Um disco para cada ano dos anos 90

Em uma noite insone qualquer, meu cérebro resolveu que não iria dormir mas sim ficar pensando em como seria a lista de um disco para cada ano dos anos 90, essa década mágica da cultura popular, em que a tecnologia avançava a passos largos, mas ainda não vivíamos na Era da informação. E também uma década de explosão de diferentes gêneros musicais com um equilibrio de forças no domínio da Industria Musical no ocidente poucas vezes vista na história, talvez nunca. Seja no Brasil ou lá fora, os anos 90 foram tempos de pluralidade, dinamismo e criatividade. Esta lista é baseada principalmente em gosto pessoal, aí vai:

1990: Megadeth - Rust in Peace

Vindo na onda da hegemonia do Heavy Metal e do Trash Metal do final dos anos 80, Rust in Peace é o grande clássico do Megadeth e particularmente meu disco de Metal favorito. Entre 86 e 90 da pra dizer que foram lançados os grandes clássicos do Trash, mas foi no início dos anos 90 que a sonoridade começou a deixar de ser tão escrachada, rápida e violenta, pra algo mais heavy e "sofisticado", e Rust in Peace, assim como o Black Album do Metallica um ano depois (este bem mais, é claro), contribuiram para isso. Para bem ou para o mal, mudaram a história do gênero.

1991: Nirvana: Nevermind

91 é provavelmente um dos grandes anos da história da música, pela quantidade de grandes discos que foram lançados este ano. Pra mim, por mais que mtos críticos de músicas clamem Ten do Pearl Jam ou Achtung Baby do U2 com uma maior "qualidade", nada supera Nevermind. O grande trabalho do Nirvana veio pra não apenar ressucitar o espírito do Rock que já estava ficando imerso na farofisse e breguisse dos anos 80 e das megabandas, mas para estourar a pulsante cultura underground do Rock Alternativo norte-americano. Um dos últimos momentos em que o puro Rock'n'Roll foi dominante na cultura jovem ocidental.

1992: Dr. Dré: The Chronic

Eis o álbum que mudou a história do hip hop, e talvez até tenha sido o primeiro grande expoente do gênero que viria a dominar a indústria musical (até então dominada pelo Rock) nas próximas décadas. The Chronic é o disco definitivo do caldeirão artístico que era o Gangsta Rap e a cultura negra norte-americana do início dos anos 90, principalmente Los Angeles. Com elementos e samples de Funk e Soul. este álbum trouxe o G-Funk (Gangsta Funk) para a ampla rede musical do hip hop e consagrou talvez o maior produtor da históra do Rap, o próprio Dr Dré. A produção deste disco é tão limpa e inovadora que moldou os grandes trabalhos na crescente música pop norte-americana deste então, e de lá até hj, o pop, o R&B e o Rap engoliram o Rock e tornaram-se soberanos na indústria e cultura músical ocidental, um marco.

1993: Ice Cube: The Predator

Rodney King era um taxista negro violentamente espancado pela polícia pela acusação de dirigir em alta velocidade. Os policiais? Absolvidos em julgamento de Abril de 92. O caso culminou em diversas revoltas populares em Los Angeles durante todo o ano. Ice Cube tinha como projeto lançar mais um disco na vibe gangsta dos seus grandes trabalhos anteriores (Death Certificate-91 e Ameri'kkk'a's Most Wanted-90), mas estava em uma atmosfera de tanta indignação, violencia e injustiça q condensou toda está energia nas suas músicas e lançou este clássico, pra mim o maior disco de Rap da história. Agressivo, direto, visceral, sem deixar de lado o exímio direito de ser Funk no meio disso tudo, este álbum é perfeitamente um grito das ruas. Uma das últimas rajadas do Rap como força política nos EUA.

Menções Honrosas: L7-Bricks are heavy/Smashing Pumpkins-Siamese Dream

1994: Hole: Live Through This

Eis o maior ano da história da música. Da pra citar no mínimo 10 clássicos lançados neste ano, de vários lugares diferentes do mundo. Eu considero o primeiro ano em que a indústria músical ocidental deixa de ter um gênero dominante e passa a ter vários convivendo este espaço de disputa, mas isso é papo pra outra noite. A explosão musical de 94 cabe pelo menos umas 5 menções honrosas, mas tive que escolher este que é pra mim o melhor disco de toda a década de 90. Courtney Love era mto mais que apenas a "mulher do Kurt Cobain". Este disco tem uma atmosfera dark única, além de um peso e letras introspectivas que passam mto bem a atmosfera conturbada daqueles tempos. O próprio nome do disco já é poesia, não tinha como ser outro.

