Ser ou não ser anti-corinthiano

Romeu Prisco

Eis a questão. Ser anti-corinthiano, principalmente para quem é torcedor do Palmeiras, do São Paulo e do Santos, constitui algo absolutamente normal, corriqueiro. Equivale dizer: mais e acima de rivais entre si, eles são anti-corinthianos. O que também está se tornando corriqueiro, mas que não pode ser considerado normal, do ponto de vista psicológico e de saúde mental, é o fato de, não sendo apreciador de futebol e não tendo preferência por nenhum time, alguém ser anti-corinthiano, via de regra, fanático !

Pessoas de bom nível cultural e social, gabaritados e reputados profissionais liberais, perdem considerável parte do seu precioso tempo catando textos e imagens anti-Coritnhians, para reproduzi-las ou repassá-las aos integrantes da sua lista de relacionamento na internet. Provocação ? Ora, se alguém não tem preferência por nenhum time de futebol, qual a razão em provocar quem tem ? A explicação é simples. Significa que o objeto da provocação, no caso o Corinthians, representa, para o provocador, algo muito mais do que apenas um time de futebol. O que de fato representa, só o provocador pode dizer, deitado no divã do consultório do psiquiatra. Quem sabe, como vertente do complexo de Édipo, o pai era corinthiano, mas traía a mãe, que era palmeirense. O filho, sem tornar-se palmeirense, assume a condição de anti-corinthiano e, assim, subliminarmente, passa a hostilizar o pai, na expectativa de, um dia, ocupar seu lugar junto à mãe.

E se não for provocação e nem complexo de Édipo, mas esperteza, para obter Ibope ? O pretenso espertalhão, sabedor de que o corinthianismo constitui maioria em todos os grupos futebolisticamente heterogêneos, lança mão do anti-corinthianismo para chamar a atenção. Quase sempre consegue. Porém, revela falta de talento e de criatividade, porque, freqüentemente, utiliza o trabalho de terceiros para alimentar a sua esperteza. Há situações em que essa esperteza rende dividendos profissionais e financeiros, caso típico de certos arremedos de jornalistas e comentaristas esportivos.

E se não for provocação, nem complexo de Édipo e nem esperteza ? Aí o diagnóstico fica mais difícil e complicado. Sadismo, de quem só encontra prazer na provocação ? Masoquismo, de provocador que necessita e sente prazer em ser retaliado pelos provocados ? Sadomasoquismo, como prazer de mão dupla ?

Agora, a grande inovação decorrente do esdrúxulo modernismo "ético-legal" vigente. Ser anti-corinthiano já adquiriu status equivalente ao do homossexualismo. Anti-corinthianos não querem mais ser "discriminados", querem ter sua "opção" reconhecida e respeitada, bem como seus direitos protegidos. Entre estes, o mais importante, é o de ter substancial cota de lugares reservados nos estádios dos jogos do Corinthians, onde quer que se realizem, a fim de poderem manifestar, livremente, seu anti-corinthianismo. Na hipotese desse direito não se consumar ou ser obstado, os anti-corinthianios, através das suas associações, poderão recorrer ao Poder Judiciário.

Então, você, que se enquadra nas situações acima expostas e mora em São Paulo, filie-se à APAC - Associação Paulista de Anti-Corinthianos e usufrua de todos os direitos. Além de ingressos gratuitos para os jogos do Corinthians, você poderá contar com vasto acervo de imagens e textos para gozar os corinthianos do seu relacionamento pessoal, profissional e internautico. Poderá, também, freqüentar cursos de aprimoramento do anti-corinthianismo, ministrados pelo professor Milton Fezes, ôps, Milton Neves.

Se você mora fora do Estado de São Paulo, filie-se à associação local. No Rio de Janeiro já existe uma, fundada e dirigida por integrantes do grupo jornalístico "Lance", em cuja sede também funciona a ACAC - Associação Carioca de Anti-Corinthianos. Juntas, as associações regionais estão constituindo a associação nacional, denominada ABAC - Associação Brasileira de Anti-Corinthianos, que terá sede em Brasília - DF. Contando com subsídios governamentais e doações dos seus abonados associados, a ABAC promoverá, anualmente, em diversas capitais brasileiras, a Parada do Orgulho de Ser Anti-Corimthiano !

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O autor foi colunista do informativo "Direto da Redação", editado pelo jornalista Eliakim Araujo.

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