Caminhos da literatura passa pelas Feiras Literárias

O ano chega ao seu final com saldos positivos em termos de poesia, literatura, arte da palavra, enfim. E as Festas Literárias tecem uma valiosa trama que une cidades, países, continentes, línguas, num só objetivo, qual seja o de difundir a nobreza de nossas vivências e invenções de mundos e vidas diversas.
 
Para citar somente algumas, sem nenhuma hierarquia ou ordem cronológica de quando e onde ocorrem, estive na Festa Literária Internacional de Cachoeira, FLICA, em outubro, onde pude desfrutar de uma variedade de exposições, lançamentos etc. Depois, a FLISE, Festa Literária de Santo Estêvão, onde participei de uma mesa de debate com Jovina Souza e Evanilson Alves. Em seguida, a FLIZÉ, Festa Literária de São José do Jacuípe, sob curadoria de Pablo Rios, outro mergulho em poesia e diversas artes. Na FESLAM – Festa Literária de Amargosa, encontros simplesmente maravilhosos com Jovina Souza, Jacquinha Nogueira, Wesley Correia, Paula Amália Anias, Clarissa Macedo, José Inácio Vieira de Melo, Elizeu Paranaguá, Itamar Junior, Acely Freitas. Fechando o circuito nacional, fui à FELISQUIÉ – Festa Literária Internacional do Sertão de Jequié.
 
Não se trata de uma lista de encontros, festas, feiras. É uma conexão de mentes férteis, pessoas comprometidas, produções de primeira linha, que se entrecruzam, costuram a malha de nossa cena contemporânea. Mergulhando um pouco na Feslisquié, tive oportunidades de reencontrar colegas de longas datas, como Ana Sayonara Fagundes e  Zilda Freitas. Das outras paragens, os dois escritores Davi Nunes, com seu livro infantil Bucala, e Jocevaldo Santiago, com a obra poética de estreia, Agô, em uma mesa magnífica, mediada pela professora jequieense Karla Carvalho. Sandro Sussuarana, em passagem também em Jequié, com os livros Versos Sob(re) Mim e O Diferencial da Favela: poesias e contos de quebrada. Ainda da capital, uma palestra brilhante de Carolline Assis, sobre adaptação de livro para cinema, no caso Anésia Cauaçu, de Domingos Ailton. A doce e meiga Rosane Jovelino, em mesa com quem tive o prazer de estar, lançou seu poemário Patuá e encantou a todos com sua fala eloquente sobre o livro e o processo de escrita e publicação. Dividimos os debates com Letícia Araújo, livro Raízes: resgate ancestral, e Cláudio Luiz, com o livro O Anjo, com mediação de Marivone Borges. A ligação intercontinental, ficou por conta do escritor e agitador cultural dos Camarões, Francis Beidi, com tradução simultânea de Glória Terra, que falaram, entre outros assuntos, dos projetos para traduções de obras camaronesas para o português, e brasileiras para o francês, o que permitirá um trânsito de livros e autores(as) entre os dois países, ampliando o leque de possibilidades e dilatando fronteiras entre nossas escritas.
 
Longe de ser um resumo do que ocorreu na Felisquié, esse texto tem a intenção de difundir as muitas faces dessas rotas literárias dentro e fora do Brasil. Inicialmente, um escritor colombiano havia sido sondado e planejava vir a Jequié, porém não se concretizou.
 
Mas ficou a semente, projetos para outras oportunidades. No sentido contrário, da Bahia para a Colômbia, houve uma revoada de poetas. Em agosto, meses antes da Felisquié acontecer, Valdeck Almeida de Jesus, Cacau Novaes, Valdecy Almeida de Jesus, Jovina Souza, Rita Pinheiro e Seliane Cunha estiveram presentes no Parlamento Internacional de Escritores da Colômbia. Em dezembro, Walter Cezar e Ametista Nunes deram o tom da voz poética no Festival Internacional de Poesia, na mesma cidade. E nesse mesmo mês, Valdeck Almeida de Jesus retorna à Colômbia, onde participou do RECUM – Renacer Literário Montes de María, na Universidade de Cartagena, através da Organização Cerro Maco, de San Jacinto, Bolívar, com conversatório e recital poético, junto com Gonzalo Alvarino, Rolando de La Cruz, Neyil Reyes, Diana Marcela Vázquez, Juan Gutiérrez Magallanes, Meribeth García Lora, Alfonso Hambuguer e Robert Lendero. Fechando o calendário, Valdeck Almeida ainda entra na “Ruta de la Poesía”, trabalho da referida Cerro Maco, sob a tutela de Neyil Reyes, e faz recital público na sede da Eclética, uma entidade que conecta poetas, escritores, músicos, atores e fazedores de todo tipo de arte. Essas trocas, sim, permitem a viagem de nossa literatura, brasileira, camaronesa, colombiana, que se dão as mãos, através dos intercâmbios possíveis e inventados.
 
Jequié e cidades baianas chegam aos rincões colombianos, com seu sotaque sertanejo, poética das capoeiras, rimas urbanas de capital e demais quebradas, para não só seguir os caminhos já percorridos ou traçados, mas, também, criar alternativas de circulação, expansão e comunicação, seja pela mescla do português com o espanhol, seja com leituras em ambas as línguas, fazendo alquimias poético-culturais fortalecidas pela irmandade de nossos povos.

Publicado originalmente na Revista da Felisquié - Festa Literária Internacional do Sertão de Jequié, edição especial de 31.12.2019
Valdeck Almeida de Jesus
Enviado por Valdeck Almeida de Jesus em 14/01/2020
Reeditado em 14/01/2020
Código do texto: T6841567
Classificação de conteúdo: seguro