteve envolvido com seitas demoníacas e alcoolismo, além de se meter em “pegas” de motos. “Minha vida estava quase destruída, mas Jesus Cristo se revelou a mim e me libertou, física e emocionalmente”, exulta. Atualmente, ele congrega na Comunidade Cristã Videira.

E os motoclubes gospel empenham-se também pelas atividades de natureza social. Um destes trabalhos é desenvolvido junto a moradores de rua. Os integrantes do Leão de Judá costumam encaminhar estas pessoas para casas de recuperação. Já o pessoal da Tribo de Judá arrecada alimentos para os carentes. Tal comportamento chama a atenção dos grupos convencionais. “Eu acho muito válida a participação deles nos encontros. São mais tribos que chegam para somar, e o verdadeiro motociclista não tem preconceitos”, opina o jornalista Márcio Diniz, integrante do grupo Black Angels. Kamikaze, diretor do Abutres no Litoral Norte, um dos mais tradicionais clubes de motociclistas do país, também elogia os confrades crentes, mas reconhece que não gosta muito da evangelização nos encontros. “Cada um tem sua religião”, desconversa. Ele prefere destacar as atividades assistenciais social realizadas pelos grupos evangélicos. “Se você tem boa intenção e faz algo para ajudar os outros, tudo bem”, resume.

Jipes abençoados

“Não se perca na trilha, Cristo é o caminho”. Este é o lema dos Jipeiros de Cristo, grupo missionário goiano que alia o espírito de aventura com a vocação cristã. Como tantas outras associações similares, eles também percorrem as trilhas e estradas mais longínquas do país, mas o que os diferencia dos grupos congêneres é o propósito de servir a Deus e transmitir mensagens bíblicas aos pobres e necessitados, por meio de projetos missionários e assistência social. Fundado há quase dez anos pelo médico Paulo Marcelo de Carvalho, um aficionado por jipes, eles procura mparticipar de competições, sempre “libertando os cativos e oprimidos”, como proclamam.

Atualmente, o grupo conta com dez famílias associadas – isso mesmo, os sócios viajam acompanhados das mulheres e dos filhos –, que percorrem as estradas do país levando o Evangelho de maneira bem prática. Além do prazer pelo esporte, os Jipeiros de Cristo têm em comum a solidariedade. Como os sócios têm um poder aquisitivo mais elevado, as jornadas são verdadeiras cruzadas da ação social.“Geralmente,escolhe-mos populações carentes, em locais de difícil acesso; e levamos para lá uma unidade móvel de saúde com dois consultórios, um médico e um odontológico”, explica o empresário Carlos Reis, líder do clube. “Nossa oração é para que as pessoas sempre sejam alcançadas, desde os grandes centros até os mais remotos locais, por meio desse ministério que o Senhor tem nos confiado.” Parte da carga dos jipes são cestas básicas destinadas aos carentes. Ainda faz parte da estratégia de evangelização a distribuição do Novo Testamento e a exibição do filme Jesus num telão, muitas vezes montado ao ar livre, o que acaba se tornando uma festa em localidades onde sequer existe cinema. Além disso, advogados do grupo prestam assistência jurídica gratuita à população e são promovidas atividades de lazer para as crianças. “Nosso papel é lançar a semente do Evangelho por onde passamos”, frisa Carlos Reis.

“Os Jipeiros de Cristo realizam um trabalho de consciência missionária, usando os recursos de que dispõem como forma de evangelizar”, opina o pastor Roberto Naves Amorim, diretor do projeto missionário Evangelho em Ação, que atua no Piauí, o Estado mais pobre do país. Ele encontrou nos Jipeiros de Cristo a parceria ideal para seu trabalho missionário. “Eles deixam o conforto de suas casas e viajam com as famílias para dar suporte às nossas atividades”, elogia.

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JDM

José Donizetti Morbidelli
Enviado por José Donizetti Morbidelli em 28/04/2009
Reeditado em 04/10/2022
Código do texto: T1564613
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