O Final De Semana Mais Trágico Da Fórmula 1

No sábado, dia 30 de abril de 1994, dia do treino classificatório para o GP de San Marino de 1994, o céu estava azul no autódromo Enzo e Dino Ferrari. Mas, aquela tarde em Imola seria um dia triste para a história da Fórmula 1. O piloto austríaco Roland Ratzenberger, estava na sua primeira temporada na Fórmula 1, competindo pela equipe Simtek com o número 32. Por volta dos 20 minutos do início dos treinos, Ratzenberger atropelou uma zebra da chicane Acqua Minerali na volta anterior, impacto no qual deve ter danificado sua asa dianteira. Ao invés de retornar para os boxes e trocar a asa dianteira, o piloto austríaco continuou em outra volta rápida. Correndo a mais de 300 km/h, a asa dianteira voou, com Ratzenberger virando passageiro dentro do cockpit, incapaz de controlá-lo,

A Simtek bate lateralmente contra a barreira de concreto. Embora a célula de sobrevivência permanecesse em grande parte intacta, a força do impacto lhe infligiu uma fratura basal craniana, com o sangue visível em seu capacete branco e vermelho.

A destruída Simtek parou, com os seu braço esquerdo a mostra, pela parte arrebentada da lateral e a cabeça do piloto tombada, sem reação. Poucos notam o heroísmo dos três fiscais de pista que chegam ao local, cruzando a pista sem que o treino classificatório tenha sido interrompido. Finalmente, a bandeira vermelha(que significa corrida suspensa). As câmeras captam cada detalhe do socorro, a cara preocupada de um fiscal, o trabalho dos paramédicos para retirar o piloto do cockpit, alguém coordenando a operação.

Enquanto isso, o locutor da Rede Globo, Galvão Bueno critica o regulamento desportivo, que teria deixado os carros mais inseguros. “Eu até perguntei isso para o Senna ontem e ele ficou quieto. Não sei nem se eu estou falando besteira, depois quero até a opinião do Rubinho (Rubens Barrichello)”. O narrador chega a pedir para os espectadores não olharem ao ver que Ratzenberger estava recebendo massagem cardíaca e que havia muito sangue no local. O ferido Barrichello assistiu a tudo da cabine de transmissão da Globo em Imola. Enquanto emitia sua primeira e transtornada opinião, via-se que a Simtek fechava os portões de seu boxe. A massagem cardíaca se estende por um bom tempo.

Rubens Barrichello toma a palavra. “O que eu acho que deveria existir nas pistas é muita área de escape. Por exemplo, lá na Bélgica em Spa-Francochamps, a Eau Rouge é uma curva que deveria ter uma área maior”. Enquanto isso, nos boxes da Williams, Ayrton Senna assistia, estático, ao acidente, por um monitor de TV. Quando os médicos tentaram reanimá-lo com massagem cardíaca, o brasileiro não resistiu e saiu andando, saindo das câmeras e chorando copiosamente. Galvão pede as palavras de Barrichello sobre a decisão da Williams e da Benetton de não correrem a segunda parte do treino classificatório, o que não aconteceu. Foi sua última fala antes de sair da cabine de transmissão da Globo. Ele ressalta como os pilotos se sentem mal com um acidente de um adversário. “O Ayrton ontem comigo, se preocupando com acidente, esses momentos são os mais importantes da nossa vida, às vezes receber a bandeirada em primeiro não é o mais importante, mas sim ter um amigo do lado. Principalmente um amigo que para mim é um ídolo há muito tempo”. A sessão classificatória foi paralisada e os quarenta minutos restantes foram então cancelados. Senna é declarado pole position do GP de San Marino de 1994, mas não comemora sua 65º e última pole. O piloto austríaco morreu na hora, mas a FIA, para não cancelar o “show do domingo”, confirmou o óbito apenas no Hospital Maggiore, por causa das múltiplas lesões sofridas. O sonho de Raztenberger, de correr na categoria máxima do Automobilismo, durou apenas 53 dias. A “Dona Morte” não satisfeita, continuou rondando o Autódromo Enzo e Dino Ferrari, escolhendo as futuras vítimas pelo paddock e pelas arquibancadas de Imola. Os sinais daquele sábado trágico não eram um bom presságio para o GP no dia seguinte. Passou na cabeça de Ayrton Senna um filme dos acidentes graves que ele viu nos GPs de San Marino. O primeiro com Nelson Piquet em 1987, com a Williams e o segundo com o seu amigo, Gerard Berguer em 1989 com a Ferrari pegando fogo, ambos foram na curva Tamburello. Senna foi até o local do acidente, recebendo uma advertência do controle da corrida. Senna ainda criticou abertamente a falta de segurança com os pilotos e com os autódromos na véspera de sua morte.

