CULINÁRIA BAIANA

Habitada por índios, descoberta por portugueses e recheada por africanos que aos montes foram sendo trazidos para a nossa terra, a Bahia sofreu a influência marcante destas culturas. Tantos ingredientes, cada um na sua exata porção, deram origem a uma das receitas mais saborosas do mundo, A CULINÁRIA BAIANA.

Podemos dizer que, casualmente ou não, a busca de novos sabores, foi preponderante para a descoberta das terras brasileiras, haja vista que um tesouro, dos mais preciosos da época, as especiarias, motivou, em 08 de março de 1500, a saída da expedição de Cabral de terras lusitanas, em busca do caminho das Índias. Lá estavam as tão valiosas especiarias, as mesmas tão ao alcance das nossas mãos e mesas hoje em dia: cravo, canela, gengibre, baunilha, mostarda, erva-doce, dentre muitas outras. Em tempos de ausência de técnicas de conservação de alimentos, seu valor mais tinha a ver com a questão da pura sobrevivência do que com o requinte culinário. As especiarias tornavam os sabores mais toleráveis, além de amenizarem, pelas suas propriedades medicinais, eventuais desarranjos de saúde, provocados pela ingestão de comidas inadequadas.

Após o discutível desvio acidental da rota desejada, os portugueses desembarcaram no Brasil a 23 de abril de 1500, um dia depois de avistarem nossas terras. Os primeiros contatos com os habitantes locais, os Índios, foram marcados por trocas amistosas de alguns presentes, em sua maioria iguarias de cada um dos povos. Inicialmente os índios brasileiros rejeitaram os sabores europeus, cuspindo quase tudo que lhes era servido, inclusive o vinho. Foi uma questão de dias. Logo em 29 de abril, dois nativos subiram a bordo de uma das embarcações e comeram de tudo que lhes ofereceram. Esbaldaram-se com arroz e presunto cozido servido frio e beberam vinho.

Do cardápio local, os primeiros ingredientes experimentados pelos portugueses vieram do mar e rios: peixes e camarões. “Grossos e curtos, entre os quais tinha um tão grande e grosso, como em nenhum tempo vi tamanho” admira-se Caminha em sua carta ao rei, onde descrevia as belezas e encantos, assim como os defeitos, pelo menos aos olhos dos portugueses, da nova terra e seu povo.

Começava ali a nascer, a culinária brasileira, uma mistura de culturas e sabores que hoje, extremamente diversificada e influenciada por outras culturas, encanta os paladares mais requintados do mundo tendo como um dos destaques principais, a culinária baiana.

As primeiras mudas de cana-de-açúcar chegaram ao Brasil a bordo das embarcações que sucederam Cabral. Encontrando um solo fértil de massapê e clima úmido que logo se mostraram ideais para seu cultivo. Assim se formava a lavoura que trouxe às nossas terras, a pitada de sabor que faltava para completar a receita: o povo africano. Eles vieram das Ilhas do Golfo Guiné, Angola, Moçambique, Costa do Marfim, Costa da Malagueta e outras regiões da África. Tinham culturas diversas, algumas milenares e, conseqüentemente, culinárias distintas entre si, que ajudaram e muito a enriquecer os sabores do cardápio brasileiro. Trouxeram na bagagem um extraordinário talento de adaptação aos poucos ingredientes a que tinham acesso aos seus hábitos culinários. Aperfeiçoaram por exemplo, o pirão, uma invenção portuguesa no Brasil, a partir da farinha de mandioca, já vastamente usada pelos índios e das técnicas portuguesas de caldos e papas. Para fazer render a pequena ração que recebiam, escaldavam a farinha no caldo fervente dos alimentos e comiam com pimenta malagueta. Era o Pirão Massapé, assim chamado pela coloração arroxeada do preparo.

Com a intensificação do tráfico de escravos (negros africanos), vários produtos e plantas alimentares da áfrica vieram para cá. Quiabo, inhame, gengibre, dendê, côco e tantos outros. Aqui, junto aos produtos locais e os trazidos pelos portugueses, foram “assados, grelhados e cozidos” durante anos e anos de colonização, sofrimento e história, dando origem ao “prato” de sabor indescritível e tempero sem igual: A CULINÁRIA BAIANA.

Bibliografia consultada:

Fruend, F.; Vieira, S. e Zuanetti, R. 2001. O Mundo da Cozinha. Rio de Janeiro: Senac Nacional

Leal, M. L. Soares. 1998. A História da Gastronomia. Rio de Janeiro: Senac Nacional

Romio, Eda. 2000. 500 Anos de Sabor. São Paulo: Romio