Menções Honrosas: Notorious B.I.G-Ready to Die/Green Day-Dookie/Portishead-Dummy/Chico Science & Nação Zumbi-Da Lama ao Caos/TLC-Pretty Sexy Cool

1995: Smashing Pumpkins - Mellon Collie and Infinite Sadness

Outro ano que tem muitos discos para serem ouvidos e apreciados, mas pra mim o grande trabalho dos Smashing Pumpkins é grande expoente deste ano. Depois de lançar um grande disco no meio da onda alternativa que dominava as rádios em 93, Billy Corgan rapou a cabeça, os integrantes adotaram todo um visual mais dark, gravaram umas 30 músicas e lançaram um álbum duplo: nada mal pra um grupo de músicos que mal se falava em meados de 95. Este disco é caótico, bem arranjado, com músicas por hora agressivas, por hora mais introspectivas, por hora melancólicas: uma grande viagem na depressão e loucura que era a mente de Billy Corgan na época, uma obra-prima.

Menções Honrosas: Oasis-Morning Glory/Planet Hemp-Usuário/Rancid-And out comes the wolves/2pac-Me Against The Wolrd

1996: Daniela Mercury - Feijão com Arroz

A música baiana já dominava o cenário brasileiro quando Daniela Mercury lançou o grande trabalho de sua carreira em 96. E dominava muito por causa do trabalho da própria Daniela, com seu clássico de 92 (O Canta da Cidade). Muitos dos elementos que a consagraram 4 anos antes estão presentes neste disco também, como uma temática que envolve principalmente elementos da cultura popular afro-brasileira da Bahia e ritmos dançantes, coloridos e alegres, com uma instrumentação percursiva típica da Axé Music baiana. Entretanto, o que diferencia este álbum dos seus trabalhos anteriores (que foram criticados por supostamente serem repetitivos e tentarem "imitar" O Canto da Cidade) é justamente a ousadia de Daniela de tentar músicas com sonoridades diferentes com a ambição de se tornar mais pop e acessível. Músicas como "Nobre Vagabundo" e "A Primeira Vista" tem uma levada mais suave, doce e extremamente melódica. A produção bem menos crua que a de seus primeiros trabalhos, junto com a estética provocadora da capa do álbum e o auge performático de Daniela ajudam a fazer deste disco o grande trabalho da Axé Music brasileira, numa época em que Ivete Sangalo começava a despontar na Banda Eva. Pra ouvir dançando do início ao fim, de preferencia, no carnaval da Bahia.

1997: Prodigy - The Fat of The Land

A rica cena house e clubber da Inglaterra prosperava nos anos 90, e depois dos Chemical Brothers aparecer inovando a música eletronica dois anos antes com Exit Planet Dust, bastou ao Prodigy aperfeiçoar e melhorar o gênero que ficaria conhecido como Big Beat (ou eletropunk) com o seu grande clássico de 97. Apesar de não ter uma guitarra, baixo ou bateria, este álbum é punk pra caraleo. Além da velocidade e agressividade, este álbum é mto intenso e com muita atitude do inicio ao fim, com ágeis versos de hip hop, tensas batidas e a sensação constante de algo está prestes a acontecer, uma atmosfera de ansiedade e adrenalina tremenda que definem mto bem o estilo. Este é um 10.

Menções Honrosas: Radiohead-Ok Compute/Pennywise-Full Circle/Mariah Carey-Butterfly

1998: Racionais MC's - Sobrevivendo ao Inferno

Os anos 90 são o período de "infancia" do Rap brasileiro, em que o gênero ainda estava longe de ser dominante na industria musical brasileira, e tinha um caráter "puro", na maioria das vezes independente, e mais próximo as raízes do gênero. Já dominante na cena cultural periférica, principalmente em SP, começavam a se formar os primeiros ídolos do gênero, com uma temática e uma estética bastante atreladas a vida cotidiana na periferia brasileira. Dentro deste cenário, surge os Racionais MC's, e o seu grande clássico: Sobrevivendo ao Inferno. Um soco no estômago do inicio ao fim, este disco tem todos os elementos que um grande álbum de Rap precisa: produção e mixagem satisfatórias, letras bem formuladas, e batidas por vezes dançantes, por vezes tensas, por vezes angustiantes. Músicas como "Capítulo 4, Versículo 3" e "To ouvindo alguém me chamar" se tornaram clássicos do grupo e sucessos em todo o Brasil, conseguindo um alcance que o Rap brasileiro jamais tinha conseguido. Foi um abre-alas, e chegou chutando a porta, não apenas o disco do ano, mas um dos maiores discos da história do gênero.

1999: Blink 182 - Enema of The State

Se eu tivesse escrevendo isso daqui em um site que muita gente lê, este seria o item pra todo mundo parar de ler e dizer "esse cara não sabe de nada". Apesar da não mto boa reputação do pop punk entre os ~críticos~, o grande disco do Blink 182 tem sim mta qualidade e é mto divertido de se ouvir. Nem Dookie conseguiu definir tão bem o pop punk como este álbum, com as tiradas de comédia, o carisma american pie e as linhas de guitarra prontas pras rádios, um 10.

Menção Honrosa: Misfits - Famous Monsters

Diego Paim
Enviado por Diego Paim em 15/07/2015
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