foto/Youssef Rzouga

 Minha Língua é um Jardim Aberto às Sete janelas do Mundo/Entrevista  com Youssef Rzouga   por  H.Bahani
               

                         (releitura)



"As cidades morrem mas não as fontes dos valores do homem.
Minha língua é um jardim aberto às sete janelas do mundo” (YR)

 
 
A poesia busca a verdade do homem assim como o homem deseja e busca a   verdade da poesia  declara  Youssef  Rzouga. A poesia é o homem porque  é a  busca de uma nova linguagem- senha para o encontro do homem ao que  o leva hoje à armadilhas de uma “dispersão”, de um “deslocamento”, de uma “perda de referencias.”
Esta convicção leva o poeta a ir ao coração de ser complexo, a procurar aquilo que é a sua unidade e sua salvação,com muita memória  alimentada sob os sabores da euforia!"
   Youssef Rzouga é autor de 17 obras e coleções a maioria das quais escritas em língua árabe. Mas, como a poesia para ele “ não deve simplesmente dizer, mas, ser” , escreve, também,  “com alegria e  fluência” em francês, espanhol, italiano, russo, português, inglês,escreve poesia  em sete idiomas, ou seja em sete espíritos pertencentes ao mesmo todo, porque as distâncias se anulam na poesia e para ele a poética universal baseia-se, indissoluvelmente, sob sete vozes atemporais: El Moutanabbi,

Rimbaud, Elliot, Lorca, Dante, Pessoa, Pouchkine.  O desafio pode  ultrapassar
todas as margens? A poesia de Rzouga rebelde e eufórica é quase unanimemente aclamada como “uma promessa de alegria”
“um ímpeto, um elo de vida...”
 
Q:- Você parte de sua própria poética para tentar construir um novo território de palavras. Mas neste território você parece negar que ele tem fronteiras, você parece querer definir com parâmetros que nem sempre são para o patrimônio cultural árabe...
Youssef Rzouga:
“ A poesia se reconhece na verdade que tem sido expressa por El Moutanabbi, Rimbaud, Eliot, Lorca, Dante, Pessoa, Pouchkine..Ela é múltipla, aberta ao mundo, mas expressa pelos poetas  que tem acesso ao seu poder de beleza. O nascimento de todo verdadeiro poeta é um momento que permite que a palavra recupere a sua energia, sua riqueza interior, sua novidade. Essa reconquista não pode ser  exterior aos grandes êxitos que fizeram a verdade sobre o homem. É claro, minha fonte primeira, geratriz, é meu patrimônio e meu objetivo poético   a busca , a pesquisa



dessa terra, deste país de fertilidade enraizado no tempo, dessa substancia de luz e de fogo que recria o homem, deste anel perdido para Othmane Ibn Affane em desordem de conflitos e propagação... Apenas o patrimônio luminoso (de luz) que permite avançar o meu interesse,  e minha língua não é um exílio!. A língua não é meu exílio, ela é meu jardim aberto às sete janelas do mundo. Este é o   meu jardim de vista dos  pássaros que me permitem expressar a canção do homem...”
No último livro AS VOZES DE CARTAGO editado pela L’or du Temps você reconstrói com o escritor Abdelwahed Brahem um drama épico tecido dentro do espírito de Elissa, Hannibal, Amílcar, Asdrúbal...
- “ Sim, as cidades morrem mas não as fontes dos valores do homem que são eternas. Este patrimônio eu reclamo, eu reivindico,porque ele é portador da liberdade e da luz. Eu apoio tudo o que me permite ir ao encontro das minhas fontes, de minha inocência, de minha infância. O poeta se inventa, se reinventa,  se move sempre no círculo do inacabado, ele tem uma mensagem codificada à transmitir e seu objetivo está fora de qualquer ilusão de glória ou de prestígio. Sim, a poesia deve rastrear


a fonte mesma de ser para gerar (alcançar) a substancia ou a mônada de uma linguagem fundadora, de uma nova visão do mundo. Ela deve criar novas ligações, outro universo de sentidos. E para fazer isso a linguagem poética deve experimentar, construir o estado do sonho e do mito. Escrevo Cartago porque é um dos grandes momentos, um dos grandes marcos de nosso patrimônio que pode iluminar o futuro. O que eu ambiciono de capturar é esse ponto luminoso (brilhante) que garante, assegura a vida eufórica, frenética, total. Eu me sinto perfeitamente a vontade na minha língua árabe como em qualquer outra língua estrangeira.

A linguagem é supremo abraço, torna-se cadinho, caldeirão de significâncias de todos os espaços: sonhos, desejos, infância, movimentos e estados de alegria uma vez que libera todo entorpecimento  tais como  eles são sobre os ímpetos e êxtases da existência. Eu escrevi o épico de Cartago com o desejo de fazer à poesia – com os recursos do teatro – que lhe devem pertencer:  uma vocação de reorganização da estrutura de nossos mitos. Quando nós temos uma língua que não participa mais da evolução da história humana, deve-se injetar nela sangue cósmico. O dever do poeta é ir  por si mesmo cada vez mais longe: mudar, alterar  a estrutura de nossos mitos para que se transforme a estrutura de nossos pensamentos. Os mitos e os contos não são ponto de um simples jogo da mente imaginária, eu os abordo, aproximo-me deles com o mesmo desejo que acompanha minha leitura da história.”
 
 Tradução do francês por
 Lílian Reinhardt
 

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