A Rua Dezesseis de São Gonçalo-PB

A Rua Dezesseis de São Gonçalo-PB

Segundo o escritor Celso Mariz, as grandes obras contra as secas, no alto sertão paraibano, na década de 1920, começaram pelas instalações de diretores e auxiliares graduados do serviço. Os engenheiros americanos contratados fizeram casas adaptadas ao nosso clima, de forma completamente diferente, tanto interna quanto externa.

Deste modo, o acampamento de São Gonçalo, construído pela IFOCS a partir da década de 1920, destaca-se pelas casas ventiladas, arborizadas, sem muro frontal ou separando as residências, com jardim à frente, pé direito alto. Ao lado dessa nova arquitetura, desfruta-se da presença de árvores frutíferas nos quintais, como goiabeiras, mangueiras, cajueiros, siriguelas e mamoeiros, que jorravam sombra e frutos frescos de forma abundante. Além do mais, as residências possuíam, via de regra, água encanada, iluminação elétrica e saneamento básico, ou seja, modernidade, infraestrutura e conforto, na época, para os funcionários e seus familiares.

As casas destinadas aos engenheiros e chefes, ou seja, as altas autoridades da inspetoria local apresentam-se com espaço e conforto superiores, além de localização privilegiada nas ruas mais altas do acampamento (Túnel, Petrópolis e Alto do Catete). Nesse sentido, verifica-se a fragmentação espaço-social no acampamento, uma vez que para os funcionários de nível inferior eram destinadas as residências mais humildes, e para os cassacos, as casas de taipas.

A Rua Dezesseis, que possui 16 casas (geminadas duas a duas) de cada lado sempre foi considerada a principal, além de ter sido a primeira rua de São Gonçalo, desde a inicialização na década de 1920. Nas décadas de 1920 a 1940, moravam engenheiros, feitores, apontadores, fiscais e demais empregados de categoria. No período de 1950 a 1970, era ocupada por encarregados de seção e pessoal da administração. Portanto, era uma rua que se distinguia pelo nível funcional e social dos moradores.

A rua era completamente arborizada por pés de fícus, que foram substituídos por árvores diversas ao longo dos anos, a partir da década de 1960. Os postes de iluminação antigos, de concreto, foram construídos de forma concomitante. Com o passar dos anos, esses postes foram sendo retirados, restringindo a fascinação e a nostalgia da avenida. Alguns moradores mais antigos da Rua Dezesseis comparecem nesse repertório de lembranças:

Acácio de Sousa e Etelvina de Sousa,

Afonso Elizeu e Marinete,

Ageu Siqueira e Alzeni da Cunha,

Alexandre Rodolfo e Josefa Pinheiro,

Ananias Oliveira e Juraci Parente,

Anézio Tomaz e Socorro Palitot,

Antonio Canuto e Maria,

Antonio Lopes e Dona Francinete,

Antonio Luiz e Georgina Brandão,

Antonio Maciel e Terezinha Figueiredo,

Antonio Parente Prado e Zulene Teixeira Parente;

