Uma nova autora do terror
 
Interagir com autores que no presente mercado editorial são chamados de “Novos autores” tem sido um costume constante em meu envolvimento com a literatura. Tenho uma aproximação em especial com vários do gênero “horror/terror”, e considero, para a maioria, que essa classificação editorial tem sido injusta.

Mesmo que a consequência do reconhecimento não esteja associada aos autores, cujo prestígio depende de um livro lançado por uma editora conhecida, e exposto em alguma livraria, nenhum escritor depende da visibilidade causada pela fama – mesmo que seja pouca – para trabalhar sua obra e, principalmente, aprimorar seu talento. A escrita é um grande laboratório para qualquer escritor. Suas ferramentas encontram-se nos livros, através de seus conceitos e ensinamentos (encontrados em livros de literatura e de ensino em língua portuguesa), e também de sua experiência com as técnicas de escrita e formas diferentes de se trabalhar com os gêneros, seja experimentando o conteúdo de uma obra de ficção ou aprendendo com as lições de obras baseadas na realidade. O fato é que um escritor não pode, jamais, deixar para segundo plano sua escola principal: o livro. O que se aprende fora dos livros é um complemento para alimentar sua experiência de vida, que pode ser usada como influência em seus escritos, podendo ser de forma prosaica ou poética.

Muitos autores lidam com toda essa experiência literária há muito tempo e nunca publicaram em nenhuma editora. Pelo contrário, publicam de forma independente, realizando eles mesmos as impressões de seus livros, seja através de uma gráfica ou editoras sob demanda (que nada mais são que gráficas aprimoradas, por desempenharem alguns serviços a mais). Além disso, é comum a prática de propagarem seus trabalhos através de blogs, redes sociais e outros meios de comunicação, o que já caracteriza, mesmo que em um âmbito menor, uma iniciativa de marketing. Sendo assim, de “novo” esse autor não tem nada. Sua experiência com o meio literário não se resume apenas a acompanhar as novidades que cercam o tipo de literatura que segue, mas também de se manter um envolvimento com o espaço a que tem alcance. Dessa forma, tem-se o reconhecimento pelo seu público leitor.

Este ano conheci uma autora através do site Skoob, chamada Thays M. de Paiva. Ela é uma dessas escritoras que o mercado classifica como “Novo autor”. Depois de me apresentar seu trabalho, comprei o livro dela como forma de incentivo, e também por me interessar profundamente pelo tema. Uma antologia de 380 páginas intitulada "Círculo do Medo - contos sobrenaturais de suspense e de terror", organizada por Alfer Medeiros, que reúne vários contos de terror de diversos autores nacionais que fazem parte de nosso conjunto de autores nacionais contemporâneos. E analisando seu conto A casa da Senhora Halle, pude perceber que qualquer texto publicado em uma antologia (principalmente um conto) também não deixa de ser um laboratório para qualquer autor. Ultimamente os contos devem ser curtos, alguns são chamados de minicontos, por não ocuparem mais que uma página. E engana-se quem pensa que, por serem menores, dão menos trabalho de se criar. Em vez disso, o trabalho é bem maior, a condensação das ideias deve possuir mais aprofundamento nos detalhes, uma maior concentração é exigida por parte da criatividade do autor, de forma a se explorar toda a mensagem que deve ser passada ao leitor, além de o conteúdo exigir maior concisão para que as linhas não se percam pelo caminho.
 

Capa - Antologia CÍRCULO DO MEDO

O conto de Thays Paiva deixou um gosto de “quero mais”. A narrativa gerada em torno da Sra. Halle poderia ser explorada melhor se o conto fosse mais longo ou mesmo se a ideia fosse trabalhada em um romance. No entanto, o fato de ser breve não prejudica a qualidade do conto. Por outro lado, o que um leitor quer em um texto de terror é explorar cada vez mais. E foi essa exploração que ficou faltando no conto da Thays. Queremos ir mais para o interior daquela casa assombrada, queremos saber mais sobre a bruxa que ali mora. Mas o conto termina, e nosso entretenimento acaba de forma abrupta.

O envolvimento da autora  com seu trabalho literário também abrange a participação de seu público leitor, como eu faço através deste artigo desempenhando meu papel de leitor, ou através de leitores dialogando diretamente com ela sobre a possibilidade de outros contos que explorem mais o universo de sua personagem, se um romance sobre o tema está a caminho, e assim a conversa não acaba... esse é o espírito de toda boa literatura que se discute após uma leitura. E como eu disse, antologias são um laboratório para qualquer autor, seu trabalho não precisa (ou não deve) terminar em algumas páginas de uma antologia. O conto da Thays é uma prova disso: foi pouco para o que se esperava, porque ela soube deixar para o leitor muito do que ainda tem a oferecer. Seu conto foi como uma maçã saborosa que a bruxa de seu conto nos ofereceu – depois do primeiro pedaço, a maçã nos é roubada, e ficamos apenas com a lembrança do doce gosto.

Traga-nos mais maçãs, Thays. Se possível, plante uma macieira. Porque A casa da Senhora Halle é apenas seu cartão de visita para o talento literário que cresce em você.
 
Sr Arcano
Enviado por Sr Arcano em 24/05/2016
Reeditado em 24/05/2016
Código do texto: T5645429
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