O PLEONÁSTICO CORTEJO DA NOTORIEDADE

Salve meu querido jornalista Elfuni Zaniol, confrade amigo na Casa do Poeta Rio-grandense, desde os idos da década de 90 do século XX. Agradeço tuas reiteradas citações e interlocuções, as quais têm causado, no mínimo, curiosidade no espírito dos irmãos dessa fauna rara: os aficionados praticantes da poética falada ou escrita. Sou-te grato por tantas reiteradas demonstrações de carinho para comigo e minha obra literária. Sim, é conveniente que deixemos o tempo cumprir o seu fado de transição. Neste momento, para que um dia aspire fama, respeito para com a obra artística ou o sucesso (o que realmente me assusta), prefiro aceitar o desafio de tentar publicar a minha já extensa obra em prosa e verso. Sigo à procura de uma boa casa editora. Sei que adquiri sinceros admiradores nesses mais de 43 anos de militância literária e alguns tem destacado a minha obra e a mim como pessoa, como é o teu caso, o que me honra muito. Porém, em verdade, somente a geração superveniente ao séc. XXI poderá registrar aqueles que chegaram ao patamar de notoriedade pública em nosso maravilhoso idioma luso-brasileiro, neste início de milênio terceiro. Enfim, não tenho pressa quanto ao reconhecimento do nome como poeta inserido numa geração importante como a nossa. O que tiver de ser será: o futuro plasmará pro tempore aqueles que perviverão na literatura, vale dizer, nos escaninhos do sensível, no coração alado do Povo. Por ora, o que tenho de fazer é trabalhar, produzir textos e publicar. Ter em conta e aproveitar do fato de que somos partícipes de uma geração que, graças aos tempos inter(n)éticos, com a rapidez da comunicação virtual atingindo quase todos os recantos do planeta, tudo o que ocorre pode ser visto e revisto, enfim, virado do avesso em qualquer cantinho do globo, através do tio Google e seus dinâmicos asseclas e/ou assessores. Enquanto isso, continuemos a aprimorar esteticamente a codificação da palavra poética em tempos de modernidade líquida, vale dizer, comparecer ao banquete frugal dos tempos da virtualidade, concomitante ao da pós-modernidade literária e estética. Grato, muito obrigado! Eu sou assim mesmo, não creio no pleonástico cortejo da notoriedade pública. Perdoa se te peço cautela quanto a minha obra, porém saibas que teu senso estético a me elogiar dá uma sensação agradável – a do gozo bom da momentânea felicidade. Aquilo que o eventual reconhecimento precoce pode trazer ao espiritual de um vivente "condenado" ao estigma de pensar através do verso, tecendo loas à natureza, aos bichos, aos amigos que fazem a vida mais leve e com algum sentido e aspirando perfumes e necessárias nódoas de seu tempo de amar e viver...

– Do livro A VERTENTE INSENSATA, 2017/18.

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