Augusto Dantas e Anita,

Avanir Ponce e Valdinha Casimiro,

Bazo e Nina Casimiro,

Benedito Jucá e Maria,

José Ferreira Brandão e Joana Batista,

Carlos Augusto e Cleia Dias,

Cazuza e Dona Luzia,

Cazuza Felix e Honorina,

Chico Dantas e Maria,

Chico Elias e Dona Lourdes,

Chico Fernandes e Maria Alencar,

Cleto Pordeus e Mundica Rocha,

Cosme Vidal e Fransquinha,

Damasco Alves e Netinha Paz,

Descartes Cavalcante e Zirene Teixeira,

Deusdedit Leitão e Maria José,

Ehrich (motorista) e Francisca,

Eládio Cavalcante e Antonieta Abrantes,

Emídio Marques Pordeus e Alda Justino,

Eneas Vigolvino e Lindalva,

Francisco Alencar e Arlinda Rocha,

Francisco Marcelino e Lourdes Carneiro,

Gentil Teixeira e Beatriz Teixeira,

George Brandão e Dinora Pordeus,

Gilberto Antunes e Isolda Pordeus,

Gilberto Matos e Lourdinha Matos,

Hilda Pordeus e Angelina Pordeus,

Hugo Florentino e Maria Tereza,

Itamar e Bernadete Bernardino,

João Marques Pordeus e Ana Linhares Pordeus

João Reis e Dezuíte Reis,

João Travassos e Mariquinha Travassos,

Joaquim Reis e Terezinha,

Josa (carpinteiro)e Dona Francisca,

José Batista e Socorro Lucena,

José Carlos Gadelha e Misinha Pordeus,

José da Silva e Joaninha Rocha,

José Mariano e Maria Batista,

José Menezes e Francisca Braga,

José Pordeus e Francisca Gadelha,

Jurandir Ferreira e Socorro Capitulino,

Juvenal Arlindo e Lídia,

Juvenal Bezerra e Maria Bezerra,

Juvêncio Silva e Tidinha,

Lauro Justino e Terezinha Marques,

Lavino Pereira e Cleonice Silva,

Leonardo Pereira e Maria Lacerda,

Libério Pereira e Dona Juraci,

Lobinho e Dona Vane,

Lourival Batista e Zefinha Braga,

Luiz Carlos (fotógrafo) e Bel Paz,

Manoel Mendes e Gilca Soares,

Mentinho Lira e Maria do Socorro Lira,

Mundico (motorista) e Dezuíte,

Nestor Gomes e Vitória,

Nonato (motorista) e Carmélia,

Otacílio Bezerra e Francisca Alencar,

Pedro Antunes e Luzia Antunes,

Pedro Meireles e Clotilde,

Raimundo Francisco e Aldenora,

Raimundo Soares e Dona Aurelina,

Raul Moura Gadelha e Prascóvia,

Rui Oliveira e Zilma Coura,

Sebastião Meira e Helena,

Severino Afonso e Iracema,

Severino Evangelista e Zinzin Marques,

Severino Ponce e Terezinha,

Silvio Cabral e Zenaura Teixeira,

Tércio Santino e Raimunda Alves,

Valdemar Pereira Lima e Francisca Vidal Lima,

Zé Deodato e Mariquinha Coura,

Zé Tarzan e Nina,

Zé Vicente e Marlene Alencar,

Zilton Teixeira e Leonisia Gadelha.

Além de Sede Social, com bar e sorveteria (onde trabalharam Gilberto Antunes, José Antunes, Edson Trindade, Zé Tarzan e seu João Balança). Em todas as casas de São Gonçalo, havia uma pequena placa preta na fachada com os dizeres: “Propriedade do DNOCS”, indicado o número patrimonial do imóvel.

No entanto, devido à fragilidade da autoridade do DNOCS no decorrer dos anos, notadamente a partir da década de 1990, época em que deixou de haver fiscalização sobre os imóveis funcionais, as casas sofreram forte descaracterização, com profundas alterações arquitetônicas nas suas plantas originais. As fachadas foram alteradas, muros de proteção foram construídos, com a instalação de grades e portões, além de ampliações, reformas, entre outras obras diversas. As residências, que historicamente serviam exclusivamente aos servidores e moradores de São Gonçalo, passaram a ser ocupadas de maneira desordenada por estranhos que “compram” o patrimônio público a terceiros, sob a conivência estatal. Além do mais, as invasões desorganizadas de prédios e terrenos públicos, e até mesmo de avenidas e becos de acessos, têm contribuído sistematicamente para o “desmanche” do arranjo histórico e imponência urbana do lugar. Segundo José Antunes de Oliveira, gerente do Instituto Agronômico José Augusto Trindade (IAJAT) no período de 1985 a 1991, é visível o descaso do DNOCS, que tem contribuído para as invasões e desvio da finalidade do uso dos imóveis.