O Livro do Rei Davi

O Livro do Rei Davi

(Prefácio)

Paulo Camelo

Em 1947, um poeta, na sua humildade, pensando não ter mais o que escrever, o que louvar, falava em se aposentar dos afazeres da pena, das letras, das canções. E eu, naquele ano, estava ainda sendo gerado. Se sua intenção se consumasse, como poderia eu tê-lo conhecido e ter tomado ciência de toda a poesia ali condensada e lapidada? E como ficaria o mundo, sem a poesia que seria gerada depois como o foi, sei eu)? Quem teria a idéia de apresentar “Formas Vivas do Meu Pensamento”? E a quem seria entregue o Prêmio Literário Cidade do Recife em 1990?

Embora eu houvesse conhecido Adauto Barreto em fins da década de 1970, só em 1989 tornamo-nos mais íntimos, quanto eu tive a honra de ajudar na composição eletrônica de seu livro “Andar... Andar... Andar...”, uma narrativa de suas andanças pelo Velho Mundo, já para ele tão conhecido através de livros de História e Geografia devorados e degustados ao longo daqueles 80 anos vividos, e bem vividos.

Conquanto só nos víssemos em ambiente de trabalho, tornamo-nos amigos, e começamos a trocar (trocar?) idéias, e eu aprendia com sua experiência, com o seu ecletismo literário de sonetista, memorialista, cordelista e outros “ista” com que a Literatura o prendou.

Pensava eu que conhecia sonetos, quando fui apresentado a 62 peças originais, em redondilha maior e sem rima. Anômalos? Qual o quê? Uma verdadeira obra de arte literária, que não poderia ter outro nome que “Formas Vivas do Meu Pensamento”. E mais uma vez tive a honra de participar na composição de um livro seu.

Mas o ciclo da vida, no seu moto-contínuo, tirou de nossa presença o poeta, sonetista, cordelista, memorialista Adauto Barreto. Porém ainda restou-nos sua poesia.

E, sem mais esperar, sou apresentado ao “Livro do Rei Davi”, 4 dezenas de sonetos inspirados nos primeiros Salmos daquele Rei, pertencentes às Sagradas Escrituras. E a mim se revelou mais um lado, mais um ângulo de visão de Adauto Barreto: o religioso.

Lindos na sua apresentação, fiéis à forma poética escolhida, fiéis também ao conteúdo bíblico, os sonetos do “Livro do Rei Davi” mostram-nos que Adauto Barreto ainda vive entre nós. Por lógico, não na forma material de animal respirante e andante. Mas na imaterialidade de sua poesia. E, em fidelidade aos sonetos tão belamente elaborados com base nos Salmos de Davi, tomei eu a ousadia de homenageá-lo, transcrevendo, em forma de soneto, o último Salmo, em louvor ao Senhor Deus.

O Salmo 150

Minha vida se enche de alegria

e feliz louvarei o meu Senhor,

que mostrou seu poder no firmamento

e encheu a minh’alma de fervor.

E eu convido os irmãos de todo o orbe

a também O louvar pelas façanhas;

toquem harpas, trombetas, violões,

façam hinos, entoem mil canções,

com orquestra de cordas e de flautas,

violinos, tambores retumbantes,

e, com danças, expressem seu louvor

ao Senhor nosso Deus, que nos deu vida

e, de sobra, legou-nos poesia.

Louvarei para sempre o meu Senhor!

07/02/1995