Senna ainda pediu o cancelamento do Grande Prêmio de San Marino após a morte de piloto austríaco no treino classificatório, mas os interesses monetários da Fórmula 1 falam mais altos que os interesses dos pilotos. Caso fosse declarado Ratzenbeger morto na pista, o GP de San Marino não poderia ter sido realizado de acordo com a Lei italiana.

Senna ao encontrar com o chefe da Equipe Médica, o Doutor Sid Watkins, chorou sobre o seu ombro. Dr. Sid Watkins tentou convencer Senna a não correr no dia seguinte: "O que mais você precisa fazer? Você já foi Campeão Mundial três vezes, obviamente é o piloto mais rápido. Deixe isso e vamos pescar", disse o médico.

Mas Ayrton Senna foi insistente: "Sid, tem certas coisas que não podemos escolher. Não posso me retirar, tenho que correr", afirmou.

Na verdade, uma série de acidentes graves nos anos anteriores em treinos em Imola com Michelle Alboreto e Riccardo Patrese já alertavam a Fórmula 1 para o perigo da reta curva Tamburello, mas nenhuma providência foi tomada.

No dia da tragédia em Imola, Ayrton Senna pediu ao amigo Joseph Leberer que arrumasse uma bandeira da Áustria para homenagear Roland Ratzenberger em sua vitória. O amigo colocou a bandeira da Áustria dentro da Williams.

A "Dona Morte" estava de olho na “reta curva” da Tamburello e iria fazer a sua próxima vítima fatal no dia seguinte.

A trágica tarde de domingo em Imola começou com um acidente na largada. O finlandês J.J. Lehto não conseguiu largar com sua Benetton e ficou parado no grid na quinta posição.

O português Pedro Lamy com a Lotus, que largou na vigésima-segunda posição, teve sua visão bloqueada por outros carros e não o percebeu, acertando em cheio a traseira do Benetton.

Partes da carenagens dos carros e pneus voaram pelo ar contra a cerca de segurança projetada para proteger os espectadores no grid de largada. Porém, nove pessoas sofreram ferimentos leves após um dos pneus passar por cima da cerca.

O Safety Car entra na pista.

Na quinta volta, o Safety Car vai para os boxes e a corrida recomeça. Senna larga bem, mantém a ponta e vai se distanciando em relação a Schumacher.

Minutos depois da corrida ser reiniciada, e a "Dona Morte" vitimava Ayrton Senna na curva Tamburello na sétima volta quando o brasileiro liderava.

Dr. Sid Watkins foi quem em vão tentou salvar Ayrton Senna.

O final de semana do GP de San Marino de 1994, é lembrado por ter sido um dos momentos mais trágicos do automobilismo.

A partir deste grande prêmio, a Fórmula 1 sofreu muitas modificações com o intuito de aumentar a segurança tanto dos pilotos quanto dos espectadores.

Desde a trágica corrida, foram feitas numerosas mudanças nos regulamentos para reduzir a velocidade de um Fórmula 1 e mudanças nos traçados nos antigos circuitos visando a segurança.

Sem o gênio Ayrton Senna na pista, a Fórmula 1 também não seria mais a mesma.

Por coincidência do destino, Ayrton Senna e Roland Ratzenberger nasceram em 1960, numa segunda-feira, eram canhotos e depois de um ano de casados, tinham se divorciado por amar a velocidade e querer o melhor para suas carreiras de piloto.

Vinicius Moratta
Enviado por Vinicius Moratta em 30/04/2019
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