BENJAMIN X ADORNO: DUELO PRÓ ESTÉTICA

No decorrer dos anos 1930, dois gigantes da escola de Frankfurt, Walter Benjamin e Theodor Adorno, sustentaram um instigante debate acerca da obra de arte na época de suas técnicas de reprodução. Era o começo das cópias em séries, das gravações musicais em acetato, etc. (e suas consequentes execuções domésticas, com o uso de vitrolas e gramofones).

Benjamin, enamorado da então adolescente Revolução, que ocorria logo ali, depois dos Urais, e que já espalhava influência por outras plagas, via tudo com otimismo entusiasmado! Entendia que os novos métodos e técnicas propiciariam às massas o contato direto com as obras dos grandes artistas, permitindo-lhes o direito à fruição, algo antes reservado apenas às elites.

Adorno, que escrevia seus textos como se desenhasse uma partitura, utilizando-se muito da própria terminologia musical, temia a massificação e não concordava em que a massa se beneficiaria da arte reproduzida em larga escala. Para ele, os novos métodos e técnicas banalizariam a arte, transformando-a em mercadoria, e os possuidores dessas réplicas em meros consumidores.

Walter Benjamin, que em 1934 participou de uma conferência, onde expôs sua tese e manifestou seu entusiasmo, morreu talvez com sua ilusão. Em 1941, cometeu suicídio a poucos quilômetros da fronteira que o salvaria dos nazistas, por acreditar que não lograria transpô-la antes que o pegassem. Theodor Adorno respondeu a Benjamin, em 1938, com um texto em que expunha suas preocupações e profetizava a banalização da arte por meio das tais técnicas, dizendo que a música estava a vulgarizar-se e, tanto ela quanto as artes plásticas, perdiam sua "Áura" ao serem submetidas a cópias ou removidas de seus locais de exibição. Há toda uma explicação sobre o conceito de Áura, que prometo esclarecer aqui, em oportunidade futura.

Mas por que escrevo isto? Por causa da música que tocava lá na academia, enquanto eu treinava. Pois não é que os caras botaram pra tocar o tal sertanejo universitário! Eu tinha dez aparelhos para fazer, que demandariam uma hora e vinte, e fui embora ao final do sétimo. Não tenho estômago para tamanho mau gosto! Adorno estava certo. E teve que testemunhar a ocorrência de muitas de suas previsões. Homem de mídia que foi, além de escrever muito e em diferentes espaços, atuou no rádio, onde falava de música e difundia seu pensamento crítico. Morreu em 1966. Se ressuscitasse hoje, estou certo de que morreria de novo, de apoplexia, quando ouvisse o tal sertanojo.

José Luiz Barbosa de Oliveira
Enviado por José Luiz Barbosa de Oliveira em 01/07/2018
Reeditado em 16/11/2019
Código do texto: T6378656
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