ENCONTROS SAGRADOS - TAMARA PARK

Peregrinação pelos caminhos sagrados do eixo monoteísta rende livro de narrativas pessoais e transformação espiritual na vida de escritora norte-americana

Para os cristãos Deus é amor e o amor está encarnado em Jesus; na concepção judaica, há uma profunda conexão entre Deus e a Torá – a bíblia hebraica –; e, por sua vez, os muçulmanos delegam a Alá a criação de tudo que existe – ao menos no mundo islâmico. Foi o que apurou, há alguns anos, a escritora norte-americana Tamara Park em sua peregrinação de Roma a Jerusalém depois de conversar sobre Deus com dezenas de pessoas de diferentes credos e nacionalidades que encontrou durante a viagem. Pelos Bálcãs, trilhando caminhos que separam, não somente duas cidades milenares como também dois continentes historicamente marcados por diferenças comportamentais e religiosas, ela conviveu com culturas e tradições das mais distintas, e conheceu pessoas com costumes completamente antagônicos de seu convívio ocidental; tudo para tentar desvendar, ou ao menos compreender melhor, os mistérios de regiões e povos que confessam sua fé com embasamento em três das principais religiões existentes no planeta – o cristianismo, o judaísmo e o islamismo. “Eu preciso saber se as convicções que construí no solo dos Estados Unidos vão se esfarelar nas praias do Mediterrâneo. Preciso descobrir se essa imagem de Deus que eu tenho testemunhado vai cair por terra quando conhecer o conceito de Deus de outras pessoas – gente de diferentes culturas”, aponta ela no livro Encontros Sagrados – De Roma a Jerusalém (Garimpo Editorial), fruto narrativo de sua jornada que, embora focado principalmente na espiritualidade, discute também outras questões como a estagnação econômica da região, os conflitos étnicos e sociais, preconceitos e perseguições religiosas, enfim, um emaranhado de situações que ainda persistem em fazer parte da sociedade em geral, por mais moderninho que o mundo possa se apresentar nos dias de hoje. “Foi uma experiência que revelou um dos meus maiores conflitos espirituais. Ao logo da jornada, pessoas de diferentes crenças me presentearam e me acolheram, e eu ficava cada vez mais irritada por não poder retribuir tanta gentileza. Meu senso de equilíbrio – e controle – ficou completamente abalado pela generosidade de estranhos”, afirma a escritora, confessa de que a viagem trouxe uma profunda mudança à sua vida espiritual. “Eu pensei que tinha ido nessa nobre pesquisa para entender Deus, mas aí percebi que Deus tem me alcançado o tempo todo. O divino tem usado duas das minhas coisas favoritas na vida – viagens e conversas – para se revelar a mim”, declarou durante uma entrevista concedida à Folha de S. Paulo por ocasião de sua passagem pelo Brasil no mês de julho.

De volta à vida – Apesar de ser californiana, Tamara Park cresceu na costa leste dos Estados Unidos. Formada em Telecomunicações pela Liberty University e mestre em Divindade no Seminário Gordon-Conwell, em Massachusetts, numa análise individual ela própria se define como uma pessoa obcecada por histórias ricas e viagens baratas. Produtora em uma rede de televisão por assinatura com programas voltados para a conscientização social de jovens, a escritora não está tão distante assim do universo dos “contadores de histórias” como possa parecer, tanto que não foi um mero acaso ou um simples espírito de aventura que a fez se render à produção literária.

Há exatos nove anos, poucas semanas depois de aterrissar no Oriente Médio para cursar pós-graduação, os Estados Unidos sofriam o maior atentado terrorista da história do país, quando dois aviões se chocaram contra as torres do World Trade Center, em Nova York, reduzindo a cinzas o maior símbolo do poder capitalista norte-americano. Na volta à terra natal, depois de quase um ano longe de casa, Tamara Park diz ter se sentido transformada pela própria transformação que seu país havia sofrido, sobretudo por aquele patriotismo desenfreado e o desejo latente dos governantes e do próprio povo em combater o terrorismo a todo custo. “As bandeiras americanas estavam em toda parte; as divisões estavam ficando mais nítidas e os riscos, mais altos”, relembra.

Não deu outra, e fomentada pelo propósito de dirimir os conflitos de ordem espiritual que a acometiam, ela decidiu reunir dois amigos, preparar as malas e iniciar uma longa peregrinação em busca de respostas para suas dúvidas e incertezas. “Parece que pessoas que eu conheci pelo caminho me trouxeram de volta à vida”, afirma. Mais experiente e com um direcionamento espiritual bem definido, além de se dedicar à escrita e às demais atribuições ligadas à juventude, ela também trabalha como pastora na comunidade Warehouse 242, em Charlotte (Carolina do Norte), onde mora atualmente. Pelo jeito, bagagem, experiência e muitas histórias não lhe faltam para compartilhar com os leitores e membros de sua comunidade.

Fonte: Revista Eclésia - Edição 144

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José Donizetti Morbidelli
Enviado por José Donizetti Morbidelli em 16/09/2010
Reeditado em 12/03/2012
Código do texto: T2501915
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