Sobre o livro A vida sem manchete, de Gilmar Marcílio
 
Nunca ouvira falar sobre este autor, que mora em Caxias do Sul, no meu estado.

O livro, emprestou-mo uma amiga muito querida, daquelas que nos conhecem por fora e por dentro.

Degustei a leitura crônica a crônica, como se fosse um bombom recheado de licor com cereja (adoro!). E o livro, como o bombom, acabou, deixando “um gostinho de quero mais”.

Passamos a vida num frenético desejo de sermos notados, reconhecidos, tomando atitudes que despertem nos outros por nós respeito, admiração, e até uma pitadinha de inveja (positiva, é claro!). Enfim, preocupamo-nos em tornar-nos “notáveis” e (por que não?) sermos agraciados com algum prêmio famoso, demonstrando que a sociedade reconheceu nosso esforço. E por quê? Ora, porque somos humanos, seres imperfeitos, sem humildade, sem modéstia. Por isso nos deixamos seduzir por elogios interesseiros que nos enganam. E quando iludidos, “acordamos” estupefactos como se isso jamais pudesse ter acontecido conosco.

No afã de atingirmos nossos objetivos pré-determinados, ficamos “cegos” para o singelo da realidade que nos cerca quotidianamente. E é justamente este quotidiano que Gilmar nos revela de uma maneira extraordinariamente natural, com uma linguagem simples e envolvente, colocando na frente dos nossos olhos o banal, o costumeiro, do qual tendemos a fugir.

O interessante do livro está em ajudar-nos a refletir sobre o ser humano, o tempo, a vida, o mundo, o casamento, o homem, a mulher, a religião, etc., assuntos que ele discorre como conhecedor com fluência poética. A realidade vem impressa de uma riqueza lírica pouco comum e uma sensibilidade estarrecedora. Ela aparece vestida com tecido bordado com metáforas de uma criatividade inigualável, leve e esvoaçante, provocando o leitor a desvendá-la, descobrindo-a devagar para não reduzir o inusitado do momento.  Cito dois exemplos dos quais me lembro: “manhã mergulhada numa bacia de luz” e “vacas [...] continuam a mastigar as horas”. Inteligente modo de dizer, tornando mais viva e tocante a descrição.

Quanto mais lemos, mais temos vontade de ler. E chegamos à última página rápido demais e folheamos o livro aleatoriamente, lemos algum parágrafo e seguimos folheando e lendo, como quem não se convence de que o livro realmente tenha terminado.

Bendigo o coração que fez chegar até minhas mãos este livro. Sim, porque ele só pode ter vindo até mim pelo caminho do coração.

 
Imagem: Google
 
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