UMA QUESTÃO DE ÓTICA

Utilizo, há mais de dez anos, a seguinte expressão: "Cada pessoa vê o mundo segundo o concebe. E esta é a sua verdade.". É muito prazeroso e confortador encontrar confrades e confreiras que, além de fazer poemas, entendem que, em Poética – especialmente na vertente do existencialismo – o vetor filosófico é uma das faces formadoras do contexto traduzido pela materialidade da Poesia – o poema. Gratificam-me os irmãos que, além da concepção artístico-estética representada pela peça com poeticidade, reconstroem-se como indivíduos, mesmo que saibam que a Poética é o reino da farsa, da fantasia e do sonho, trazido à tona pela intuição e inventiva nos territórios da eterna arte. E o mais curioso é que esse mundo instaurado em cima de todo esse contexto de falsidades possa ser consagrado como a verdade mais pura e ingênua de seu inventor. A verdade absoluta inexiste. O que poderá existir como verdade pessoal (e absoluta) é a que provém de postulados da fé religiosa e/ou mística. Agrada-me a oportunidade de pensar sobre tal temática, porque com ela e por ela o (meu) mundo interior se torna mais bonito, fraterno e solidário. E fico a desejar que o (meu) receptor – o poeta-leitor – também possa encontrar-se nestas constatações de ver o mundo em permanente reconstrução a partir do seu individuado território. Porque somente obteremos mudanças no social se conseguirmos mudar a visão do humano ser sobre o conflagrado universo do Caos. E isto só (me) parece possível acaso vislumbremos soluções possíveis e capazes de serem digeridas sem maiores traumas...

– Do livro A VERTENTE INSENSATA, 2017/18.

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