Ele Estava Lá, onde eu nem sabia que estaria(2)

Como tenho compartilhado com vocês, lá no prédio da Rua dos Carijós, desde o sétimo andar, emergia uma história pessoal que se desdobraria em diversos capítulos e fases de vida.

Naquele apartamento 704, ficava a indagar sobre os horizontes, e também vislumbrava pela janela posterior o prédio que se construía aos fundos.

Nosso apartamento não possuía janela que dava para a rua. Todas as janelas remetiam nossa visão para a parte de trás do prédio, e os horizontes de visão ali limitavam-se a construção de um prédio, em fase de acabamento, se me lembro bem.

Ali eu ficava algum tempo contemplando o trabalho dos operários e o constante subir de um elevador externo, de madeira e tábuas, que os mesmos utilizavam para acessar os andares superiores. Frágil e valente em suas viagens para cima e para baixo, o barulho deste elevador muitas vezes me despertava a atenção, juntamente com as soldas e a máquina de concreto.

Naquele quarto, diante do vislumbre dos operários, algumas vezes eu me dependurava na haste da janela para brincar de tarzan. Pendurado, sem nenhuma segurança e solto, como se pudesse voar, do sétimo andar daquele apartamento... Fazia isto sozinho, sem que ninguém me visse no interior do apartamento. Chego a esfriar o estômago quando disto me lembro. Não havia medo, apenas a adrenalina infantil daquilo que eu julgava ser uma mera brincadeira.

Num destes dias, meu pai chegou e me pegou pendurado naquela janela, e sem estardalhaço, abraçou-me e tirou-me de lá. Ele nunca tinha me visto a fazer aquilo. Foi um grande susto para ele. Corrigiu-me e isto jamais aconteceu novamente.

Meu pai não estaria lá naquele horário. Foi algo surpreendente a sua chegada. Como ele teve a intuição de ir para casa naquela hora? Muitos podem não saber, mas eu sei. É porque Ele estava lá e através do meu pai queria evitar uma grande tragédia, a interrupção daquilo que a minha vida pudesse um dia se tornar e experimentar. A inquietação produzida no coração do meu pai fora certamente gestada por Ele, e com isso, um grande livramento.

Eu não O conhecia, era apenas um menino irriquieto e sonhador. Nada mais do que isso. Mas Ele já me cercava com a Sua graça e misericórdia.

O apartamento 704 do Condomínio Barros Ribeiro presenciara um livramento de Deus mas muitos nos dias de então nem se apercebiam disto, nem eu mesmo, nem meu pai.

Fernando Alberto
Enviado por Fernando Alberto em 25/08/2017
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