Mulheres desgraçadas

Dentre as obras literárias que li, muitas mulheres têm um destino desgraçado: Madame Bovary, A Dama das Camélias, Lady Chatterlay, Julieta etc. Duas se sobressaem.

A primeira é Desdêmona, de O Mercador de Veneza, peça na qual Shakespeare nos oferece um profundo estudo da alma humana. Sempre que leio essa peça sinto mal estar. Aparentemente, o grande vilão é Iago,

a personificação do diabo: Orgulhoso, vaidoso, vingativo, ambicioso,maquiavélico, invejoso, calculista e frio; causa-nos asco, como as hienas. Esse asco decorre da identificação, vemo-nos neles. Isso renderia um tratado...

Pouco se diz de Otelo que, para mim, é tão cruel quanto o outro, talvez até mais, afinal, conheceu o amor, o sucesso, o bem estar, ao passo que Iago é uma ruína. Nesse jogo de falhas de caráter, as mulheres pagam o pato: A esposa de Iago morre esfaqueada por ser justa e Desdêmona é sacrificada, um "Isaque azarado": Punida por ser bela e gentil e por ser vista como coisa. O complexo de inferioridade racial de Otelo o faz monstro incapaz de discernir entre quem o ama e o odeia. Desdêmona é um cordeiro sacrificado.

A segunda mulher é Bertoleza, de O Cortiço, de Aloísio Azevedo: Ludibriada, usada, explorada sordidamente sob todos os aspectos. Não tenho dúvida, é a mulher mais desgraçada da Literatura.

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 31/08/2018
Reeditado em 31/08/2018
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