Paulo Simões, o parceiro de Almir Sater

Uma dose de veneno para os peçonhentos

Quando a liberdade chama, com ou sem documentos, apresente-se, imediatamente ao portão de embarque; pois a felicidade não espera!

Cultura e nacionalidade é o DNA de um povo; aliás, bem mais de um povo: é o DNA de uma nação. Por que?

Ora, quem são dotados de tais atributos, disseminam o conhecimento geográfico e histórico dos lugares por onde passou, de maneira simples, didática, pedagógica, resultando em um bau cultural riquíssimo.

Por sorte, sedimentados e decantados na pura arte brasileira, de quando em quando aparece, vem à tona um ou outro, restaurando o editado no passado pelas lendas da arte.

Paulo Simões é uma dessas raras preciosidades que as ostras cospem, lançado-a nas profundezas abissais dos oceanos, tornando difícil o resgate.

Mas para se chegar ao ápice do aprendizado, é necessário sensatez e humildade; atributos que não faltam nesse trupe de iniciados, porém tarimbados em música.

E a versão folk violado aclara o veneno, o bom veneno, que o trio ingeriu. Primorosas, melíferas doses de veneno!

Fora o contado pelo trio, Paulo Simões tem histórias várias; afinal, além de músico e compositor, era empoderado experimentalista viajante. E uma das histórias que vale destaque, conta que Ele e mais alguns amigos de mesma linhagem e pensamento, viajaram no trem da morte para Santa Cruz de la Sierra, Bolívia.

Cansados e exaustos de tantos solavancos e trepidações dos vagões, um dos viajantes (salvo engano, Turcão; um dos fundadores do Tarancon. Grupo de música Latino americana) entregou-se aos devaneios e entre os "flashes" imagéticos, começou a colocar no papel a viagem que nunca terminava.

Escreveu uma linha, olhou a paisagem pela janela carcomida pela ferrugem do tempo. Tomou fôlego, irrigou os neurônios, compôs um verso, rabiscou outro mais, de modo que passado certo tempo, não tinha mais inspiração para a escrita. E entre fugas e tentativas, deu por encerrado.

Ao lado, com a mente livre e leve, Paulo também "viajava" na proposta do amigo; e ao notar o seu desinteresse pela letra, pegou o pedaço de papel e continuou. Em pouco tempo, estava composta a canção que alavancaria a carreira, estava pronta a letra que alargaria as asas de Almir Sater.

E ambos voaram. Amigavelmente, voaram numa escrupulosa, feliz e libertária simbiose, além dos galhos das copas das árvores fronteiriças.

A vida imita o conceito químico, o qual afirma que as moléculas tendem aumentar o volume e expandir em um recipiente aquecido; sobretudo, porque os amigos pantaneiros não queriam saber de viagens que não transformassem "sofrimento", em engradecimento cultural e melhoria intelectual.

Reunir com os amigos para contar causos e tocar viola para respirar a vida, era preciso; não menos viajar: foi o que Paulo e Almir fizeram; e juntaram mais violeiros e boiadeiros, cuja finalidade foi cavalgar alguns meses pelo pantanal matogrossense.

Em cada parada, apropriavam-se da cultura local; ao ouvir e contar histórias e estórias ao redor de fogueiras, íam resgatando a tradição pantaneira. Material para compôr as letras das músicas é o que não faltava.

Por sinal, essa viagem foi tão marcante, que não resumiu em apenas material de pesquisa para Eles, mas também para o novelista Jayme Monjardim; que vendo o potencial cultural e humano da travessia, sem pestanejar, enredou inúmeros capítulos da novela "Pantanal" em cima da "Comitiva Esperança", como foi denominada a viagem dos amigos pantaneiros.

P.S.: Se escrevi sobre Paulo Simões, Almir e outros, tenho por obrigação e dever, parabenizar o prócer músico, o qual não conhecia. Valho-me do clichê "nunca é tarde"; e deveras, aos que respiram, nunca é tarde.

Valeu Paulo Ormond! Mais um artista alegre, festivo, audível, acalentando meus singelos, porém aguçados, ouvidos.

Enalteço-os, sobretudo, sossegar a alma é necessário; pois os tímpanos que conhecem os excelentes, dispensam os bons.

Sorte, sucesso e saúde, meu caro!

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 23/04/2021
Reeditado em 25/04/2021
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